25 de set. de 2009

HONDURAS: "¡Que se vayan los brasileños!"

HONDURAS
"¡Que se vayan los brasileños!"
Relato do Jornalista Rodrigo Lopes enviado especial do Zero Hora - Honduras

Foto: Rodrigo Lopes/Zero Hora

Fontes: Blog do Rodrigues Lopes, Blog do Rodrigues Lopes, Zero Hora

O carro para diante de uma barreira. Os policiais ordenam que todos os vidros do veículo sejam baixados.

– Brasileiros? – questiona aquele que parece ser o líder do grupo.

– Sim.

– E o que vocês pensam sobre Lula refugiar Zelaya?

– É uma decisão do governo. Não nos cabe opinar – respondemos.

Em tom ameaçador, um policial circunda o veículo e fala um pouco com cada um dos que estão dentro. Olhos raivosos. Então, começa a destrinchar uma lição de moral.

– Vocês, brasileiros, estão causando fome e morte a nossas crianças.

Ele fala ininterruptamente por quase cinco minutos, durante os quais só nos resta baixar a cabeça. Ao final, libera a passagem, mas avisa:

– Estaremos monitorando suas transmissões por satélite.

Cenas como essas se repetem em outras barreiras policiais, em restaurantes da capital hondurenha e até mesmo no hall do hotel Clarion, base de Zero Hora em Tegucigalpa.

Foto: Reuters

A decisão do governo Lula de acolher o presidente deposto, Manuel Zelaya, tornou os brasileiros persona non grata para muitos hondurenhos. Na saída do hotel, um dos recepcionistas acusa:

– Vocês são responsáveis pelo que acontece em Honduras. Quero saber de vocês: quem manda aqui?

– Micheletti – respondemos.

– Então, por que vocês estão apoiando quem não manda?

As manifestações isoladas encontram um lugar comum: a rua em frente à representação das Nações Unidas, no bairro Colonia Palmira, onde centenas de apoiadores do presidente interino, Roberto Micheletti, se reuniram ontem para o primeiro grande protesto em oposição ao presidente deposto, Manuel Zelaya, desde que ele retornou ao país, na segunda-feira. Os manifestantes são conhecidos como Camisas Blancas: grupos da classe média, ligados a empresários ou políticos de direita, que vestem branco.

– Lula, Lula, saque esta mula – diz, em coro, a multidão.

“Mula”, no caso, trata-se de Zelaya. Os ânimos ficam exaltados.

Foto: Rodrigo Lopes/Zero Hora

A rua lota. Por precaução, o repórter da TV Brasil, ao lado, retira a inscrição do microfone que identifica a emissora. Ser brasileiro, algo que sempre abriu portas no Exterior, hoje é um risco em Honduras. Basta identificar-se como tal para que uma roda se forme e centenas de perguntas passem a ser feitas:

– Por que estão fazendo isso?

– Vocês estão contando a verdade?

– Por que querem se aliar a Chávez?

Aos poucos, surgem cartazes criticando o governo brasileiro. Não estão escritos em espanhol nem em português, como se poderia esperar. Em grandes letras, dizem, em inglês: “Brazil, nós, o povo, não respeitaremos vocês se vocês não nos respeitarem”.Em outros cartazes, Lula aparece em desenhos ao lado do presidente venezuelano, Hugo Chávez.

O grupo avança em direção à embaixada do Brasil, mas passa distante, graças ao cordão de isolamento militar. De repente, corre-corre. Ao longe, vê-se apenas um amontoado de bandeiras, câmeras e microfones. Todos correm para chegar até o local onde um homem na faixa dos 60 anos está caído no chão, a cabeça ensanguentada.

– Alguém atirou uma pedra – acusa uma mulher.

Dois jovens aparecem algemados e são levados para trás da barreira militar. Somem da vista.

Foto: Rodrigo Lopes/Zero Hora

Enquanto isso, manifestantes passam na frente do cordão de isolamento e abraçam os militares. Homens apertam as mãos dos soldados. Algumas mulheres, mais exaltadas, dão beijos, sorriem. Nunca se viram, mas hoje os homens de farda representam a mão forte do governo Micheletti. São eles, aparentemente, que respondem pelo que resta de orgulho aos hondurenhos: cercam a embaixada do Brasil, mantêm o inimigo público número 1 do governo sitiado e tornam alguns brasileiros, lá dentro, prisioneiros em seu próprio território.


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