HONDURAS: "¡Que se vayan los brasileños!"
HONDURAS "¡Que se vayan los brasileños!" Relato do Jornalista Rodrigo Lopes enviado especial do Zero Hora - Honduras
Foto: Rodrigo Lopes/Zero Hora Fontes: Blog do Rodrigues Lopes , Blog do Rodrigues Lopes, Zero HoraO carro para diante de uma barreira. Os policiais ordenam que todos os vidros do veículo sejam baixados. – Brasileiros? – questiona aquele que parece ser o líder do grupo. – Sim. – E o que vocês pensam sobre Lula refugiar Zelaya? – É uma decisão do governo. Não nos cabe opinar – respondemos. Em tom ameaçador, um policial circunda o veículo e fala um pouco com cada um dos que estão dentro. Olhos raivosos. Então, começa a destrinchar uma lição de moral. – Vocês, brasileiros, estão causando fome e morte a nossas crianças. Ele fala ininterruptamente por quase cinco minutos, durante os quais só nos resta baixar a cabeça. Ao final, libera a passagem, mas avisa: – Estaremos monitorando suas transmissões por satélite. Cenas como essas se repetem em outras barreiras policiais, em restaurantes da capital hondurenha e até mesmo no hall do hotel Clarion, base de Zero Hora em Tegucigalpa. Foto: Reuters A decisão do governo Lula de acolher o presidente deposto, Manuel Zelaya, tornou os brasileiros persona non grata para muitos hondurenhos. Na saída do hotel, um dos recepcionistas acusa: – Vocês são responsáveis pelo que acontece em Honduras. Quero saber de vocês: quem manda aqui? – Micheletti – respondemos. – Então, por que vocês estão apoiando quem não manda? As manifestações isoladas encontram um lugar comum: a rua em frente à representação das Nações Unidas, no bairro Colonia Palmira, onde centenas de apoiadores do presidente interino, Roberto Micheletti, se reuniram ontem para o primeiro grande protesto em oposição ao presidente deposto, Manuel Zelaya, desde que ele retornou ao país, na segunda-feira. Os manifestantes são conhecidos como Camisas Blancas: grupos da classe média, ligados a empresários ou políticos de direita, que vestem branco. – Lula, Lula, saque esta mula – diz, em coro, a multidão. “Mula”, no caso, trata-se de Zelaya. Os ânimos ficam exaltados. Foto: Rodrigo Lopes/Zero Hora A rua lota. Por precaução, o repórter da TV Brasil, ao lado, retira a inscrição do microfone que identifica a emissora. Ser brasileiro, algo que sempre abriu portas no Exterior, hoje é um risco em Honduras. Basta identificar-se como tal para que uma roda se forme e centenas de perguntas passem a ser feitas: Foto: Rodrigo Lopes/Zero Hora Enquanto isso, manifestantes passam na frente do cordão de isolamento e abraçam os militares. Homens apertam as mãos dos soldados. Algumas mulheres, mais exaltadas, dão beijos, sorriem. Nunca se viram, mas hoje os homens de farda representam a mão forte do governo Micheletti. São eles, aparentemente, que respondem pelo que resta de orgulho aos hondurenhos: cercam a embaixada do Brasil, mantêm o inimigo público número 1 do governo sitiado e tornam alguns brasileiros, lá dentro, prisioneiros em seu próprio território. |
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