6 de dez. de 2009

BOLIVIA - ELEIÇÕES: Evo Morales vai ser reeleito em primeiro turno

BOLIVIA - ELEIÇÕES
Evo Morales vai ser reeleito em primeiro turno
Ninguém duvida da vitória do índio cocaleiro boliviano para um segundo mandato de mais cinco anos, a dúvida é se vai conseguir, como pretende maioria nas duas casas legislativas, e de quanto vai ser a diferença

Foto: Reuters

Evo há alguns dias disse estar seguro de sua reeleição, não estava sendo otimista

Fontes: G1, Agência Brasil, Al Jazeera, France24, G1, Rsurgente, O Globo

O presidente da Bolívia, Evo Morales, deve fazer história novamente neste domingo. Depois de ser o primeiro mandatário de origem indígena do país, Morales caminha para ser também o primeiro presidente reeleito para um segundo mandato consecutivo, o que só se tornou possível por alterações que ele mesmo promoveu na Constituição.

Hoje, domingo 06, é dia de eleições gerais na Bolívia. Os cerca 5,1 milhões de eleitores bolivianos vão escolher além do presidente da República, 130 deputados e 36 senadores. Pela nova legislação, as autoridades eleitorais vão coletar as digitais dos eleitores e fotografá-las, além de digitalizar as assinaturas. Pela primeira vez, aproximadamente 300 mil bolivianos que vivem no exterior vão votar.

Todas as pesquisas asseguram a vitória esmagadora do candidato do Movimento ao Socialismo (MAS) e atual presidente, Evo Morales. A dúvida que resta é se o MAS conseguirá alcançar os dois terços da futura Assembléia Legislativa Plurinacional. Atualmente o Senado é comandado pela oposição.

Diferentes pesquisas assinaram que Evo Morales tem uma vantagem de aproximadamente 40 pontos sobre o candidato opositor, Manfred Reyes Villa, do Plano Progresso para a Bolívia (PPB) e o terceiro Samuel Doria Medina, da Unidade Nacional (UN).

A maioria das pesquisas afirma que o MAS, ao contrário dos partidos opositores, terá representantes legisladores nos nove departamentos da Bolívia. O MAS pode ganhar de maneira mais contundente em seis departamentos: La Paz, Oruro, Potosi, Cochabamba, Chuquisaca e Tarija e disputa a hegemonia com o PPB em Pando, Santa Cruz e Beni, departamentos opositores considerados como parte da “meia lua” oposicionista, que já causou dores de cabeça ao índio presidente.

Foto: Reuters

O ato de encerramento da campanha de Evo em El Alto, La Paz, foi uma das maiores concentrações políticas da história do país .

Evo Morales trata a oposição na porrada, opositor bom é opositor preso. Assim o candidato a vice da oposição, na chapa do partido Plano Progresso para a Bolívia (PPB), o candidato a presidente Manfred Reyes Villa sempre aparece nos comícios segurando um pôster com uma foto do vice Leopoldo Fernández que está preso desde setembro do ano passado na penitenciária de San Pedro, em La Paz.

Fernández , foi acusado pelo governo de Evo Morales, de ter comandado um massacre de camponeses quando era prefeito de Pando (cargo equivalente ao de governador no Brasil), embora o processo esteja cheio de irregularidades e haja uma forte intervenção do executivo, para que o judiciário não permita que o acusado responda o processo em liberdade.

Foto: Javier Mamani/AFP

Leopoldo Fernández na época de sua prisão, em setembro de 2008

A estratégia da oposição ao lançar um candidato prisioneiro, a candidatura é possível pela lei porque Fernández ainda não foi julgado é escancarar o autoritarismo da administração de Morales. Da cela, Fernández envia cartas que são publicadas no site da campanha, denunciando sua condição e clamando por 'justiça'.

Foto: Aizar Raleds/AFP

SEM TRÉGUAS- Partidários do presidente Evo Morales, não dão sossego nem a adversário preso e fazem protesto em frente à cadeia onde Leopoldo Fernández está.

Para a doutora em sociologia e professora da Universidad Mayor de San Andrés (La Paz) Fernanda Wanderley, a candidatura de Fernández representa a preocupação da oposição com uma concentração de poder no governo, e o medo é de que esse processo se radicalize. "Ele está preso, mas não há provas, não houve julgamento. Ele representa essa preocupação de que a ausência de uma oposição articulada leve a uma hegemonia do governo Evo Morales."

Fernández não é o único candidato do PPB encarcerado. Na semana passada, a candidata a senadora suplente por Cochabamba, Florentina Quilla (foto) foi detida em Oruro. Acusada de estelionato, ela tinha uma sentença condenatória desde 2003, que estava sendo negociada com a justiça, que de repente agilisou o resultado do processo.

O favoritismo do presidente da Bolívia, Evo Morales, para vencer as eleições presidenciais é atribuído ao crescimento da economia, aos programas sociais e ao seu estilo de governar, isolando seus adversários políticos.

Os quatro anos de governo de Morales foram marcados por um período de expansão da economia, influenciada pelos altos preços das commodities no mercado internacional.

A Bolívia exporta gás, soja e minério. Para o economista Javier Gómez, do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Trabalhista e Agrário (CEDLA, na sigla em espanhol), as commodities financiaram os planos sociais.

Ao mesmo tempo, o governo manteve uma estabilidade econômica sem grandes mudanças. “Foi uma estabilidade econômica baseada no controle remoto. Mas o governo Evo também conta com estabilidade política pelo forte apoio popular ao presidente. Não víamos esta estabilidade política desde o fim dos anos 90”, disse Gómez à BBC Brasil.

Foto: Associated Press

A economia boliviana cresceu 6% em 2008. Neste ano, porém, com a queda nos preços das commodities no mercado internacional, o crescimento deverá ficar em 3%. O mesmo é esperado para 2010. Mesmo assim será o maior da America Latina.

“O governo ainda tem respaldo fiscal para um 2010 tranquilo. O problema é que não se aproveitou a etapa da bonança para melhorar o perfil produtivo. A Bolívia continua dependente das commodities”, afirmou o economista.

Neste país de cerca de 10 milhões de habitantes, 60% declaram-se indígenas e muitos deles, a partir de suas raízes culturais, aprovam o estilo de Morales de “enfrentar” o “inimigo” político.

Foto: Sabrina Valle/O Globo

ELEITORA CATIVA- Julia Reyes cercada pelos cartazes de Morales na sala de sua casa, cuja propriedade recebeu diretamente das mãos do presidente boliviano.

Pesquisas de opinião indicam que o líder boliviano tem hoje 60% de apoio popular e venceria neste domingo, no primeiro turno, com diferença de cerca de 30% sobre seu principal adversário, Manfred Reyes Villa.

O opositor passou a ser, para seguidores do presidente, o símbolo do neoliberalismo e dos males vividos no país. Evo Morales disse que ele irá preso, por atos de corrupção, após a eleição.

O analista político José Luis Galvez, do instituto Equipos Mori, disse à BBC Brasil que Evo Morales conseguiu instalar no imaginário popular a ideia de que existem dois modelos de governar.

“O dele, que representa a mudança, e o outro, que é o neoliberalismo e castigou o país”, afirmou.

Nos seus discursos, Evo Morales enfatiza que esse “modelo que afundou” a Bolívia não pode ser reinstalado no país.

A expectativa é que Evo repita neste domingo votação similar a que teve em 2005, quando foi eleito com pouco mais de 50% dos votos, incluindo as comunidades indígenas e a classe média.

“Hoje os companheiros da classe media dizem: é um índio, mas que sabe se fazer respeitar”, afirmou Evo Morales em sua campanha.

O primeiro mandato do presidente boliviano também foi marcado por turbulências políticas – tradicionais na história do país.

A disputa entre os departamentos da chamada “Meia Lua” (Santa Cruz, Beni, Tarija e Pando), onde Morales goza de menos popularidade, e os do Altiplano (liderados por La Paz) deixou mortos e feridos e forte rejeição a Morales em algumas regiões.

No entanto, com a oposição debilitada e a ausência de conflitos no momento, pesquisas indicam que ele também teria boa aprovação onde antes era rejeitado.

Foto: Reuters

Durante os quatro anos de seu mandato, Morales manteve mais de 50% de aprovação popular. E o apoio atual vem, principalmente, das camadas pobres e indígenas, a quem o ele prometeu mais autonomia e, com seu projeto socialista, uma melhor distribuição dos recursos naturais do país. Para eles, o presidente é simplesmente Evo.

O presidente boliviano, Evo Morales, durante a campanha sua rejeição ao "imperialismo" que os EUA, segundo sua opinião, praticaram em outras épocas na Bolívia.

Uma das características do primeiro mandato de Morales foi seu confronto com os EUA até o ponto que, em setembro de 2008, expulsou o embaixador americano Philip Goldberg, sob a acusação de conspirar contra seu Governo.

Morales afirmou que seu país quer "manter relações com todo o mundo", mas assegurou que o retorno do embaixador americano "não é decisivo" para as políticas da Bolívia.

Dois meses depois, o líder boliviano decidiu suspender "indefinidamente" as operações em seu país da DEA, o Departamento anti-drogas dos Estados Unidos, por "espionagem e conspiração".

Foto: Reuters

Partidários de Morales desfilam pelas ruas de La Paz, parece que ele é candidato único

O presidente boliviano destacou que, quando a DEA operava na Bolívia, as operações contra o narcotráfico tinham fins puramente "políticos" e reiterou sua rejeição ao fato de que a luta contra o tráfico de drogas seja utilizada como "falso pretexto" para justificar bases ou a presença militar americana na América do Sul.

"Enquanto eu for presidente, (...) jamais haverá um estrangeiro que venha mandar na Bolívia e também não haverá bases militares (de outros países)", assegurou.

O presidente boliviano, Evo Morales, terá um difícil paradoxo pela frente se for reeleito neste domingo: convencer a comunidade internacional de que pode continuar sua cruzada em defesa da folha de coca, ao mesmo tempo em que é sério o seu programa de combate ao narcotráfico.

Morales, que preside as seis confederações cocaleiras da região do Chapare (principal zona produtora da folha de coca da Bolívia), protagonizou em todo tipo de fórum internacional uma acirrada defesa da planta, que possui uso medicinal e alimentar na região andina.

Na nova Constituição, redigida pelo partido governista MAS, a coca é considerada "patrimônio cultural, recurso natural renovável da biodiversidade de Bolívia e fator de coesão social; em seu estado natural não é estorpecente".

Foto: Reuteres

Passeata em Lima, a favor do aumento das áreas plantadas com coca

A Bolívia cultiva 12.000 hectares legais de folha de coca, mas cálculos das Nações Unidas apontam para a existência de um total de 30.500 hectares. Este número representa um aumento de 20% em relação aos 25.400 hectares que plantados no país quando Evo chegou à presidência.

Morales disse que trabalhará para que o número de hectares legais chegue a 20.000. Pesquisadores e analistas, no entanto, alertam que junto com o aumento dos cultivos de coca na Bolívia, cartéis colombianos e mexicanos estão se fortalecendo, dentro do país, fato atrelado a um forte aumento da produção da cocaína.

Morales disse que o combate ao narcotráfico - "cocaína zero", como sugeriu - aconteceria a partir de uma aliança com outros países e que "felizmente, sem a DEA agora melhoramos as apreensões".

Recentemente, o presidente disse que a Bolívia gastou este ano 20 milhões de dólares na luta contra a cocaína, e que já eliminaram 4.425 dos 5.000 hectares de plantações de coca que deveriam ser colhidas este ano.

Segundo dados oficiais do governo boliviano, a cocaína apreendida em 2009 supera as 19 toneladas, enquanto a produção de cocaína e pasta de base em 2008 foi de 113 toneladas.

Foto: Associated Press

Soldados bolivianos destroem plantio ilegal de coca, em Chimore, Bolivia. O governo diz que combate a droga, a oposição diz que está eliminando a concorrência

Pesquisadores dizem que "de 2006 a 2008, 67,5% da produção da coca boliviana foram para o narcotráfico, e a que vem do Chapare, bastião de Evo, 95% foram para os mercados ilegais. O dados do governo e da ONU dizem que o tráfico de cocaína em 2008 movimentou entre 230 e 288 milhões de dólares na Bolívia. Mas pesquisadores independentes afirmam que os números verdadeiros superam 500 milhões, podendo chegar até mesmo a um bilhão de dólares.

Foto: Associated Press

Evo Morales exibindo folhas de coca, no palácio presidencial, numa entrevista coletiva

O analista econômico Humberto Vacaflor, severo crítico do governo de Morales, destacou que, na Bolívia, "a única atividade econômica pujante que não muda com as crises internacionais é a produção de coca e seus derivados".


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