15 de jun. de 2012

As dez horas do governador Agnelo na CPMI

BRASIL – Corrupção – CPMI CACHOEIRA
As dez horas do governador Agnelo na CPMI
Por duas horas a mais o governador do distrito Federal Agnelo Queiroz do PT, bateu, nesta quarta-feira, o recorde do tucano, Marconi Perillo, que havia passado oito horas, dando explicações a CPMI. O momento mais teatral do depoimento foi quando Agnelo colocou à disposição dos membros da CPI a quebra do seu sigilo bancário, telefônico e fiscal, que já está escancarado há muito, por outras investigações que apuram outras irregularidades do petista. Afinal, corruptos escaldados não deixam rastros bancários, fiscais ou telefônicos.

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Governador do DF diz ser vítima de perseguição política para tirá-lo do poder, mas não convenceu

Postado por Toinho de Passira
Texto original de Jailton de Carvalho, Chico de Gois e Demétrio Weber
Fonte: O Globo

Após o governador Agnelo Queiroz (PT-DF) permitir, nesta quarta-feira, a quebra de sigilo telefônico, fiscal e bancário para colaborar com os trabalhos da CPI do Cachoeira, o governador de Goiás, Marconi Perillo, anunciou que permitirá aos membros da comissão a quebra dos mesmos sigilos. No entanto, em seu depoimento na terça-feira, Perillo não autorizou a comissão a ter acessos. A quebra de sigilos será votada nesta quinta-feira, durante sessão administrativa da CPI.

O depoimento de Agnelo durou dez horas. Ele afirmou em diversas ocasiões que não tem qualquer tipo de envolvimento com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Sobre a Delta Construtora, ele explicou que sua administração teve só um contrato com esta empresa, feito pela administração anterior. E ressaltou que é vítima de uma perseguição política para tirá-lo do poder.

- A organização aqui investigada tramou a minha derrubada. E não agiu sozinha. Valeu-se das falsas acusações plantadas no noticiário. Tudo com o objetivo de desgastar, desestabilizar e, por fim, me retirar do governo do Distrito Federal.

Sobre o contrato da Delta com o governo do DF, Agnelo disse que era na área de coleta de lixo e varrição, e foi assinado em 9 de dezembro de 2010, ainda no período do então governador Rogério Rosso, quando Agnelo era apenas governador eleito. Na terça-feira a construtora foi considerada inidônea pela Controladoria Geral da União (CGU).

Ao terminar a primeira parte da defesa, Agnelo colocou à disposição dos membros da CPI a quebra do seu sigilo bancário, telefônico e fiscal. Não é a primeira vez que o governador do DF permite a quebra de seu sigilo fiscal: em abril deste ano, ele concedeu a mesma permissão ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Também em novembro do ano passado, o ministro Cesar Asfor Rocha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), determinou a quebra do sigilo bancário e fiscal de Agnelo e do então ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB), entre outros investigados por suspeita de desvios de verbas do Programa Segundo Tempo. A quebra do sigilo foi solicitada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

- Sei que não é usual uma testemunha fazer o que peço. Mas ofereço dar a CPI todos os meus sigilos. Ouvi há alguns dias atras, de um homem do povo, o “velho adágio”, segundo o qual quem não deve não teme – disse o governador. Por volta das 17h, ao ser pressionado pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) - que argumentava que Agnelo “poderia não cumprir com sua palavra”-, o governador do DF assinou a autorização para as quebras dos sigilos.

Antes de Agnelo assinar, parlamentares do PT e PDT apresentaram um requerimento com pedido das quebras dos sigilos dos dois governadores, que deverá ser votado nesta quinta-feira. No entanto, após o anúncio da votação, o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), líder do partido na Câmara, disse que o governador Marconi Perillo telefonou informando que também liberaria a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) elogiou o gesto de Agnelo Queiroz, e cobrou que a comissão vote o requerimento para a quebra do sigilo do tucano Marconi Perillo.

- Eu creio que torna inevitável, amanhã, que a CPI proceda a quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico também do governador Marconi Perillo – afirmou o senador.

Já o deputado Carlos Sampaio (PSDB- SP) criticou Agnelo e classificou como política à decisão do petista. Ele justificou que o governador do DF já abriu o sigilo à Justiça podendo a CPI requerer os documentos.

- Já que é nobre para quebrar o sigilo, deveria ser nobre também para se apresentar a essa CPI voluntariamente como o fez o governador Marconi Perillo – disse Sampaio.

CONTRATOS COM A DELTA

Sobre o contrato com a Delta para limpeza pública no DF, o governador ressaltou que esse contrato foi firmado antes de sua gestão, e mediante decisão liminar, determinada pela Justiça. Ele afirmou que 26 dias após tomar posse pediu auditoria nos serviços da limpeza. No último dia 6, o governo do DF notificou a empresa sobre o rompimento deste contrato.

Agnelo rebateu a acusação de que teria, como governador eleito, enviado ofício a Rosso solicitando a prorrogação do contrato com a Delta. Segundo ele, o ofício pedia a prorrogação de contratos "essenciais" que vencessem em dezembro e janeiro. Agnelo afirmou que esse não era o caso da Delta, cujo contrato, com duração de 52 meses, venceria em 2015.

- A empresa (Delta) foi desclassificada, e as outras empresas foram qualificadas, e assinaram contrato com a SLU ( Secretaria de Limpeza Urbana) . Veio a decisão judicial, que desqualificou o contrato. No lugar da Qualix e da Valor Ambiental, a SLU assinou contrato com a Delta. O preço baixo da Delta, de certo, tinha motivo para existir. Se os serviços fossem feitos ante um governo amigo, que permitisse ao lucro não ter fiscalização, permitia ter os preços baixos. Mas o governo eleito pelo povo do Distrito Federal não era amigo – disse Agnelo.

Agnelo afirmou ainda que, em janeiro deste ano, iniciou a pesagem dos caminhões de lixo recolhido pela Delta, o que levou a uma redução de R$ 1 milhão nos pagamentos à empresa.

Agnelo também afirmou que não conhece o presidente afastado da Delta, Fernando Cavendish: - Nunca encontrei com o sr. Fernando Cavendish. Nunca encontrei nem socialmente com ele. Nunca tomei café, nada.

RELAÇÕES COM CACHOEIRA

O governador do DF disse que se encontrou uma única vez com o contraventor Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e que isso ocorreu na época em que era diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Agnelo contou que esteve com Carlinhos Cachoeira durante visita de trabalho à empresa Vitapan, de propriedade do contraventor, em Anápolis (GO). O governador disse que, como diretor da Anvisa, visitava diversas empresas e que, na Vitapan, manteve contato com a equipe técnica.

Agnelo enfatizou que não há ligação telefônica dele com Cachoeira nas gravações da PF.

- Não tem uma ligação minha, não tem uma ligação comigo ou qualquer secretário meu, do Cachoeira ou do seu grupo diretamente. Voz, interceptação dessas pessoas. Portanto, sr. presidente (da CPMI, senador Vital do Rêgo), acredito que a apuração da Polícia Federal, que respeito muito, muito séria, detalhada, ela não deixa dúvida nenhuma - disse Agnelo.

Segundo o governador, as informações divulgadas na imprensa sobre casas de jogos fora dos limites do DF são “infundadas”: - A história que hoje trago é a de um governo que vem sendo perseguido pelo crime organizado.

AUMENTO DE PATRIMÔNIO

Agnelo Queiroz afirmou que não há irregularidade em sua evolução patrimonial. Ele explicou que comprou a casa onde mora no período em que estava sem mandato, lembrando que tanto ele quanto a mulher são médicos e, portanto, teriam condições de adquirir o imóvel. O governador disse que a decisão de abrir mão de seus sigilos bancário e fiscal, além do telefônico, tem o objetivo de mostrar justamente isso.

- O único período que não tinha mandato, que não estava cuidando da atividade pública, foi justamente o período em que fiz a aquisição, e isso ser considerado como se fosse um crime ou uma desonestidade, isso é inadmissível, não admito uma coisa dessas.

Agnelo falou sobre o tema ao responder ao relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), que mencionou reportagem do GLOBO, do último domingo, que mostra que o patrimônio de Agnelo cresceu quase 12 vezes de 1998 a 2010. O governador disse à CPI que o ritmo de crescimento se deu nessa velocidade pelo fato de ser um patrimônio pequeno.

- Não quero nenhum tipo de suspeição sobre a minha vida. Eu tenho uma história de vida. Fui deputado distrital, deputado federal, ministro de Estado de Esporte do presidente Lula, e diretor da Anvisa. Uma história como essa, com 30 anos de trabalho, como médico que sou, minha esposa também, já aposentada por tempo de serviço, é evidente que não posso ouvir aleivosias dessa ordem - disse o governador.

ARAPONGAS


Ao afirmar que foi vítima de arapongagem por um grupo que atua no "submundo do DF", o governador Agnelo Queiroz disse que vai investigar o caso a fundo.

- Que os arapongas ponham as barbas de molho, porque vamos até as últimas consequências para pegá-los - afirmou.

O petista chegou a afirmar que há um grupo criminoso que além de grampear faz dossiês. Ele disse que foi grampeado assim como outras 300 pessoas no Distrito Federal.

- Eu fui vítima disso, grampeado também. Não só o meu como de 300 telefones pessoas do Distrito Federal. Essa prática criminosa da arapongagem, das montagens, dos dossiês. Somos vítimas disso. Repudio isso. Jamais posso admitir qualquer atitude que ocorra nesse sentido. Agora, tomei providência: instalei comissão de investigação na Polícia Civil para poder apurar rigorosamente essa política de arapongagem.


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