Agruras em solo da ONU - Míriam Leitão
BRASIL- Rio+20 Agruras em solo da ONU Acompanhe Míriam Leitão tentando receber a credencial da “Rio+20”: — "Onde é o guichê da imprensa?" O rapaz não entendeu a pergunta. Repeti em inglês. E ele disse que não “hablaba” inglês. Era o terceiro idioma e eu ainda não havia chegado ao guichê. Sim, estava na ONU. Passaram dois funcionários conversando e um dizia ao outro:— "Certeza, certeza, ninguém tem de nada". Não. Ainda estou no Brasil — pensei. Postado por Toinho de Passira Welcome to Rio plus twenty”. O homem de uniforme e distintivo me assustou quando disse isso. Era enorme, de uns dois metros de altura e um de largura. Sem exagero. Mas não foi a dimensão da pessoa que me assustou, e sim o fato de que ele me dava as boas-vindas que eu deveria dar a ele. Susto extra: a Rio+20 já começou! Foi na entrada do Pavilhão Um do Riocentro e eu entrava distraída. Tinha sido difícil chegar lá. Faltava sinalização de onde exatamente, entre tantos pavilhões, era o do credenciamento. Quando me localizei, caiu uma chuva. Mudança climática! Eu não havia levado guarda-chuva. Atravessei correndo o espaço do estacionamento à entrada e foi quando fui saudada pelo grandalhão. Foi assim que a Rio+20 começou para mim, com o funcionário da ONU me informando delicadamente que aquele não era mais território do Brasil, e sim, das Nações Unidas, terra do mundo. E de ninguém, porque foi a maior bateção de cabeça para me responder uma pergunta simples: onde era o credenciamento da imprensa. Primeiro, tive que passar pelo detector de metais. A moça que tinha o aparelho de mão que faz a última checagem nas pessoas que apitam — eu tinha apitado — estava em treinamento. Três homens atrás dela davam ordens e explicavam os sons. — Não, isso é porque está perto do chão. — Agora é porque ela está com a mochila, mas a mochila já foi vistoriada. — Tudo bem, pode deixar ela ir. Fui. Só não sabia ir para aonde. Ninguém indicava o local onde eu retiraria a credencial que tinha pedido bem no prazo, com todos os documentos enviados e, por via das dúvidas, copiados na minha mochila. Última checagem: carteira de identidade, passaporte, carta do chefe, confirmação de aceitação do pedido expedido pela ONU. Tudo ok. — Onde é o guichê da imprensa? O rapaz não entendeu a pergunta. Repeti em inglês. E ele disse que não “hablaba” inglês. Era o terceiro idioma e eu ainda não havia chegado ao guichê. Sim, estava na ONU. Passaram dois funcionários conversando e um dizia ao outro: — Certeza, certeza, ninguém tem de nada. Não. Ainda estou no Brasil — pensei. Fui até um extremo do enorme pavilhão e a atendente me disse que era no outro extremo. No meio do caminho, um descaminho. — Para a imprensa tem que sair do prédio, dar a volta para entrar do outro lado — me garantiram duas moças. Não fazia sentido, porque significava passar de volta pelo raio-x. Perguntei a outra pessoa. — É naquele lado lá. — Mas vim de lá. — É lá. Fui. — Não é aqui. — O que é aqui então? — Aqui é só para a sociedade cívica. A atendente queria dizer “sociedade civil”. — Mas só abre às 10. — São dez. Ela conferiu. — Em ponto. Atravessei o salão de volta e achei enfim o guichê da imprensa. Entreguei minha identidade e não pediram mais nada. Nem a carta dos chefes ou a resposta da ONU. Muito menos um outro documento com foto, exigência que atenderia com o passaporte. Minutos depois estava eu, orgulhosa, envergando no pescoço a credencial. Na verdade, a conferência começou bem antes para os jornalistas envolvidos com o tema pelos mais diversos ângulos. Matérias especiais, entrevistas, cadernos, conversas com especialistas, leituras, esforço para ficar mais afiado com um tema complexo e delicado. Isso tem sido o nosso cotidiano nas últimas semanas. Tudo pronto. Aqui vamos nós, rumo à Rio+20. Com credencial e esperança. |
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