Fotos: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr e José Cruz/ABr
Merval Pereira
Fonte: O Globo
Os fatos políticos recentes aumentaram a pressão sobre os dois pré-candidatos do PSDB: sobre Serra, o favorito em todas as pesquisas, para que defina logo sua posição; e sobre Aécio, para que aceite ser vice da chapa tucana. Assim como ficou mais difícil para o governador paulista adiar sua definição até março, o prazo final que a legislação eleitoral permite, está ficando mais difícil para o governador de Minas não levar em conta os interesses partidários, especialmente diante da demonstração diária de que o governo está decidido a tudo para eleger a ministra Dilma Rousseff na sucessão de Lula. Mas nada indica que os dois tenham mudado de opinião.
O governador de São Paulo, José Serra, permanece disposto a levar até o último minuto do prazo legal para decidir e, embora sua tendência seja concorrer à Presidência, não abandonou a hipótese de permanecer no governo de São Paulo para concorrer à reeleição.
Se o governador de Minas, Aécio Neves, topasse ser seu vice, Serra quase certamente sairia candidato à sucessão de Lula.
Sem isso, ele continua avaliando as possibilidades, acompanha a atuação do governo na construção da candidatura da ministra Dilma Rousseff e mede as chances, com um olho nas pesquisas eleitorais e outro nas ações partidárias do governo, para tentar definir até que ponto se dará a transferência de votos do presidente Lula para sua candidata.
Na avaliação de Serra, antecipar a campanha eleitoral interessa ao próprio Lula, que teve que tirar a ministra Dilma Rousseff do zero para apresentá-la ao eleitorado; e ao governador Aécio Neves, que também está em busca de um maior reconhecimento nacional.
Por sua vez, o governador de Minas mantém a disposição de não ser vice de Serra e pretende anunciar até o dia 10 de janeiro que se retira da disputa nacional para fazer a campanha mineira do PSDB, tentando eleger seu supersecretário Antonio Anastasia seu sucessor.
Saindo da disputa em janeiro, Aécio praticamente obriga Serra a se comprometer com a candidatura à Presidência, já que, se desistir em março, o PSDB não terá candidato. Nesse movimento estratégico, há também a previsão de que, nesse caso, o partido irá a Minas pedir para que assuma a candidatura.
Os dois, Serra e Aécio, mantêm uma relação amistosa, porém distante, inclusive porque seus interesses políticos pessoais são distintos, assim como suas maneiras de fazer política.
As pesquisas de opinião mostram o governador José Serra mantendo a dianteira consistentemente na corrida presidencial, e tanto a do Sensus no mês passado quanto a do Ibope de ontem indicam que ele pode até mesmo vencer no primeiro turno.
Serra está convencido de que sua melhor estratégia é manter-se distante da disputa por enquanto, mas, a exemplo do que fez em 2002 e diferentemente de 2006, tem ido a programas populares da televisão para expor suas ideias, o que leva a crer que ele está mais tendente a disputar a Presidência do que da vez anterior, quando o candidato era Lula.
Ele se ressente de não ter o apoio do PSDB à sua estratégia, como aconteceu em 2006, e isso pode levá-lo a desistir da candidatura nacional se, no balanço final, achar que a estrutura partidária não tem condições de apoiá-lo numa campanha vitoriosa.
Na realidade, nessa avaliação entraria especialmente a situação específica de Minas Gerais, onde ele perdeu em 2002 e Geraldo Alckmim perdeu em 2006, mesmo com Aécio Neves tendo uma grande votação.
É verdade que a régua desta vez tem que ser outra, pois Lula não é candidato, e o governador mineiro, mesmo que não seja candidato a vice, terá que se empenhar na eleição para não perder o controle político de Minas contra adversários fortes do PT e uma candidata oficial que nasceu em Minas.
Mas a garantia de apoio maciço só viria mesmo com a chapa puro-sangue, que continua sendo o sonho de consumo do PSDB.
O governador Aécio Neves está forçando uma polarização dentro do partido, mesmo sabendo que as pesquisas apontam Serra como o favorito, porque acredita que no jogo político tem melhores condições de agregar apoios partidários que robusteceriam sua eventual candidatura.
Serra continua costurando apoios políticos nos bastidores, baseado na liderança das pesquisas eleitorais e certo de que, a curto prazo, nada mudará essa condição.
O que ele procura visualizar é o que pode acontecer a longo prazo e, para isso, a unidade partidária é fundamental, até mesmo para atrair outros partidos para sua coligação.
Desse ponto de vista, o governo está fazendo tudo certo, garantindo a fidelidade do PT à candidata Dilma Rousseff, mesmo tendo ela sido imposta pela vontade soberana de Lula, e tentando manter o apoio formal do PMDB, dando-lhe a vice-presidência na chapa oficial.
Desfazer esse acordo, por outro lado, é um dos pontos fundamentais da estratégia dos tucanos. Impedindo que a ala governista do PMDB seja majoritária na convenção do ano que vem, o PSDB retiraria do PT cinco minutos diários de propaganda eleitoral de rádio e televisão, além de inviabilizar uma atuação capilarizada do PMDB, partido que tem maior número de prefeitos e vereadores no país.
Mas para competir com a expectativa de poder que Lula alimenta, apesar de até agora não ter conseguido transformar sua popularidade em índices robustos de aprovação de sua candidata nas pesquisas eleitorais, o PSDB deveria estar unido com um projeto comum, não sendo suficiente mostrar união apenas nos programas eleitorais.
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