24 de mai. de 2012

BRASIL - MARANHÃO: Atriz de Hollywood no bloqueio do Greenpeace

BRASIL - MARANHÃO - Ecologia
Atriz de Hollywood no bloqueio do Greenpeace
Há mais de uma semana, ativistas do Greenpeace, inclusive a atriz Q'Orianka Kilcher (Pocahontas) se revezam na corrente da âncora do navio Clipper Hope e impedem que ele se movimente para receber um carregamento de 31 mil toneladas de ferro gusa no Porto de Itaqui, em São Luis, no Maranhão. Segundo o Greenpeace essa denúncia expõe três crimes graves relacionados à produção de ferro gusa no Brasil: trabalho escravo, desmatamento e invasão de terras indígenas. O carvão vindo da Amazônia serve para alimentar as siderúrgicas que produzem ferro gusa.

Foto: Greenpeace/Marizilda Cruppe/EVE

A atriz americana Q'orianka Kilcher ocupa a corrente da âncora do cargueiro Clipper Hope ao lado da ativista brasileira Leonor Cristina Silva Souza, de 27 anos.

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Greenpeace Brasil, SCPR, Terra, G1, Diário de Pernambuco

A atriz norte-americana Q’orianka Kilcher, 22 anos, juntando-se a outros ativistas, escalou a âncora do cargueiro, nesta segunda-feira, 21, quando completava uma semana, que o Greenpeace bloqueava o navio Clipper Hope, fundeado próximo ao porto de Itaqui, na baía de São Marcos, a 20 quilômetros da costa de São Luís, para evitar o carregamento de 31,5 mil toneladas de ferro gusa proveniente da Amazônia.

Filha de índio peruano quéchua e mãe suíca, a atriz de 22 anos ganhou fama após encarnar a personagem Pocahontas no filme “O Novo Mundo” (2005). Mas sua atuação vai além dos estúdios de Hollywood. Q’orianka também é conhecida por seu ativismo ambiental e pelos Direitos Humanos, especialmente pelos direitos das populações indígenas.

“Eu acabei de vir de uma viagem à Amazônia, na região onde o ferro gusa é produzido. Vi de perto como essa produção está colocando em risco alguns povos indígenas, inclusive grupos isolados”, afirmou Q’orianka. “Precisamos defender esses povos. Eles são peça-chave na proteção das últimas reservas florestais no mundo. Preservá-los é garantir um futuro para nós mesmos”.

Q’orianka ficou comovida e resolveu integrar-se ao grupo, quando tomou conhecimento da participação, no perigoso bloqueio, de duas jovens ativistas brasileiras.

“Estou aqui, presa a essa âncora, porque no mundo todo, jovens como nós vamos herdar os problemas que as gerações passadas deixaram para trás”, disse. “O trabalho escravo e a extração ilegal de madeira, que a gente vê em livros de história, infelizmente ainda são uma realidade no Brasil”.

Foto: Greenpeace/Rodrigo Paiva

Q’orianka escalando a corrente da âncora do cargueiro Clipper Hopper, fundeado próximo ao porto ao porto de Itaqui, no Maranhão

Q’orianka escalou a corrente da âncora do cargueiro Clipper Hopper por volta das 9h30, acompanhada de voluntários do Greenpeace, tripulantes do navio Rainbow Warrior que, desde o dia 14, se mantêm pendurados noite e dia para evitar que o cargueiro atraque no porto de Itaqui. O carregamento pertence à Viena Siderúrgica, uma das empresas apontadas pelo Greenpeace como envolvidas em irregularidades na cadeia de produção do ferro gusa.

“Q’orianka está dando um exemplo de que a defesa da Amazônia ultrapassa nossas fronteiras”, disse Paulo Adario, diretor da campanha Amazônia, a bordo do Rainbow Warrior. “Ela está ajudando o Greenpeace a demonstrar que, apesar da imagem positiva que nosso país vem construindo nos últimos anos, ao reduzir o desmatamento da Amazônia, muita coisa ainda precisa ser feita”, acrescentou. “Isso inclui o veto total, pela presidente Dilma, do novo código florestal ruralista aprovado pelo Congresso”.

A partir de uma pesquisa de dois anos, o Greenpeace identificou uma série de desrespeitos à legislação brasileira na produção de carvão vegetal usado pela indústria de ferro gusa na Amazônia. Entre os sérios problemas apontados pela organização ambientalista estão o uso, por carvoarias, de trabalhadores em situação análoga à escravidão e extração de madeira ilegal, inclusive dentro de Terras Indígenas e Unidades de Conservação. Estas denúncias foram compiladas no relatório “Carvoaria Amazônia”, publicado semana passada pela organização.

Foto: Ismar Ingber/Tyba/Greenpeace/

Carvoaria localizada ao lado da Rebio (Reserva Biológica) de Gurupi, no município de Centro Novo do Maranhão. De acordo com investigação do Greenpeace, as carvoarias da região produzem ferro gusa a partir de madeira extraída ilegalmente da reserva.

Principal matéria-prima do aço, o minério de ferro se transforma em ferro gusa dentro de fornos alimentados por carvão vegetal. Parte deste carvão é proveniente de extração ilegal de madeira. O ferro gusa brasileiro é exportado, principalmente, para os Estados Unidos. Lá, ele é usado na produção de aço para, entre outros fins, a fabricação de veículos por grandes montadoras.

Mas que só uma ação de protesto, o Greenpeace entregou, no dia 16, uma denúncia ao Ministério Público Federal do Maranhão sobre as ilegalidades encontradas na cadeia de produção do ferro gusa no Estado. O documento também será encaminhada ao MMA (Ministério de Meio Ambiente), MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), além da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados.

“Algumas empresas da região onde se concentram as denúncias já respondem a uma ação civil pública, porque o carvão que utilizam não têm certificado de origem”, disse o procurador da República Alexandre Soares, nesta tarde. “Esse trabalho (do Greenpeace) permite aprofundar a investigação, em que teremos de responder qual é a origem do carvão e o nome das pessoas envolvidas.”


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