16 de jun. de 2012

Parlamentares da CPMI, almoçaram, em Paris, “por acaso”, com o “investigado” Cavendish

BRASIL – Corrupção – CPMI Cachoeira
Parlamentares da CPMI, almoçaram, em Paris,
“por acaso”, com o “investigado” Cavendish
“Como todo mundo sabe, Paris é uma cidade pequena onde todo mundo se esbarra. Portanto, nada mais natural que o senador Ciro Nogueira, do PP, e o deputado Mauricio Quintela, do PR, que por acaso são membros da CPI do Cachoeira, encontrarem casualmente num restaurante da Avenue Montaigne com o empreiteiro Fernando Cavendish" (da investigadíssima construtora Delta)- ironiza Merval Pereira no seu Blog

Foto: Divulgação

ACASOS E COINCIDENCIAS: - Vista de Paris a partir do terraço do Restaurante Maison Blanche, na Avenue Montaigne, a mesma onde aconteceu o tal almoço “casual”, “acidental”, “fortuito” e “imprevisto”

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Blog do Josias de Souza, Blog do Merval, Blog do Garotinho

Josias de Souza comenta no seu blog que o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o deputado Maurício Quintella Lessa (PR-AL), integrantes da CPI do Cachoeira, avistaram-se com o presidente licenciado da Delta Construções, Fernando Cavendish, num restaurante de Paris. Deu-se em abril, durante a Semana Santa.

Nesta quinta (14), votou-se na CPI o pedido de convocação de Cavendish. Foi rejeitado. Placar apertado: 16 a 13. O senador Ciro votou contra o depoimento. O deputado Maurício ausentou-se da sessão. Quer dizer: o comportamento de ambos influiu no resultado.

O encontro do sócio majoritário da Delta com congressistas fora veiculado em 31 de maio no blog do deputado Anthony Garotinho (PR-RJ). Sem citar nomes, ele anotara: “Alguns deputados federais e pelo menos um senador almoçaram com Fernando Cavendish na Semana Santa, em Paris. Alguns inclusive são Membros da CPI do Cachoeira-Delta”.


A nota no Blog do Garotinho

Inconformado com o desinteresse da CPI em ouvir Cavendish, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) foi ao microfone. Insinuou a presença na comissão de uma “tropa do cheque para defender o Cavendish”. Abespinhado, Cândido Vaccarezza (PT-SP) levantou-se da cadeira. Dirigindo-se a Miro, declarou:

“Não assaque acusações genéricas. Se Vossa Excelência acha que tem um deputado que é da bancada do cheque, vire pro deputado e diga: é fulano. Eu não sou da bancada do cheque. Não sou!”

Miro não se deu por achado. Conversara com Garotinho. Pedira os nomes que o colega sonegara na nota que havia pendurado em seu blog. Garotinho não informou. Mas assegurou que o encontro de Paris ocorrera.

Dando-lhe crédito, Miro encaminhou à direção da CPI um requerimento. Quer saber quais parlamentares almoçaram com Cavendish e se o voto deles influiu no resultado da votação desta quinta. Citou uma missão oficial à África.

De fato, a missão ocorreu. Sete congressistas voaram para Kampala, na Uganda, para representar o Parlamento brasileiro na 126ª Assembleia Geral da União Interparlamentar. A viagem foi custeada pelo erário. O encontro aconteceu entre os dias 30 de março e 5 de abril.

Além de Ciro Nogueira e Maurício Quintella Lessa, integraram a comitiva Hugo Napoleão (PSD-PI), Átila Lins (PSD-AM), Alexandre Santos (PMDB-RJ), Iracema Portela (PP-PI) e Eduardo Fonte (PP-PE). No voo de volta, aproveitando-se do sacrossanto recesso da Semana Santa, alguns parlamentares fizeram escala em Paris.

Foi nessa passagem pela capital francesa que Ciro e Maurício avistaram-se com Cavendish. Acompanhou-os o deputado pernambucano, Eduardo Fonte (PP- PE), que não é membro da CPI. Nessa época, já crepitava nas manchetes dos jornais o escândalo Cachoeira e as ramificações da quadrilha com a empreiteira Delta.

Ouvido, Ciro Nogueira confirmou o encontro parisiense. Tratou-o como coisa fortuita. “Conheço Cavendish, tenho relação com ele há uns cinco anos. Mas nada que envolva doação de campanha. Nós só o cumprimentamos. Foi um encontro totalmente casual.”

O nome do restaurante? O senador disse que não se recorda. Lembra-se apenas do nome da rua: Avenue Montaigne. De resto, veio-lhe à memória um detalhe prosaico: acompanhados das respectivas mulheres, os parlamentares encontraram um Cavendish de namorada nova, “muito bonita.”

Na sessão em que a CPI refugou o pedido de convocação do presidente licenciado da Delta, coube a Ciro fazer um dos discursos de “encaminhamento” da votação. Se o encontro de Paris foi “casual”, a fala do senador foi providencial.

Ciro Nogueira soou assim na CPI: “Será que o doutor Fernando Cavendish vai chegar aqui e vai falar, vai entregar qualquer tipo? Não vai. Ou nos preparamos para a arguição dessas pessoas, ou nós vamos ser desmoralizados, como nós fomos ontem e anteontem [nas aguições dos governadores Marconi Perillo, de Goiás, e Agnelo Queiroz, de Brasília]”.

Reza a Constituição que as CPIs têm poderes análogos aos do Judiciário. Podem quebrar sigilos, intimar e interrogar pessoas. Em certas situações, podem até dar voz de prisão a depoentes que faltarem com a verdade.

Levando-se a analogia a limites extremos, os membros de uma CPI deveriam se abster de participar de decisões que envolvam “amigos”, como fazem os magistrados nos casos em que se declaram impossibilitados de julgar.

Na melhor hipótese, Ciro Nogueira teria rendido homenagens ao bom senso se houvesse privado a CPI do seu voto. Numa hipótese melhor ainda, pouparia a comissão do risco da pantomima abstendo-se de participar de uma investigação que tem na Delta do “amigo” Cavendish uma de suas ramificações mais promissoras.

Além de não convocar Cavendish, a CPI derrubou o pedido de oitiva de Luiz Antonio Pagot, ex-diretor-geral do Dnit, o órgão que mais brindou a Delta com contratos para execução de obras do PAC.

Pagot já disse e repetiu que tem o que dizer e deseja falar. Porém, numa reunião em que até Andressa Mendonça, a mulher de Carlinhos Cachoeira, foi convocada a depor, a CPI informou, por 17 votos a 13, que não tem interesse em ouvir o ex-mandachuva do Dnit.

Em articulação coordenada por Miro, um grupo de congressistas insurretos tenta viabilizar o depoimento de Pagot. Se der certo, ocorrerá em sessão informal e paralela. Algo inusitado, que, confirmando-se, levará às manchetes a criação de uma espécie de ‘CPI do B’. A autodesmoralização da CPI oficial já é evidente. Resta saber até que ponto os congressistas estão dispostos a permitir que o melado escorra.

Veja o vídeo do requerimento de Miro Texeira e a carapuça do petista Cândido Vaccarezza


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