23 de out. de 2009

Erro de Pessoa

Erro de Pessoa
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Photoshop Toinho de Passira

Fonte: Blog do Noblat

Quando uma vez, há muitos anos, ouvi falar que os casamentos podiam ser dissolvidos por erro de pessoa, no civil e no religioso, pensei que fosse o seguinte: você se casava com o João, mas a certidão, por erro do cartório, saia em nome do José. Que nada, como todos sabem, é negócio muito mais complicado do que um simples engano.

É erro de pessoa mesmo. Erro essencial de pessoa, é a expressão correta. É quando um dos nubentes verifica que a verdadeira identidade do outro pode causar dificuldades para a convivência em comum, tornando insuportável a vida de casados.

Não sou advogada e quando me ocorreu que é isso que ando sentindo, já passava de meia-noite e não podia incomodar os amigos advogados para perguntar mais detalhes. Espero que minha explicação do que é erro essencial de pessoa esteja correta e, se não estiver, que me corrijam; aprender é das coisas mais prazerosas que existem.

Pois é assim que me sinto em relação ao presidente Lula. Houve um Erro Essencial de Pessoa. Um voto é um SIM muito forte que se dá a alguém. Já sei, já sei, lá vem a turma de sempre a dizer que tenho ideia fixa nessa figura. É verdade: penso muito nele. E sabem por quê? Primeiro porque goste ou não, ele é o Chefe de Governo de meu país. E também porque goste ou não da recordação, sou uma das responsáveis por ele estar onde está.

Quando votei no Lula em 2002, votei nele por acreditar em tudo que ele agora alega que é manha da oposição! Votei porque achei que o que ele pregava era o que ele ia fazer e não porque ele achasse que aquele era o caminho mais fácil para chegar ao Planalto. Votei nele porque acreditei.

Não pensem que deploro ele ter mudado de pele. Isso, acho natural. Enriqueceu, tratou da pele, alisou os cabelos, cuidou das unhas e do sorriso, fez boas roupas, só usa sapatos de alto coturno, imagino – nunca o vi de perto – que só use colônias de marca e seu closet com certeza já tem um imenso espaço só para as gravatas. Tudo isso é natural, ninguém quer andar para trás, não seria razoável supor que ele fosse eleito e continuasse a se vestir como quando era sindicalista.

A única ressalva que faço é a seguinte: toma tempo, diariamente, manter essa formosura toda. Não acredito que estadistas tenham tempo para conservar o glamour, mas enfim, Lula não é um estadista.

O que me deixa angustiada, e com esse sentimento de culpa, é a mudança de alma. Quando ele disse que em vez de uma eleição o que gostaria mesmo era de um plebiscito, achei que era a gota d'água, que o povo brasileiro ia reclamar. A frase do presidente não deixa dúvidas: é auto-explicativa: "Eu gostaria, e o momento vai dizer se vai ser possível ou não, que todos nós tivéssemos apenas um candidato, que fizéssemos uma eleição plebiscitária, ou seja, nós contra eles, pão pão, queijo queijo”.

Quer dizer: o que ele quer é o plebiscito Sim Ao Terceiro Mandato x Não Ao Terceiro Mandato. Dito com outras palavras, mas é o que ele almeja.

Mas isso não bastou. É como se ele estivesse determinado a arrasar com todas as ilusões que porventura ainda pudessem existir. O neo-Lula, o da pele e da alma novas, declarou que não é possível sentar naquele trono no Planalto sem uma coligação com Judas. Como é possível um presidente da República dizer uma coisa dessas depois de passar 30 anos, como candidato, condenando tudo e todos e prometendo que com o PT no poder os Judas não iam ter vez? Quer dizer que tiveram vez e ainda por cima, estão em coligação com o Governo Federal? Mas quem são eles? Insinuar é muito feio. Acho que agora ele está na obrigação de nos dizer quem são os Judas com quem se coligou

Em casamento, um erro essencial de pessoa permite a dissolução da sociedade conjugal. E no caso em pauta, será que não permite a dissolução da sociedade eleitoral? Pergunto por que no meu caso houve um erro essencial de pessoa. Votei numa pessoa cuja verdadeira identidade não era a que eu supunha. Quero meu voto de volta!


Nenhum comentário: