20 de jan. de 2012

Economia brasileira ofusca vizinhos latinos

BRASIL
Economia brasileira ofusca vizinhos latinos
Pesquisa da Reuters fala que país deve crescer em ritmo menor que estava acostumado, ficará abaixo de outras economias emergentes como a China e a Índia, mas na América Latina se caminho oposto ao de México e Argentina, cujas economias devem desacelerar. “Grande exportadora de minério de ferro e produtos agrícolas, a economia brasileira ganhará força com a expansão da demanda doméstica”.

Foto: Ricardo Funari/Vale do Rio Doce

Brasil grande exportador de minério

Silvio Cascione
Fonte:Reuters

O crescimento do Brasil deve ganhar força neste ano, com os recentes cortes na taxa básica de juros compensando a recessão na zona do euro, mostrou uma pesquisa da Reuters nesta quinta-feira. Com isso, o país deve ir no caminho oposto ao de México e Argentina, cujas economias devem desacelerar.

Grande exportadora de minério de ferro e produtos agrícolas, a economia brasileira ganhará força com a expansão da demanda doméstica, disseram economistas, crescendo 3,3 por cento em 2012 e 4,5 por cento em 2013, de acordo com a mediana das estimativas de 35 analistas.

A expectativa é de que a economia tenha crescido apenas 3 por cento em 2011, sentindo o efeito do aperto fiscal e monetário do primeiro semestre para combater a inflação.

Isso marca uma forte desaceleração na comparação com o crescimento registrado em 2010, de 7,5 por cento, e frustrou as estimativas oficiais de 5 por cento de crescimento nos primeiros meses da administração de Dilma Rousseff.

Outros membros do G20, como México e Argentina, sem o mesmo potencial oferecido pelo mercado doméstico brasileiro de aproximadamente 200 milhões de pessoas, terão mais dificuldades para sustentar suas atuais taxas de crescimento. A Argentina sofrerá um impacto maior, devido às saídas de capital e a uma expansão menor da política fiscal.

"A demanda doméstica deverá, em breve, ter um papel mais proeminente em combater problemas externos", afirmou Mauricio Rosal, economista-chefe na corretora Raymond James em São Paulo.

"Nós vemos isso como crucial, uma vez que acreditamos que poucas economias de proporções parecidas possuem atualmente a mesma quantidade de reservas (como o Brasil) para incorporar tal recuperação, impulsionada por fatores internos."

Entre os problemas externos está a crise da Grécia. O país e seus credores estão correndo contra o tempo para evitar um calote desordenado na zona do euro, que poderia desorganizar o sistema financeiro global.

O drama grego tem sido comparado ao default de 100 bilhões de dólares da Argentina em 2002. Desde lá, o país tem se fechado virtualmente ao mercado financeiro global e visto a inflação subir a uma cifra de dois dígitos.

O Brasil iniciou o corte de sua taxa básica de juros em agosto de 2011, trazendo-a de 12,5 por cento para 10,5 por cento. Analistas esperam que o banco central reduza o que ainda é um dos maiores juros do mundo para 9,5 por cento em abril.

Além da expansão do crédito, que o Banco Central projeta em 15 por cento em 2012, a economia brasileira crescerá impulsionada também pelo aumento legal de 14 por cento no salário mínimo.

Incentivos fiscais, como o corte de impostos em bens duráveis, também dão estímulos, de acordo com uma análise do Itaú Unibanco, o maior banco privado do país.

Foto: Divulgação

Brasil: mercado interno com 200 milhões de consumidores.

Analistas não esperam que a inflação saia de controle, inclusive pela possibilidade de cortes de gastos no Orçamento de 2012. Após subir para 6,5 por cento em 2011, o topo da meta oficial, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve cair para 5,5 por cento em 2012, segundo a mediana de 18 projeções coletadas para a pesquisa Reuters - ainda acima do centro da meta do governo, de 4,5 por cento.

Apesar do rápido crescimento, a economia brasileira ficará atrás das maiores economias emergentes do mundo, como China e Índia, mesmo se estas se expandirem no ritmo mais lento desde 2009. O PIB da China deve crescer 8,4 por cento em 2012.

A economia do México, mais dependente das exportações para os Estados Unidos, deve ser provavelmente a mais atingida pela desaceleração mundial. Apesar de a maior economia do mundo ter evitado a recessão, o PIB dos Estados Unidos deve crescer apenas 2,2 por cento em 2012.

O México, a segunda maior economia da América Latina, deve crescer 3,2 por cento em 2012, abaixo da taxa de 4,0 por cento projetada em 2011, segundo a mediana das 24 projeções coletadas para a pesquisa Reuters. Em 2013, a economia mexicana deve se recuperar para um crescimento de 3,5 por cento.

No entanto, os riscos para as estimativas de crescimento do México tendem para o lado positivo, notou o analista da Goldman Sachs Alberto Ramos, com a economia norte-americana demonstrando mais resistência do que o esperado, trazendo recentes surpresas positivas em seus dados de emprego.

Foto: Divulgação

Peso mexicano: desvalorização de 15% em seis meses

Os novos dados da economia norte-americana podem ser um alívio para o banco central do México, que tem visto sua capacidade de cortar a taxa de juros diminuir, após o peso mexicano cair aproximadamente 15 por cento desde julho, com um ambiente global mais arriscado.

"Um peso mais fraco aumenta o risco de repasse aos preços e pode contaminar as expectativas de inflação," escreveu Benito Berber, analista da Nomura Securities, em uma pesquisa.

O governo da Argentina encara um desafio ainda mais difícil, com uma previsão de crescimento de 3,5 por cento em 2012 e em 2013, após uma previsão de crescimento de 8 por cento em 2011 por causa de exportações de grãos, gastos do consumidor e produção industrial, mostrou a pesquisa da Reuters.

Economistas locais acusam o governo de superestimar o crescimento e subestimar a inflação. Muitos deles não têm previsões oficiais para a inflação, fornecendo estimativas privadas para os preços ao consumidor - cuja mediana da pesquisa da Reuters aponta para um aumento de 24,3 por cento em 2012.

*Reportagem adicional de Jean Luis Arce e Noe Torres na Cidade do México, Hilary Burke e Magdalena Morales em Buenos Aires e Sarmista Sen em Bangalore


*Acrescentamos subtítulo, foto e legenda ao texto original.

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