18 de out. de 2009

RIO DE JANEIRO: Cenas de guerra na sede das Olímpiadas 2016

RIO DE JANEIRO
Cenas de guerra na sede das Olímpiadas 2016
Pânico, pavor, mortes, armas de guerras disparadas, populações em fuga, esse cenário em nada combina com uma cidade que em poucos anos vai receber a abertura da Copa do mundo e depois os Jogos Olímpicos

Foto: Pablo Jacob/Jornal Extra

Policiais entrincheirados na rua, em posição de combate. População civil em meio ao fogo cruzado

Fontes: El Pais, Aljazeera, The Guardian, O Dia, Blog Caso de Polícia, Twitter Militar Legal, Portal Terra, The New York Times

A população do Rio de Janeiro amanheceu, neste sábado 17, acuada e perplexa diante da violência do maior confronto dos últimos tempos. A disputa entre traficantes rivais produziu, nas primeiras horas de ontem, cenas de morte e destruição, comparáveis apenas a zona de guerra. Bandidos do Complexo do Alemão e do Jacarezinho invadiram o Morro dos Macacos, através do Morro São João por volta das 3h da manhã deste sábado.

Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia

Policiais combatem as chamas dos destroços do helicóptero da Polícia abatido pelos bandidos, dois policiais morreram carbonizados

A Polícia Militar entrou em ação e foi recebida a bala pelos bandidos. Depois de sete horas de intenso tiroteio entre quadrilhas no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, O helicóptero do Grupamento Aéreo-Marítimo (GAM) da Polícia Militar acabou abatido enquanto sobrevoava os morros da Matriz e do Sampaio.

A aeronave havia socorrido para o Hospital Central da Polícia Militar, um soldado ferido e voltou ao local para apoiar a operação policial, quando foi alvejada, provavelmente por um míssil antiaéreo.

Foto: Pablo Jacob/Jornal Extra

O Cabo Izo Gomes Patrício, 36, sendo socorrido pelos companheiros

Houve um princípio de incêndio ainda no ar e o piloto, capitão Marcelo Vaz, mesmo atingido por um tiro, conseguiu evitar uma tragédia maior, desviando das casas, fazendo um pouso forçado num campo de futebol da Vila Olímpica do Sampaio.

Dois soldados, da tripulação da aeronave Marcos Stadler Macedo, 40, e Edney Canazaro de Oliveira, 30, morreram carbonizados. Ainda estavam a bordo o capitão Marcelo de Carvalho Mendes, 29, copiloto, que levou tiro de fuzil no pé direito; o cabo Anderson Fernandes dos Santos, 34, que sofreu queimaduras e o cabo Izo Gomes Patrício, 36, que teve 80% do corpo queimado e está em estado grave.

Foto: Reuters

Familiares junto a quarto vítimas civis

Até a noite de ontem, o saldo era de 15 mortos, incluindo os PMs. Segundo a polícia, 12 seriam traficantes, mas famílias de quatro jovens negam essa versão. Além dos quatro feridos na queda do Esquilo, foram baleados um cabo e o major João Jacques Busnello, que como atirador de elite, há um mês matou um ladrão que mantinha refém na Tijuca. A Secretaria de Segurança montou uma operação de emergência com 2 mil policiais, para evitar novos confrontos, hoje de manhã, domingo 18, dois traficantes foram mortos em confronto com o BOPE.

Foto: Pablo Jacob/Jornal Extra

Os chefes do tráfico mandam que sejam queimados ônibus para tumultuar a ação da polícia

Pouco depois, uma onda de terror tomou conta da Zona Norte. Houve ataques a ônibus perto de favelas ligadas ao Comando Vermelho (CV), facção que invadiu o Morro dos Macacos, para desviar a atenção da polícia, noticia-se que 10 ônibus e um automóvel foram destruídos. A empresa estatal Rio Ônibus orientou as empresas que tinham linhas passando pelos bairros em confronto que recolhessem seus veículos.

Foto: Pablo Jacob/Jornal Extra

Jornalistas e curiosos próximos ao helicóptero abatido, ainda em chamas

Foto: AP

Famílias em fuga, “apenas com a roupa do corpo”

Dezenas de moradores do Morro dos Macacos abandoram suas casas com mochilas nas costas ou só com a roupa do corpo. A., de 24 anos, deixou a favela com a esposa e os filhos de 1 e 4 anos, para passar pelo menos o fim de semana na casa de familiares, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio.

Foto: Pablo Jacob/Jornal Extra

"Não dá para viver assim, estamos saindo com a roupa do corpo". A doméstica M., 43 anos, que nasceu no morro, disse que foi a pior invasão que o morro sofreu. "Precisei tomar calmante, chorava e pedia misericórdia", disse, ao deixar a casa com mais 12 familiares em direção a Saracuruna.

Foto: Pablo Jacob/Jornal Extra

Cenas dignas de filmes de ação: uma realidade, ao vivo, no Rio de Janeiro

Um gabinete de crise foi montado no 6º BPM (Tijuca), de onde a cúpula da segurança acompanhou a operação, sem data para acabar. Para conter os confrontos entre as facções criminosas Comando Vermelho (CV) e Amigos dos Amigos (ADA) foram montados cercos nos complexos da Penha e Alemão, Manguinhos e Jacarezinho, todas do CV, além do Morro do São Carlos e da Rocinha, da ADA. “Foi uma ação desesperada do tráfico para recuperar espaço e dinheiro que perderam. A criação das Unidades de Polícia Pacificadora contribuiu para isso. Ataques não vão desviar nossa estratégia”, disse Beltrame.

Foto: Pablo Jacob/Jornal Extra

Policiais com armas pesadas percorriam as ruas em busca dos bandidos

A mobilização das polícias começou cedo. Pela manhã, o chefe de Polícia Civil, Allan Turnowski, determinou que agentes da Capital fossem convocados. A maior parte ficou nas ruas, e, outro grupo, no Centro de Inteligência da Civil. “Nada ficará sem resposta. Sabemos o motivo e quem foi o responsável. A resposta virá. Outras invasões já aconteceram. O que diferenciou a de hoje (ontem) foi a queda do helicóptero”, avaliou Turnowski. “Não estamos movidos por sentimento de vingança, mas de justiça. Eles (bandidos) serão vítimas de suas próprias escolhas”, avisou o comandante-geral da PM, Mário Sérgio.

Foto: Alexandre Brume Carlo Wrede/Agência O Dia

Não é um filme, não é um treinamento é guerra ao vivo, nas ruas do Rio

As suspeita do ataque ao helicóptero, recaem sobre o traficante Fabiano Atanázio da Silva, o FB, da Vila Cruzeiro, que chegou ao Macacos após a invasão e saiu à tarde. Há dois meses, policiais civis receberam a informação de que ele tinha planos de derrubar um helicóptero. Ontem, ele teria dado ordens para os criminosos usarem um míssil antiaéreo comprado por R$ 200 mil. Na operação foram apreendidos seis fuzis; uma carabina ponto 30; duas pistolas; 20 quilos de maconha; 1.450 munições. Quatro motos e oito carros foram recuperados.


Detalha da primeira página de dois jornais cariocas

Os principais jornais do mundo noticiaram o episódio de violência envolvendo traficantes rivais e a Polícia Militar do Rio de Janeiro, o The New York Times, dos Estados Unidos, lembrou que o confronto ocorreu apenas duas semanas depois que a cidade foi escolhida para sediar os Jogos Olímpicos de 2016. O britânico The Guardian deu em manchete que a “sede da Copa de 2014 foi abalada por uma violenta batalha pelo controle do tráfico”. A guerra também foi divulgada pelos jornais espanhóis El Pais e El Mundo e pela rede árabe de notícias Aljazeera.

Uma coisa é certa, se esses fatos tivessem ocorrido algumas semanas antes, o Rio não teria ganhado a possibilidade de sediar as Olimpíadas. Mas do que nunca, agora, a cidade maravilhosa, passa a ser observada. Se as autoridades não conseguirem vencer a guerra contra o tráfico, nesses próximos anos, poderemos ter Jogos Olímpicos sem turistas.


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