21 de jan. de 2012

Manchete do New York Times sobre Eike: "Magnata vê a si próprio como inspiração"

BRASIL
Manchete do New York Times sobre Eike:

"MAGNATA VÊ A SI PRÓPRIO COMO INSPIRAÇÃO"

“Agora, aos 55 anos, Eike não só é considerado o homem mais rico da América do Sul, com uma fortuna estimada pela Forbes em US$ 30 bilhões, mas também é uma das figuras mais famosas do Brasil, um empreendedor em série com energia ilimitada para vender a si mesmo e a seu país”.

Foto: Gilvan Barreto/The New York Times

Nós não precisamos só ter os melhores jogadores de futebol do mundo. Por que não ter o melhor empresário do mundo? " - Disse Eike Batista.

Alexei Barrionuevo
Fontes:The New York Times, O Globo

Eike Batista se mexe na cadeira, reagindo à lembrança de seus tempos de anonimato. "Os brasileiros pensam que eu apareci no ano 2000 a partir do nada", diz Eike, o homem mais rico do Brasil.

Poucos brasileiros tinham ouvido falar sobre suas aventuras na Amazônia aos 20 anos de idade, contou ele, quando abandonou a faculdade na Alemanha Ocidental para negociar ouro e apostar os ganhos na construção de uma máquina barulhenta na floresta para processar o metal precioso, sem mineradores.

Luma de Oliveira, ex-mulher, rainha de bateria nos anos 90
Ao contrário, Eike só apareceu nas revistas de fofocas na década de 1990 depois que se casou com a modelo e dançarina de carnaval Luma de Oliveira. Naquela época, seu pai, Eliezer Batista, um ex-funcionário do governo, disse-lhe para manter a discrição, enquanto sua fortuna em crescimento tornava-o um alvo de sequestradores.

Eike Batista não fez nada além de se esconder. Agora, aos 55 anos, ele não só é considerado o homem mais rico da América do Sul, com uma fortuna estimada pela Forbes em US$ 30 bilhões, mas também é uma das figuras mais famosas do Brasil, um empreendedor em série com energia ilimitada para vender a si mesmo e a seu país.

"O meu cavalo de corrida é o Brasil", disse ele do 22º andar de seu escritório no quartel-general de sua empresa, a EBX, que tem vista para a Baía de Guanabara. "E o Brasil tem hoje a riqueza que a América tinha na virada do século."

Enquanto a presidente Dilma Rousseff o considera um exemplo de executivo do setor privado, empresários rivais afirmam que a principal habilidade dele é como vendedor, ao persuadir investidores a apostar cerca de US$ 24 bilhões em empresas iniciantes de mineração, petróleo, logística, geração de energia e construção naval.

"Eles acham que ele vende muitos sonhos e não realidade suficiente", disse Olavo Monteiro de Carvalho, ex-sócio em uma mina de ouro da Amazônia.

No início deste ano, Eike Batista tem a chance de afastar esse preconceito, quando sua empresa petrolífera, a OGX, deverá começar a produzir petróleo a partir da descoberta de 10 bilhões de barris no mar.

A empresa de Eike de logística também planeja abrir um “superporto” de US$ 2 bilhões no Rio, no ano que vem, e ele diz que vai ser a versão latino-americana de Rotterdam. Situado em território equivalente a uma Manhattan e meia, o porto vai ter capacidade para transportar cerca de 350 milhões de toneladas de importações e exportações por ano, incluindo petróleo e minério de ferro de empresas de Eike.

Foto: Marcelo Correa/Veja

Eike a Mercedes McLaren de US$ 1 milhão na sala de sua mansão no Jardim Botânico

Os brasileiros continuam divididos sobre o que achar do homem simplesmente conhecido como Eike. Alguns o veem como um megalomaníaco exibicionista e debocham de suas fotos tiradas ao lado de seu Mercedes McLaren de US$ 1 milhão.

Eike Batista não se arrepende da imagem que criou e diz que está tentando mudar a cultura conservadora sobre riqueza que seu pai viveu, e ensinar aos brasileiros a olhar para seus empresários da forma como os americanos fazem.

"Eu quero ajudar toda uma geração de brasileiros a se orgulhar", diz. "Eu sou rico, sim. Eu mesmo construí isso. Não roubei. Simplesmente mostro isso".

Ultimamente, Eike está totalmente sem amarras. Ele viaja pelo mundo em seu jato Gulfstream de US$ 61 milhões, muitas vezes dando palestras, e interage com seus mais de 539.600 seguidores no Twitter, a quem oferece "frases educativas" para inspirar.

Em seu escritório, ele exibe fotos emolduradas de seus dias como campeão em corrida de lancha e uma espada que lhe foi dada por um parceiro japonês em agradecimento a um negócio fechado.

Ele intercala seu inglês com sotaque alemão - uma das cinco línguas que fala fluentemente - com frases em francês como "C'est la vie”. Sua risada contagiante lembra o Charada de 1960 da série de "Batman" na televisão.

Eike diz que sua jornada começou como uma "busca à independência financeira" e um desejo ardente de fugir da sombra de seu pai famoso, um engenheiro brasileiro que ajudou a aumentar o comércio internacional de commodities no Brasil.

Nascido em Minas Gerais, Eike tem seis irmãos. Quando era pequeno, sofria de asma crônica. Sua mãe, uma alemã, colocava-o na piscina. "Isso abriu meus pulmões", disse ele. Ele continua a ser um ávido nadador e corredor.

Quando era adolescente, sua família se mudou para a Europa, vivendo em Genebra, Düsseldorf e Bruxelas. O pai de Batista, que no Brasil tinha sido presidente da empresa estatal de mineração, decidiu entrar em um "exílio amigável" quando o governo militar do Brasil desconfiou que fosse comunista por sua fluência em russo, uma das várias línguas que fala. Na Europa, o pai de Eike trabalhou para construir os negócios internacionais da empresa de mineração.

Na década de 1960, o pai de Eike notou que o Brasil poderia lucrar muito com a exportação de minério de ferro para o Japão. Mas a distância era enorme, então convenceu estaleiros a construir grandes embarcações, e ele liderou o desenvolvimento de um porto brasileiro com profundidade suficiente para os navios atracarem.

Eike diz que seu pai "fez um monte de coisas incríveis para o Brasil", mas que "nunca quis tomar riscos”.

Seus pais voltaram para o Brasil quando Eike tinha 18 anos. Ele ficou em Bruxelas e foi de porta em porta vendendo seguros, e depois negociando diamantes e carne enlatada.

Em 1978, Eike leu sobre a corrida do ouro na Amazônia. Aos 22, ele deixou a Universidade de Aachen na Renânia do Norte-Vestfália, onde foi estudar engenharia metalúrgica, e voltou ao Brasil. Ele convenceu um joalheiro no Rio a emprestar-lhe US$ 500 mil - "com certeza, eles sabiam que meu pai foi importante", disse ele - e foi para a Amazônia.

Com o empréstimo, ele começou a negociar ouro, agindo como um intermediário entre mineradores e compradores no Rio e em São Paulo. Ele disse que ganhou US$ 6 milhões em um ano e meio de negociação.

Foto: Divulgação

A unidade Serra Azul da mineradora MMX, de Eike

Depois de uma empresa brasileira de mineração de estanho, tentou copiar a idéia para extração de ouro, percebendo que teria uma margem de lucro enorme mesmo se cometesse erros. "Era à prova de idiotas ricos", disse ele.

Aos 23 anos, ele apostou tudo na construção de sua máquina. Mas o custo de comprar dos mineradores e os desafios de conseguir tratores e óleo diesel em uma área repleta de malária e ilegalidade se provou formidável.

Ele resistiu até seus últimos US$ 300 mil e se perguntou se "deveria ir para a praia" ou retomar o estudo de engenharia. Em seguida, a máquina começou a funcionar. Logo estava ganhando US$ 1 milhão por mês.

Enquanto Eike de alguma forma driblava a malária, ele não evitava problemas. Um dia foi confrontar um minerador que lhe devia dinheiro. O minerador estava bêbado. Eike Batista o xingou. Quando ia embora, o minerador atirou nele pelas costas com um revólver. "Eu estava longe o suficiente para que o impacto não fosse mortal", disse ele.

Seus guarda-costas disseram-lhe, mais tarde, que mataram o minerador.

Após sua experiência amazônica, Eike procurou as minas de ouro mais ricas do Brasil. Seu pai, temendo que o filho corria o risco de ser sequestrado, o encorajou a pesquisar fora do país. Ele tentou, mas falhou na Rússia, na Grécia, na República Checa, no Equador e na Venezuela, depois de perder centenas de milhões de dólares.

As experiências assustaram ele e em 2000 decidiu se dedicar a projetos no Brasil.

Ele falhou em outros tipos de negócios, entre jipes, cerveja e até perfume. "Em produtos de consumo, é muito mais difícil", disse ele. "Como você não tem margens de lucro à prova de idiotas, não pode cometer muitos erros."

Atualmente, está obcecado em inspirar uma nova geração de empresários brasileiros a tomar riscos como ele. "Nós não precisamos só ter os melhores jogadores de futebol do mundo", disse ele. "Por que não ter o melhor empresário do mundo?"

Nos últimos anos, ele investiu muito em restaurar o que chama de "auto-confiança" do povo do Rio de Janeiro, dizendo que gasta US$ 10,7 milhões por ano para ajudar um programa policial a livrar favelas de traficantes de drogas. Quando o governador do Rio, Sérgio Cabral, precisava de dinheiro para ajudar com a candidatura do Rio para a Olimpíada de 2016, Eike Batista disse que concordou em gastar US$ 12,3 milhões para contratar a agência de marketing que ajudou Londres a ganhar os Jogos de 2012.

"Olhe o que aconteceu agora", disse Eike. "Os preços dos imóveis triplicaram. As pessoas deveriam me pagar uma comissão".


*Acrescentamos subtítulo, fotos e legendas ao texto original

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