23 de mar. de 2010

Itamaraty tenta disfarçar inspeção atômica no Brasil

BRASIL – ATOMICO
Itamaraty tenta disfarçar inspeção atômica no Brasil
O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano, está no Brasil, para inspecionar o programa atômico brasileiro, desconfiado da amizade de Lula com o Mahmoud Ahmadinejad. O ministério das Relações Exteriores disfarçou divulgando apenas a parte diplomática da "visita"

Foto: Associated Press

Amorim sugeriu que o diretor visite o Irã, Amano afirmou que a visita será realizada no momento apropriado. “Não posso ir até lá apenas para dizer oi. É preciso alguma coisa para ser discutida”, afirmou com certa irritação.

Toinho de Passira
Fontes: BBC Brasil, BBC Brasil, Plano Brasil - Word Press, Africa 21, Correio Braziliense, Midiacom

O Ministério das Relações Exteriores tem adotado um tom diplomático a visita ao Brasil do diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano, à frente da organização desde dezembro do ano passado.

Ressalta mais o encontro entre o japonês, que sofreu forte oposição do Brasil na eleição para ocupar o cargo e o Ministro Celso Amorim, do que o real motivo da sua visita, que é inspecionar o programa nuclear brasileiro.

Não parece ser uma inspeção de rotina, pois, a própria engenharia em escondê-la demonstra certo embaraço.

A ferrenha e decidida defesa de Lula a Mahmoud Ahmadinejad, há de ter despertado suspeitas, de que a o interesse brasileiro pode ocultar uma cooperação mútua de desenvolvimento nuclear para fins militares.

A inspeção de Yukiya Amano foi meticulosa. Na sua agenda estava prevista visita a Instalação de Enriquecimento Isotópico em Resende encontros com representantes dos operadores do setor nuclear brasileiro - Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Indústrias Nucleares Brasileiras (INB), Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A.(NUCLEP) e Eletronuclear.

Ontem Amano passou mais de cinco horas nas instalações das Indústrias nucleares Brasileiras, em Resende, onde é enriquecido o urânio para as usinas de Angra 1 e Angra 2.

A “visita” ocorre em meio ao acirramento das discussões sobre o programa nuclear iraniano e às vésperas da conferência de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, que começa no dia 3 de maio, em Nova York.

De acordo com o Itamaraty, Amano está no Brasil com o objetivo principal de reforçar a relação com países em desenvolvimento, que nos últimos anos vêm demandando maior participação no principal organismo do mundo na área nuclear.

Foto: Associated Press

Amorim não quis adiantar claramente a posição do Brasil diante da assinatura de um protocolo adicional com a Agência Atômica e mas está cheio de senões

O Brasil tem sido pressionado a assinar um Protocolo Adicional que ampliaria o alcance das inspeções da agência atômica. Mas Amorim reafirmou que isso não está em questão, segundo ele por duas razões.

A primeira é a reafirmação da barganha contida no TNP (Tratado de Não Proliferação), que garante aos países não armados o direito de controlar o ciclo do urânio e exige o desarmamento das potências atômicas. A segunda é que o Brasil quer ter “certeza de que segredo tecnológico será mantido”.

Indagado sobre o significado das recorrentes críticas de membros do governo ao TNP, Amorim disse que “o Brasil não está considerando sair” do tratado, mas quer cumprimento do artigo 6º, que prevê desarme das grandes potências.

De acordo com o Itamaraty, Celso Amorim quer ainda ouvir de Amano as últimas atualizações sobre o enriquecimento de urânio em território iraniano para, a partir daí, os dois discutirem os principais “focos de desconfiança” quanto ao programa nuclear do Irã.

Amano declarou, recentemente, num painel de representantes de 35 países, em Viena, que a agência "não pode confirmar que todo o material nuclear no Irã é usado para fins pacíficos porque o governo iraniano não cooperou o suficiente".

O governo iraniano negou que estivesse criando armas atômicas e acusou a Agência Nuclear de atuar “a serviço” dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais.

Teerã criticou também o próprio Amano, em função de sua “inexperiência”, lembrando o fato de o diretor ter sido eleito “com certa dificuldade”.

A crítica referia-se ao fato de a candidatura do japonês Yukiya Amano ter enfrentado resistência entre os países emergentes, entre eles o Brasil, que apoiavam o sul-africano Abdul Minty.

Foto: Associated Press

O encontro entre Amorim e Amano não foi dos mais amistosos

Amorim sugeriu que o Irã entregue seu urânio para enriquecimento por parte de outro país, uma espécie de “depositário”. Seria, na sua opinião, uma forma de dar prosseguimento às discussões internacionais sobre o programa nuclear iraniano.

Na verdade a sugestão do chanceler brasileiro tenta por o Brasil no meio da questão, sendo o tal país “depositário.” Mas quem disse que a Agência Internacional de Energia Atômica acredita cegamente no Brasil, como o fiscalizador privilegiado do Irã?

Antes, tentando por panos frios o chanceler brasileiro, Celso Amorim, negou até a afinidade de Lula com o demonizado iraniano, dizendo que é uma “bobagem” enxergar no presidente Lula um “amigo” do iraniano Mahmoud Ahmadinejad. “Eles se encontraram duas ou três vezes.


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