ARMANDO NOGUEIRA: O poeta da arquibancada
ARMANDO NOGUEIRA O poeta da arquibancada As palavras acomodavam-se no seu texto, como flores silvestres pelas encostas: espontâneas, mas suficientemente organizadas para transmitir encantamento. O que escrevia era tão verdadeiro quanto ele, um escravo da verdade. Sabia o tom exato de transmitir uma notícia, sem ferir os ouvidos, mas sem perder o quique do realismo. Noticiava com uma precisão desconcertante de um drible de Garrincha, com a força precisa como uma falta batida por Zico, com a perfeição de um passe de Pelé, para si mesmo.
Toinho de Passira Como escrever sobre Armando Nogueira se as palavras estão todas prostradas no velório do Maracanã. Pedro Bial foi quem primeiro sentiu falta. Assim que soube da morte do mestre sacramentou “as palavras estão órfãs”. Bem que Armando podias ter deixado uma crônica feita, para nos poupar do vexame de matraquear o teclado em vão. A neta e biografa de CAYMMI, Stella Caymmi disse que “Dorival Caymmi via beleza onde ninguém desconfiava.“ Foi com esse dom que Armando Nogueira viu poesia no futebol. O fato de ter sido velado no Maracanã dá a dimensão do seu tamanho. Todos os grandes jornalistas brasileiros que admiramos, declaram-se seus ex-alunos desolados. Dizem que ele inventou o Jornal Nacional, O Globo Repórter, mas ele inventou o telejornalismo brasileiro. Foi ele quem inventou a obrigação de ouvir o outro lado da notícia. Todos os outros jornais televisivos de todas as outras emissoras e da própria Globo são netos e bisnetos seus. Dizem que ele saiu da Globo, pois os Marinhos fizeram campanha a favor de Collor e editaram um debate entre Collor e Lula, de foram a favorecer o governador alagoano. Não que torcesse por Lula, ou não, na verdade era fã ardoroso e inarredável da verdade. Teria dito palavra dura ao seu amigo e patrão Roberto Marinho e pediu demissão. Não se conformava terem vilipendiado o Jornal Nacional. Os marinhos foram levando sua indignação com a barriga, até que ele um ano depois disse que não dava mais para ficar e saiu. Dedicou-se integralmente aos seus hobbies de voar de ultraleve, de tocar gaita e produzir primorosos escritos. As palavras eram suas amantes cúmplices. Enfileiravam-se arrumadas nos seus textos, como em nenhum outro, orgulhosas de fazerem parte daquele momento literário mágico. Rimavam aqui e ali e metrificavam-se ritmadas, numa prosa que sem perder o rumo de prosar, poetizava a realidade. Não resistimos à tentação de repetir algumas de suas grandes frases, que estão estampadas em todos os jornais nos últimos dias. Mas como falar de Armando Nogueira sem repetir o que ele disse.
Sobre Pelé - “Não cabe discussão: o maior atleta do século XX é Pelé. Há de ser escolhido por aclamação celestial. Tenho tal convicção desde o dia em que vi, há muitos anos, na primeira página do jornal "The Observer", de Londres, uma foto com a seguinte legenda: "Pelé e um fã". O fã era o Papa. Até as tragédias tinham um tom de menos dolorido através das suas palavras: quando o ex-gremista Dener, um atleta que ele admirava pelo seu vistoso futebol morreu em um acidente automobilístico, Armando escreveu: "A morte o surpreendeu enquanto ele dormia. Se ele estivesse acordado, até ela seria driblada." E disse mais: "No futebol, matar a bola é um ato de amor";
Armando Nogueira trai de quando em quando o futebol, com outros esportes, a maioria envolvia uma bola. Vejam a crônica que ele escreveu para a rainha do basquete Hortência.
Nada mais há a dizer, por desnecessário. |
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