21 de set. de 2009

Marina Silva, o olhar europeu

Marina Silva, o olhar europeu
Os jornais Le Monde, francês e o El Pais, espanhol, dão espaço e apresentam para a Europa a candidata do Partido Verde

Foto: Agência Brasil

Fontes: Le Monde, El Pais

Dois importantes jornais europeus dedicaram grandes espaços para falar de Marina Silva, nas últimas semanas, o espanhol El Pais e o Frances Le Monde, estão dando mais importância à candidata do PV, para presidente da republica do Brasil, do que está ocorrendo no Brasil.

O comentarista político do Le Monde, Jean Pierre Langellier, diz que apropriadamente Marina costuma se comparar a uma jaguatirica, esse gato selvagem que "se isola para lamber suas feridas", antes de voltar ao ataque e assevera, “Marina Silva tem a paciência de um felino que espera pela hora de atacar. Gentil, frágil e totalmente determinada. Em maio de 2008, ela era a ministra brasileira do Meio Ambiente há cinco anos e meio quando pediu demissão.”

Diz que Marina explica que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu veterano e amigo - político e pessoal - que a nomeara para esse cargo, não a apoiava o suficiente em sua cruzada por um desenvolvimento sustentável.

Em agosto, ela deixou o Partido dos Trabalhadores (PT), fundado por Lula, onde militou durante 24 anos, e entrou para o pequeno Partido Verde (PV). Ninguém duvida que agora ela irá até o fim de sua ambição, disputando a Presidência da República daqui a um ano. Ela tem diante de si outra mulher, Dilma Rousseff, a candidata do PT escolhida por Lula.

Comenta que Marina diz que não pode ainda falar “como candidata, mas creio que o debate deve ser sobre idéias e que a ética deve prevalecer. Eu nunca mentiria a respeito da honra de alguém para ganhar eleições. Eu gostaria de fazer algo parecido com o que o PT fez há 20 anos, quando rompeu com os partidos tradicionais

Foto: Arquivos

Marina Silva, quando ganhou as eleições para senador em 1994

O jornal El Pais, lembra que ela foi o primeiro integrante do governo confirmado por Lula quando ganhou as eleições em 2002. Afirma que ela adotou a resistência, contra o agronegócio, a soja transgênica, a rápida expansão dos bicombustíveis, a construção de usinas hidroelétricas, e se mobilizou pela proteção da Amazônia. Antes de se distanciar de Lula e aceitar o convite feito pelos Verdes para levantar ainda mais alto sua bandeira.

Chama Marina Silva, "a imaculada", que tem como principal trunfo sua integridade, reconhecida por todos. Por sua retidão moral e sua coerência política, ela pode seduzir os jovens que buscam utopia e os decepcionados com o "lulopetismo", que criticam seu partido pelas inúmeras maquinações parlamentares. Em um Brasil onde ainda reinam o nepotismo e a corrupção, ela encarna uma abordagem política com enfoque no desejo de convencer, onde "a autoridade dos argumentos" substituiria "os argumentos da autoridade".

Mãe de quatro filhos originados de dois casamentos, Marina Silva é uma personalidade complexa, politicamente progressista e socialmente conservadora. Cristã fervorosa desde sempre, ela entrou para uma Igreja evangélica, a Assembleia de Deus, sem romper com o catolicismo. Hostil ao aborto, que continua sendo proibido - salvo exceções - no Brasil, ela é uma adepta do criacionismo, que gostaria que fosse ensinado nas escolas, como matéria facultativa.

Em seu austero escritório no Senado, Marina Silva esforça-se para não fazer o menor ataque contra Lula. No entanto, a senadora toma cuidado para referir-se sempre ao progresso do Brasil como "um processo dos últimos 16 anos", isto é, que começa com Fernando Henrique Cardoso e não com Lula.

O Le Monde mostra um perfil da Senadora, dizendo que a personalidade de Marina Silva, 51 anos, negra, de origem muito humilde como Lula e com um forte sentido ético da política, torna as coisas muito mais difíceis (para a candidata de Lula).

Marina e Chico Mendes
Sua chegada ao circuito eleitoral, com conotações que fazem lembrar a candidatura de Barack Obama nos EUA, pode desviar a atenção de muitos jovens, interessados em suas ideias ambientais. Silva, herdeira do mítico ecologista Chico Mendes, assassinado em 1988 por latifundiários da Amazônia, é também uma pessoa dotada de simpatia pessoal e um caráter dialogador, que obrigará a colocar sobre o tapete eleitoral a delicada questão do desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Sua candidatura tornará mais dinâmica uma campanha eleitoral que logo se resumiria a um duelo entre Dilma Rousseff e José Serra, o governador centrista do Estado de São Paulo. Lula, que a trata com consideração, gostaria que ela agisse com reciprocidade. Por enquanto, Marina poupa o partido do presidente: "Mudei de casa [política]", ela explica, "mas continuo morando na mesma rua".

"Chegou a hora de uma mulher governar o Brasil", repetia Lula, nos últimos meses, certamente pensando em Dilma. É um discurso presidencial que convém a Marina.- Conclui o comentarista do Le Monde

Veja a tradução dos artigos na íntegra no portal da UOL El Pais, Le Monde

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