19 de fev. de 2009

É CRIME ROUBAR BEIJO NO GALO DA MADRUGADA

Foto: Toinho de Passira

Fonte: O Globo

Saiu na imprensa que o Ministério Público, o Tribunal de Justiça e a Defensoria Pública do Recife AVISAM que quem tentar beijar alguém à força ou agarrar uma pessoa sem consentimento, durante o desfile do Galo da Madrugada pode ser enquadrado por atentado ao pudor.

Provando que a medida é para valer, as autoridades estarão numa dependência do Poder Judiciário, próximo ao percurso do Galo, só para julgar esses casos, praticamente, em tempo real, numa celeridade inédita da justiça.

“O infrator processado pode ir para cadeia”, diz a nota oficial.

A questão porém, bem maior que possa imaginar as autoridades pernambucanas. Esse pessoal, que publica essas notas, nunca entrou na Rua da Concórdia seguindo Galo: uma amiga minha engravidou, nesse percurso, de trigêmeos, de pais diferentes.

Para cumprir a lei basta estacionar um juiz e um promotor na Praça Joaquim Nabuco e processar todo mundo que estiver saindo da Rua da Concórdia.

Normalmente os turistas, estrangeiros ou sulistas, sem entender muito o como se processa a coisa, entram com as próprias esposas no corredor da folia. Ao desaguar no final eles estão normalmente muito irritados e querendo ir embora, e as mulheres se dizem desejosas, em refazer o percurso.

Os perigos, porém são múltiplos, por exemplo, nem sempre dá para exibir sua preferência sexual exclusiva, ou aquela social, qualquer que seja, na passagem do Galo pela tal extensa Rua da Concórdia.

As circunstâncias podem obrigá-lo a agarrar de forma obscena a cunhada quinze anos mais nova, embora, ao corra o risco de ao mesmo tempo, sofrer um assédio inevitável de um Rambo sarado, que como você, não deixa dúvidas das suas intenções.

Foto: Toinho de Passira

Durante essa montanha russa sexual, muita gente saiu e entrou em armários diferentes, brotando quase outra pessoa na Praça Joaquim Nabuco.

Não chega a ser uma circunstância violenta, são efeitos físicos biológicos, sociológicos naturalmente brotando, quando reunidos num imenso laboratório ao ar livre.

Explicando, como a multidão é maior que o estreito espaço acomodaria, e como sentencia à física, dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, dentro do possível, há umas tentativas involuntárias ou não de acoplamentos.

Fica todo mundo coladinho, como se fosse um só corpo, ainda por cima tentando dançar o frevo, esfrega dali, esfrega daqui, a multidão lhe domina e lhe joga para todos os lados. Às vezes, por exemplo, você está com a mão pousada numa área interessante da anatomia da amiga de sua mulher, mas no instante seguinte, algo desagradável pode estar apoiado na sua mão.

Falta o ar. Você começa a respirar alto e gritar, sem que ninguém se incomode, tudo que lembra um sexo selvagem, dos primeiros dias de relacionamento.

Diríamos sem medo de errar que esse é mais uma número, ligado ao Galo da Madrugada, que deveria estar no Guinness Book, “a maior suruba coletiva do planeta.”

Voltando ao Poder Judiciário, eles pretendem exatamente tentar tranqüilizar e dar uma sensação de proteção ao cidadão comum, diante desses desagradáveis momentos que costumam assistir pela televisão.

Não ficou claro, porém, com você vai conseguir levar, até o tribunal, a tribo dos 12 Apaches do Jordão de Baixo, que beijou e apalpou em mutirão a sua noiva, num ritual de fertilidade e acasalamento?

Outra dúvida que surge é se ela vai aceitar testemunhar contra aqueles "selvagens simpáticos" depois de ter ganho o título de “Pocahontas, a Princesa gostosa da Rua do Sol.”(?)

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