28 de nov. de 2009

ESCANDALO: Lula tentou molestou o “menino do MEP”?

ESCANDALO
Lula tentou molestou o “menino do MEP”?
O jornalista César Benjamin, fundador do PT, do qual se desfiliou em 1995 e candidato a vice-presidente na chapa liderada pela senadora Heloísa Helena, do PSOL, de onde também já se desfilou, diz , insatisfeito com a abordagem do filme “Lula, Filho do Brasil” que o presidente lhe contou, diante de testemunhas, que quando esteve preso, assediou sexualmente um menino

Ilustração de Toinho de Passira sobre o cartaz de "Lula, filho do Brasil"

O presidente fez com o país aquilo que queria fazer com o o “menino do MEP”

Fontes: Folha de São Paulo, DCI, Blog Democratas, Prosa&Politica

São Paulo, 1994. Eu estava na casa que servia para a produção dos programas de televisão da campanha de Lula. Com o Plano Real, Fernando Henrique passara à frente, dificultando e confundindo a nossa campanha.

Nesse contexto, deixei trabalho e família no Rio e me instalei na produtora de TV, dormindo em um sofá, para tentar ajudar. Lá pelas tantas, recebi um presente de grego: um grupo de apoiadores trouxe dos Estados Unidos um renomado marqueteiro, cujo nome esqueci. Lula gravava os programas, mais ou menos, duas vezes por semana, de modo que convivi com o americano durante alguns dias sem que ele houvesse ainda visto o candidato.

Dizia-me da importância do primeiro encontro, em que tentaria formatar a psicologia de Lula, saber o que lhe passava na alma, quem era ele, conhecer suas opiniões sobre o Brasil e o momento da campanha, para então propor uma estratégia. Para mim, nada disso fazia sentido, mas eu não queria tratá-lo mal. O primeiro encontro foi no refeitório, durante um almoço.

Na mesa, estávamos eu, o americano ao meu lado, Lula e o publicitário Paulo de Tarso em frente e, nas cabeceiras, Espinoza (segurança de Lula) e outro publicitário brasileiro que trabalhava conosco, cujo nome também esqueci. Lula puxou conversa:

"Você esteve preso, não é Cesinha?" "Estive." "Quanto tempo?" "Alguns anos...", desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: "Eu não aguentaria. Não vivo sem boceta".

Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de "menino do MEP", em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do "menino", que frustrara a investida com cotoveladas e socos.

Foi um dos momentos mais kafkianos que vivi. Enquanto ouvia a narrativa do nosso candidato, eu relembrava as vezes em que poderia ter sido, digamos assim, o "menino do MEP" nas mãos de criminosos comuns considerados perigosos, condenados a penas longas, que, não obstante essas condições, sempre me respeitaram.

O marqueteiro americano me cutucava, impaciente, para que eu traduzisse o que Lula falava, dada a importância do primeiro encontro. Eu não sabia o que fazer. Não podia lhe dizer o que estava ouvindo. Depois do almoço, desconversei: Lula só havia dito generalidades sem importância. O americano achou que eu estava boicotando o seu trabalho. Ficou bravo e, felizmente, desapareceu.

...........

Eu nunca soube quem é o "menino do MEP". Suponho que esteja vivo, pois a organização era formada por gente com o meu perfil. Nossa sobrevida, em geral, é bem maior do que a dos pobres e pretos.

O homem que me disse que o atacou é hoje presidente da República. É conciliador e, dizem, faz um bom governo. Ganhou projeção internacional. Afastei-me dele depois daquela conversa na produtora de televisão, mas desejo-lhe sorte, pelo bem do nosso país. Espero que tenha melhorado com o passar dos anos.

Mesmo assim, não pretendo assistir a "O Filho do Brasil", que exala o mau cheiro das mistificações. Li nos jornais que o filme mostra cenas dos 30 dias em que Lula esteve detido e lembrei das passagens que registrei neste texto, que está além da política. Não pretende acusar, rotular ou julgar, mas refletir sobre a complexidade da condição humana, justamente o que um filme assim, a serviço do culto à personalidade, tenta esconder.


*Transcrevemos apenas trecho do artigo que pode ser visto completo na Folha de São Paulo

CÉSAR BENJAMIN, 55, militou no movimento estudantil secundarista em 1968 e passou para a clandestinidade depois da decretação do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro desse ano, juntando-se à resistência armada ao regime militar. Foi preso em meados de 1971, com 17 anos, e expulso do país no final de 1976. Retornou em 1978. Ajudou a fundar o PT, do qual se desfiliou em 1995.

Em 2006 foi candidato a vice-presidente na chapa liderada pela senadora Heloísa Helena, do PSOL, do qual também se desfiliou.

Trabalhou na Fundação Getulio Vargas, na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na Prefeitura do Rio de Janeiro e na Editora Nova Fronteira. É editor da Editora Contraponto e colunista da Folha.

O assessor da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse que o governo não irá se pronunciar sobre o artigo assinado por César Benjamin, por se tratar de uma inverdade. “Não queremos comentar, não daremos a mínima importância”.

Ao ser questionado se o presidente pretende processar o autor do artigo, Carvalho respondeu que não. “Quando é coisa séria a gente reage, não vamos nos sujar com isso”. Para o assessor, as afirmações do texto são “uma coisa que só pode ser explicada pela psicopatia”.

Carvalho relatou que Lula ficou triste com o texto e classificou como loucura as afirmações feitas por César Benjamin.

COMENTANDO: Pela versão, César Benjamim identificou-se com a vítima, “o menino do MEP”, por ter ainda menor, circulado por presídios, sempre temeroso que algo assim lhe acontecesse. Resolveu tornar pública a versão, como uma reação diante da exagerada santidade do personagem retratado no filme propaganda, “Lula, filho do Brasil”.

Como se vê o filme, que foi feito para causar emoções positivas sobre o presidente Lula, errou na mão por exagero, e causa também indignação, de quem o conheceu mais de perto, mais real, desglamourizado.

Diante da publicação feita por um colunista de um dos maiores jornais do país, o planalto reage de forma estranha: mandou Gilberto Carvalho, o secretário de Lula, que nunca dá entrevistas, falar sobre o assunto, em nome do presidente. Gilberto disse que isso nunca aconteceu, mas adiantou que o presidente não vai processar ninguém, vai deixar por isso mesmo, nem o jornal nem o colunista serão chamados as barras dos tribunais, mesmo que tenham “caluniado” o presidente de forma tão avassaladora.

Serenamente acreditamos que Lula contou que tinha feito, sem que o fato tenha acontecido, mentiu simplesmente, um dos seus esportes favoritos

Uma coisa, porém, deixou-nos com uma pulga atrás da orelha:

Lula foi detido pela polícia no dia 19 de abril de 1980 e libertado no dia 20 de maio. Nesses 31 dias chegou a dividir a cela com até 18 pessoas e alguns deles falaram ao Estadão, e todos defenderam o presidente, alguns deles, hoje adversários politicos de Lula, como o atual presidente do PSTU, José Maria de Almeida - na época militante da Convergência Socialista, com 23 anos, comentou: "Tenho motivos para atacar o Lula. O seu governo é uma tragédia para a classe trabalhadora. Mas isso que está escrito não aconteceu.”

Mas o vice-presidente da União Geral dos Trabalhadores, Enilson Simões de Moura, o Alemão, que também esteve preso na mesma época. “Após classificar o comentário de Benjamin como "absurdo", ele disse, contrariando José Maria, que havia alguém do MEP no grupo. "O que eu lembro é que, brincando com uma bola de basquete, Lula acertou sem querer a cara do rapaz do MEP", contou. Não lembrou, no entanto, o nome do rapaz.”

Isso é instigante, “o menino do MEP” existe, e pode aparecer e falar... A Veja deste final de semana sugere que o nome do rapaz é João Batista dos Santos.


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