Mais de três anos antes das próximas eleições presidenciais nos EUA, um movimento já começa a chamar a atenção para a disputa: o de republicanos articulados em campanhas fora do partido contra uma possível candidatura da democrata
Hillary Clinton à Casa Branca.
A ex-secretária de Estado americana ainda não anunciou se realmente pretende concorrer ao cargo, mas grupos que se opõem a ela afirmam que precisam estar preparados desde já, antes que seja tarde demais para impedir que
"mais um Clinton" ocupe a presidência ─ o marido de Hillary, Bill Clinton, governou os EUA de 1993 a 2001.
"É crucial começar agora", disse à BBC Brasil Garrett Marquis, porta-voz de um dos grupos já em ação, o Stop Hillary PAC (sigla em inglês para Comitê de Ação Política, organizações que não são ligadas oficialmente a nenhum candidato ou partido, mas podem arrecadar fundos e fazer campanhas a favor ou contra candidatos ou causas).
"A máquina Hillary e Bill Clinton está pronta para agir no momento em que eles precisarem. Eles têm força desde o primeiro dia, assim que ela decidir quando será o primeiro dia. Nós precisamos estar prontos para enfrentá-la quando esse dia chegar", afirma.
Foto: Getty Images
IMAGENS NEGATIVAS
Na semana passada, o Stop Hillary PAC divulgou na internet um vídeo de 50 segundos com imagens negativas sobre um possível governo Hillary.
No vídeo, uma voz feminina presta o juramento presidencial enquanto imagens de cerimônias de posse anteriores são intercaladas por palavras remetendo a escândalos aos quais Hillary esteve supostamente ligada, como o ataque ao consulado americano em Benghazi, na Líbia, quando ela era Secretária de Estado, que resultou na morte do embaixador americano no país, Christopher Stevens.
Foto: Chip Somodevilla/Getty Images
A FORÇA DE HILLARY
Embora tenha saído do governo federal em fevereiro deste ano, deixando a chefia da diplomacia americana para John Kerry, Hillary acumula um capital político de peso, que data desde o escândalo Monica Lewinsky, 15 anos atrás. Aos olhos dos liberais foi vista como a mulher que apesar de traída deu a volta por cima, tornou-se senadora e galgou sua ascensão política no país.
Já para o público mais conservador exemplificou o ideal da mãe e mulher firme, capaz de perdoar uma traição diante de todo o mundo. Sob qualquer interpretação, no entanto, sua reação ao escândalo solidificou a imagem de uma mulher forte e capaz de superar obstáculos e crises.
Ao longo dos anos ganhou destaque internacional, e à frente do Departamento de Estado ficou conhecida pelo pulso firme mas também surpreendeu deixando-se fotografar dançando e se divertindo.
Na frente eleitoral, embora não tenha formalizado a pré-candidatura, vem mostrando mobilização. Nesta semana a democrata tomou café da manhã com o vice-presidente, Joe Biden, e almoçou com o presidente americano, Barack Obama.
Em outro desdobramento, a CNN Films, uma divisão da rede de notícias americana, confirmou que fará um documentário sobre a vida da ex-senadora, que além de ser transmitido pelo canal deve chegar às salas de cinema de todo o país.
Formado em maio, o grupo é liderado pelo senador republicano Ted Harvey, do Estado do Colorado, e já vem arrecadando simpatizantes e contribuições financeiras para "assegurar que Hillary Clinton nunca se torne presidente dos EUA".
Segundo Marquis, o grupo vem buscando engajar "americanos preocupados (com um possível governo Hillary)" em todo o país, por meio de e-mails, redes sociais e telefonemas. Também estão previstos anúncios de rádio e TV.
"Nosso objetivo é parar Hillary Clinton e isso inclui não só as eleições presidenciais de 2016, mas também as eleições legislativas de 2014", diz.
"Onde quer que ela vá, dando apoio candidatos e fazendo discursos, nós iremos também, ajudando candidatos que concorram contra aqueles que ela apoia."
Charge: Taylor Jones (USA)
CARICATURA
O Stop Hillary PAC é apenas o mais recente dos grupos conservadores a tornar pública sua campanha contra Hillary.
No mês passado, o PAC America Rising, liderado pelo coordenador da campanha presidencial do republicano Mitt Romney em 2012, Matt Rhoades, lançou o movimento Stop Hillary 2016, com o objetivo de "evitar outro governo Clinton, depois de oito anos com o presidente (Barack) Obama".
Segundo o cientista político Christopher Malagisi, professor de História do Movimento Conservador na American University, em Washington, o principal objetivo desses grupos é se antecipar e caracterizar Hillary da maneira como a veem, em vez de como ela própria tenta se apresentar.
"É uma oportunidade de formar uma caricatura do adversário antes que ele tenha a chance de definir sua imagem", disse Malagisi à BBC Brasil.
Apesar de Hillary ainda não ter anunciado se pretende concorrer em 2016, sua possível candidatura já tem o apoio oficial de nomes de peso no Partido Democrata, como a senadora Claire McCaskill, do Missouri, e de PACs como o Ready for Hillary, formado em janeiro.
Pesquisas indicam que Hillary é a favorita entre os possíveis pré-candidatos democratas e também contra possíveis candidatos republicanos na eleição geral.
De acordo com uma pesquisa McClatchy-Marist, realizada pela empresa de comunicações McClatchy e o Instituto Marista de Opinião Pública e divulgada na semana passada, 63% dos democratas votariam em Hillary.
Segundo a sondagem, o possível candidato republicano com maiores chances contra Hillary na eleição geral seria o governador de Nova Jersey, Chris Christie. Ainda assim, Hillary ficaria à frente, com 47% dos votos, contra 41% de Christie.
Foto: Drew Angerer/The New York Times
I’M HILLARY CLINTON 2016 - Estagiários no Comitê de Ação Política, pró Hillary, na Virginia, preparando correspondência, já receberam mais de 65.000 pedidos de adesivos para carros
INFLUÊNCIA
Movimentos do tipo "Stop Hillary" não são novos. Antes das eleições de 2008, quando a ex-senadora concorreu pela indicação democrata contra Obama, também houve campanhas contra sua candidatura.
A diferença agora, diz Malagisi, é o crescente papel dos PACs nas eleições ─ especialmente a partir de 2010, quando a Suprema Corte dos EUA decidiu que os chamados Super PACs (PACs especiais) podem arrecadar fundos sem limites de indivíduos, empresas, sindicatos e outros grupos.
"Há muita gente olhando para 2012 e tentando ver o que deu certo e o que deu errado, para garantir que seus Super PACs sejam mais influentes. Eles pensam: 'Se formarmos um Super PAC agora, estaremos melhor preparados para 2016'", afirma.
Segundo Malagisi, ainda é cedo para medir a influência dos Super PACs nas próximas eleições.
"Mas com certeza serão um fator importante. Estamos apenas no começo do que será o papel dos Super PACs."
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