BIS: "Descompasso entre crédito e PIB deixa Brasil na zona de perigo"
BRASIL - Economia Descompasso entre crédito e PIB deixa Brasil na zona de perigo O relatório anual, do BIS, já havia destacado que as economias do Brasil e da Índia “desaceleraram acentuadamente”, principalmente nos setores agrícola e manufatureiro. Agora, apesar de colocar o Brasil, no grupo dos países que estão “relativamente imunes” à crise global pelo tamanho de sua economia e baixo percentual que suas exportações representam no PIB, o diretor-geral do BIS, Jaime Caruana, alerta principalmente para bolhas nos mercados de crédito e imobiliário. Foto: Reuters Postado por Toinho de Passira As condições monetárias globais mais flexíveis, com crescimento do crédito e do preço de ativos em algumas economias emergentes, podem levar a uma nova crise financeira, alertou neste domingo o Banco de Compensações Internacionais (Bank for International Settlements, BIS, na sigla em inglês), um espécie de banco central dos bancos centrais do mundo. A instituição sustentou, no seu relatório anual, divulgado na Basileia, que o Brasil está na zona de perigo por considerar haver um descompasso entre o crescimento do crédito e da expansão da economia. Citou também preocupação com o nível de endividamento das famílias e das empresas brasileiras e com o forte crescimento dos preços do mercado imobiliário, sobretudo no Rio de Janeiro e São Paulo, onde o preço dos imóveis disparou. A instituição fez um apelo para que os bancos centrais prestem mais atenção às repercussões no mundo das suas políticas internas, em sintonia com as reclamações do Brasil e de outros de que um cenário monetário muito frouxo pode desestabilizar os fluxos de capitais para os mercados emergentes. “Isso cria riscos de desequilíbrios financeiros similares aos vistos nas economias avançadas nos anos que precederam a crise”, declarou o BIS. O aumento do crédito muito acima do crescimento econômico é normalmente presságio de turbulência econômica. Esse é o caso quando tal descompasso supera os 6%, segundo o BIS. Na Tailândia e na Turquia, esse descompasso é de pelo menos 15%. Brasil e Indonésia também estão na zona de perigo, com mais de 6%, de acordo com o BIS. O aumento do crédito na Argentina e na China também ultrapassou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), mas o descompasso deles está bem abaixo da marca de 6%. O preço de ativos também é um problema em muitas economias emergentes, afirmou o BIS. Em alguns mercados locais brasileiros, os preços de imóveis praticamente dobraram. Em algumas cidades chinesas, os preços subiram ainda mais rápido. Outra preocupação é endividamento. O montante que lares e empresas no Brasil, China, Índia e Turquia destinam a dívidas está no seu nível mais alto desde o fim dos anos 1990, apesar das baixas taxas de juros. O BIS sustentou que uma saída é adotar medidas macroprudenciais como ação para reduzir o crescimento do crédito. O BIS recomenda que autoridades nos países emergentes sejam rigorosas na avaliação dos riscos de seus bancos. Segundo o relatório, apesar do bom desempenho do setor bancário no mundo emergente, os booms de ativos e créditos em alguns países — entre eles o Brasil — pode ter “inflado os resultados dos bancos”. Uma saída, segundo o BIS, é uma taxa de juros mais alta, em conjunto com medidas mais rigorosas para o crédito. “Questões sobre a sustentabilidade desses booms naturalmente levam a questões sobre a sustentabilidade do desempenho de bancos”, avalia. Rio lidera valorização de imóveis na América Latina. Num discurso ontem, em Basileia, onde banqueiros estavam reunidos, o diretor-geral do BIS, Jaime Caruana, alertou que o rápido crescimento no mundo emergente pode não durar. — Mercados emergentes sentiram recentemente a tensão de um crescimento desequilibrado, e alguns estão lutando contra pressões inflacionárias. Eles não estão imunes à desaceleração global — disse Caruana. O relatório do BIS, entretanto, coloca Brasil, Estados Unidos e Japão no grupo dos países que estão “relativamente imunes” à crise global pelo tamanho de suas economias e baixo percentual que suas exportações representam no PIB. Resultando ou não em crise, booms nos mercados de crédito e imobiliário acabam sempre numa “má distribuição de recursos que leva muito tempo para se resolver”, diz o BIS. Segundo o relatório, o Rio aparece como a cidade onde os preços de imóveis mais subiram na América Latina, acima de 200% desde 2007, seguido por São Paulo (um pouco mais de 175%) e Bogotá (175%). Na China, o fenômeno foi ainda maior, com preços em Pequim e Xangai quintuplicando desde 2004. |
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