Mercadante, o “entrão”, procurou Temer, o cauteloso, para tentar derrubar Guido Mantega, o equilibrista
BRASIL - Conspiração Mercadante, o “entrão”, procurou Temer, o cauteloso, para tentar derrubar Guido Mantega, o equilibrista O ministro da Educação foi ao vice-presidente da República para expor um plano insólito: fazer parte de uma conspiração para convencer Dilma Rousseff a demitir o ministro da Fazenda. Temer ouviu, não falou nada e espalhou que recebera a proposta indecente, para fazê-la chegar aos ouvidos da presidenta Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil Postado por Toinho de Passira Uma reportagerm de Veja desta semana assinada por Robson Bonin conta que a meteórica queda de popularidade dos governantes não foi a única consequência imediata dos protestos que tomaram as ruas do país há pouco mais de um mês. Eles também desestabilizaram governos e alianças políticas que se mantinham unidos diante da perspectiva — cada vez mais incerta — de vitória nas eleições de 2014. Na semana passada, um graduado auxiliar da presidente Dilma Rousseff fez o seguinte diagnóstico: "O clima no governo nunca esteve tão ruim. É um clima de barata voa, muito fogo amigo, ministro atacando ministro, uma situação caótica. Está todo mundo brigando com todo mundo, falando mal de todo mundo". O melhor exemplo dessa atmosfera de desentendimento ocorreu na quinta-feira 18, numa reunião entre o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT). Era para ser uma agenda de rotina, mas a conversa trilhou o caminho de uma insólita conspiração que teve como alvo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já devidamente acossado por políticos, empresários e sindicatos devido ao desempenho pífio da economia brasileira. Com a autoridade de quem desfila pelos gabinetes de Brasília como uma espécie de primeiro-ministro informal de Dilma, e de quem foi conselheiro econômico do ex-presidente Lula, Mercadante propôs o plano para forçar a demissão de Mantega. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Ele chegou ao Palácio do Jaburu pouco antes das 9 da manhã. Travou a conversa com Temer num conjunto de poltronas que ficam em um canto reservado do salão principal da residência oficial do vice-presidente da República. De início, Mercadante criticou a articulação política e a atuação da equipe econômica, reproduzindo queixas correntes no Congresso. Depois, o petista foi mais incisivo e falou que o governo precisava de gente mais competente e com mais autonomia nessas duas áreas. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil A referência a setembro foi feita como forma de adular os peemedebistas. Uma ala do partido defende uma reforma ministerial imediata. Para entregar os cargos, como sugeriu o líder da bancada na Câmara, Eduardo Cunha? Longe disso. Com as trocas, o partido quer assumir pastas com mais recursos à disposição e mais visibilidade política.
Dois dias depois da conversa entre o ministro e o vice-presidente, dirigentes do PT aprovaram um documento que pede mudanças no governo — entre elas, na economia e na articulação política. Dilma sabia que esse fogo amigo estava sendo urdido pelos petistas. Por isso, não apareceu na reunião do partido. Quem responde pela articulação política é a ministra Ideli Salvatti, que não perdoa o fato de Mercadante agir no Congresso como se fosse ele o responsável pelas negociações com deputados e senadores. Chefe da Casa Civil, a ministra Gleisi Hoffmann ecoa a opinião de Ideli e repete as mesmas críticas às interferências indevidas e à desenvoltura desmedida do ministro da Educação. Mercadante quer suceder a Gleisi no posto. Considerado um trator pelos próprios petistas, ele quer o cargo com os mesmos poderes de que gozava o mensaleiro José Dirceu. Ou seja: Mercadante substituiria Ideli e Gleisi juntas. Valeria pelas duas. Esse apetite, somado às ingerências, é um catalisador do caos administrativo. Numa reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, por exemplo, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, fez questão de declarar que discursaria pouco porque Mercadante, ministro da Educação, já havia falado quase tudo sobre a área da saúde. Uma queixa polida na forma, mas contundente no conteúdo. "A Ideli está revoltada com o Mercadante, a Gleisi também. Depois da reunião do conselhão, a própria Dilma deu um chega pra lá nele, porque o Mercadante não pode ver uma brecha que quer ocupá-la", diz um senador petista. Mercadante sabe que não é querido no PT. Por isso, aposta as fichas no PMDB. Nos últimos meses, tomou-se um interlocutor frequente de cardeais como Renan Calheiros, presidente do Senado, Henrique Eduardo Alves, comandante da Câmara, e Temer. É neles que procura apoio para se cacifar politicamente. Uma jogada perigosa. O clima que já está ruim pode ficar ainda pior. |
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