27 de jun. de 2012

Desastrada operação do governo americano entregou milhares de armas a narcotraficantes do México

ESTADOS UNIDOS
Desastrada operação do governo americano entregou milhares de armas a narcotraficantes do México
Uma mal sucedida operação da agência americana que fiscaliza armas e explosivos do governo americano deixou que milhares de armas, que deveriam ser monitoradas, chegassem, sem controle, nas mãos de narcotraficantes do México. O escândalo ainda pode ser pior, levando-se em conta as manobras que a Casa Branca tem feito para abafar a extensão do caso, alimentando as suspeitas de que a estupidez dos agentes pode esconde algo maior

Foto: Divulgação

SONHO DE CONSUMO DOS CARTÉIS - AK-47, sigla da denominação russa Avtomat Kalashnikova odraztzia 1947 goda ("Arma Automática de Kalashnikov modelo de 1947"), é um dos mais eficientes fuzis-espingarda de assalto

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Veja - 25/06/2012, The Boston Herald, Los Angeles Time, Miami Herald, Huffington Post

Os grandes escândalos começam pequenos. No dia 15 de dezem¬bro de 2010, um agente da pa¬trulha de fronteira dos Estados Unidos, Brian Terry, foi assassinado durante um tiroteio no Arizona, perto do México. Na cena do crime foram encontrados dois fuzis de assalto AK¬47.

Examinando o número de série das armas, descobriu-se que elas haviam sido compradas por um laranja dos cartéis de droga mexicanos. Em segui¬da, soube-se que o laranja era um alvo sob vigilância da agência americana que fiscaliza armas e explosivos, co¬nhecida pela sigla ATF.

Os investiga¬dores sabiam da compra das armas, mas nada fizeram. De propósito. A ideia era deixar que elas chegassem às mãos dos compradores finais. Assim, em vez de prenderem apenas um laran¬ja, os investigadores da ATF desvenda¬riam toda a rede de tráfico de armas na fronteira que abastece os cartéis da droga no México. A investigação foi batizada de Operation Fast and Furious (Operação Rápida e Furiosa). Equiva¬lente em sua intrínseca capacidade de dar errado a apagar incêndio com ga¬solina, o plano falhou.

Brian Terry, o agente da fronteira, assassinado, com o fuzil da desastrada “Operação Rápida e Furiosa”
As cerca de 2000 armas foram dis¬tribuídas sem critério, em vez de ser en¬tregues em um único carregamento fácil de monitorar, como planejaram os in¬vestigadores da ATF. Uma parte das ar¬mas foi parar no México, outra ficou dentro dos Estados Unidos mesmo. Até agora, 600 armas foram achadas em ce¬nas de crime nos dois países. O resto do arsenal, muito provavelmente, ainda es¬tá nas mãos dos criminosos.

Ao debru¬çar-se sobre o escândalo, o Congresso americano descobriu que a estratégia de facilitar a entrega de armas marcadas a narcotraficantes vinha sendo executada desde 2006 - e com resultados igual¬mente desastrosos. Foi um daqueles ruinosos encontros da incompetência com a iniciativa.

Na primeira operação, em 2006, a ATF acompanhou em tempo real cente¬nas de compras ilegais de armas nos Es¬tados Unidos. Conseguiu observar que elas atravessaram a fronteira com o Mé¬xico mas, a partir daí, o rastro dos arma¬mentos foi perdido.

Com a mudança de governo na Casa Branca, o desastre de 2006 foi devidamente revisado em 2009. Os laranjas foram processados por tráfi¬co de 450 armas. Mas, para salvar as aparências da debate oficial, os réus fo¬ram absolvidos.

Para piorar as coisas, a experiência fracassada não deixou nenhuma lição útil e foi repetida em 2007, dessa vez com mais de 200 armas. Os gênios da ATF tentaram montar uma operação conjunta com autoridades do México, mas, de novo, perderam o controle.

Apesar dos fracassos sucessivos, o escritório da ATF em Phoenix, no Arizona, continuou insistindo na estratégia que, na prática, apenas armava os traficantes com um arsenal de alta letalidade. O alerta vermelho só se acendeu mesmo depois que o patrulheiro Brian Terry morreu baleado por uma das armas entregues aos bandidos.

Foto: Susan Walsh/Associated Press Reuters

O procurador-geral Eric Holder, chefe da ATF, depois de mentir para os congressistas está sendo blindado, com alto custo, pelo amigo Obama

A operação foi uma adaptação estúpida do que se faz nas investigações sobre dinheiro sujo em que cédulas com numeração conhecida são postas nos circuitos criminosos, permitindo, assim, monitorar todas as fases do processo de lavagem.

Começa agora a germinar a suspeita de que o governo em Washington está escondendo algo ainda pior do que a estupidez de seus agentes. A ATF é subordinada ao Departamento de Justiça, chefiado pelo procurador-geral Eric Holder, cuja mulher é amiga íntima de Michelle Obama. Os parlamentares republicanos descobriram que Holder enganou o Congresso no ano passado quando disse desconhecer totalmente a operação.

Documentos liberados mais tarde mostraram que Holder havia sido informado da operação. Em defesa do chefe, os assessores disseram que o procurador-geral não havia entendido bem a pergunta.

Holder já depôs oito vezes sobre o caso, entregou perto de 8000 páginas sobre o assunto ao Congresso, mas vem se negando a fornecer qualquer documento com data posterior a fevereiro de 2011. Ninguém sabe a razão da negativa, o que alimenta ainda mais as suspeitas.

Na semana passada, um dos republicanos mais atuantes no caso, Darrell Issa, intimou o executivo a enviar ao Congresso um novo lote de documentos. O presidente Obama entrou em cena pela primeira vez no episódio e, lançando mão do “privilégio executivo", negou acesso aos papéis.

O privilégio executivo é um poder que nos últimos 32 anos os presidentes americanos exerceram apenas 25 vezes. Um dos que mais abusaram dele foi o ex-presidente Bush, filho — seis vezes, com o objetivo de proteger os amigos Dick Cheney e Karl Rove. Agora. Obama recorre ao mesmo dispositivo para proteger o amigo Eric Holder.

Claro que este escândalo, nesta hora, vai somar-se as dificuldades que enfrenta a campanha de reeleição de Barack Obama. E pode piorar porque a Congresso, estará apreciando nesta quinta-feira (28) se o chefe da ATF, o procurador-geral Eric Holder, desacatou o parlamento ao mentir sobre o caso e negar fornecer os documentos solicitados, da última vez que foi convocado para dar esclarecimento. O desacato ao Congresso pode valer inclusive alguns anos de cadeia ao procurador Holder e uma hemorragia de votos na campanha de Obama.

Charge: Mike Keefe - Denver Post (USA)

A “Operação rápida e furiosa”: ponha 2.000 armas em circulação para ver se elas acabam nas mãos de criminosos.
O que poderia dar errado?

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