4 de fev. de 2009


O PLANO DE ACELERAÇÃO DAS NOTÍCIAS

Reinaldo Azevedo
Fonte:Blog do Reinaldo de Azevedo

Sim, Lula sabe usar a imprensa como ninguém — e, com exceções, esta se deixa usar como nunca antes nestepaiz... Mas é um erro considerar o Apedeuta um fenômeno de mídia. Um erro fatal.

Isso não quer dizer que Lula não tenha um impecável e infalível PAN (Plano de Aceleração das Notícias) — ou, se quiserem, PAM (Plano de Aceleração das Manchetes). As de amanhã, salvo alguma hecatombe, vão anunciar a construção de 500 mil casas — sem prazo, claro, mas o anúncio está feito.

É um PAC dentro do PAC —e caberia um terceiro “dentro do PAC”. Por quê? Já há um programa de habitação incluído do Plano de Aceleração do Crescimento. A quantas anda? Só Deus sabe. Este a que se refere Lula é um outro, que ele acabou de inventar. No discurso, aproveitou para demonizar os ricos e para criticar aqueles que, segundo disse, reagem à ocupação, pelos pobres, de prédios públicos ociosos em áreas centrais das cidades.

Esse PAC, dentro do PAC, dentro do PAC — como aquelas bonequinhas russas — será tocado pelo Ministério das Cidades, afirma ele, em parceria com a Fazenda e a... Casa Civil. Casa Civil cuidando de habitação? A desculpa é que tudo pertence ao grande PAC, a mãe de todos os programas. Então ta. Trata-se, e a presença de Dilma no evento não deixa a menor dúvida, de uma peça de propaganda eleitoral.

Ela própria discursou, já pré-candidatíssima. E referiu-se com desdém aqueles que dizem, com acerto, aliás, que o PAC não existe e é só nomenclatura nova para um conjunto de obras que cabe mesmo ao governo realizar — o atraso no tal programa atinge nada menos de 62% dos projetos, é bom lembrar.

Esse anúncio frenético de futuras obras e essa clara determinação de dar por realizado o que ainda é intenção tem, certamente, um peso importante na consolidação da imagem de Lula e nos 13.5% de intenção de votos de Dilma, a primeira coadjuvante de todas as intervenções do chefe. Ainda que o brasileiro/eleitor possa não conhecer a obra ou alguém que foi beneficiado por ela, dá como certo que a coisa está sendo feita.

Tome-se como exemplo a micada transposição do São Francisco. Durante uns bons meses, Lula posou como o Antonio Conselheiro do sertão, que iria virar mar. Ninguém mais toca no assunto. A fase de faturar politicamente com aquela história já passou.

E assim segue Lula, como uma espécie de cronista dos problemas brasileiros e prestidigitador que resolve as coisas num passe de mágica. Ainda que elas não se resolvam, já que coelhos não saem de cartolas, e problemas não desaparecem ao simples torque das mãos.

Lula vai construir as 500 mil casas até o fim de seu mandato? Claro que não. Mas vai, como é mesmo?, “criar as condições” para isso, entenderam? Não subestimem Lula e sua capacidade de manter a frieza mesmo no cenário mais inóspito. No dia em que a indústria exibiu um resultado catastrófico, ele prometeu a construção de 500 mil casas. O resultado da indústria é um fato; as casas são uma promessa. Mas estas deitarão sua sombra sobre aquele e dirão ao leitor/ouvinte/telespectador: "Lula está trabalhando".

Nas democracias mundo afora, esse comportamento do governante costuma ser desmascarado pelas oposições. Elas estão um tanto intimidadas, não é? O PAN ajuda a consolidar a popularidade de Lula, e os oposicionistas não vão trombar com quem é tão popular, e o que é círculo vicioso para o Brasil acaba sendo círculo virtuoso para Lula.

Ele chegou ao ponto em que não precisa construir 500 mil casas. Basta anunciar a construção