24 de jun. de 2012

Líderes latinos consideram golpe o “impeachment” paraguaio

PARAGUAI
Líderes latinos consideram golpe o “impeachment” paraguaio
Os governos do Brasil, Argentina, Venezuela, Equador, Chile, Bolívia, México, Peru e até Cuba criticaram a forma como foi deposto o presidente Lugo e a maioria se diz dispostos a não reconhecer o novo governo do presidente Federico Franco.

Foto: Reuters

ISOLADO, ACUADO E SOLITÁRIO - o Novo presidente paraguaio, Federico Franco, no seu gabinete no Palácio Presidencial, em Assunção, neste sábado, 23, primeiro dia como Presidente da Republica do Paraguai

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Veja, G1, Cronica, ABC, Ultima Hora, G1, BBC Brasil, Correio Braziliense

Em sua primeira manifestação sobre o impeachment do ex-presidente paraguaio Fernando Lugo, o governo brasileiro condenou o "rito sumário de destituição" e convocou o embaixador no Paraguai para consultas.

Em nota, o Itamaraty, disse considera que o procedimento adotado compromete pilar fundamental a democracia, condição essencial para a integração regional,

Adiantou que eventuais sanções ao Paraguai estão sendo avaliadas entre os membros do Mercosul e da Unasul. O Itamaraty diz, no entanto, que o governo brasileiro "não tomará medidas que prejudiquem o povo irmão do Paraguai".

Lugo foi deposto na sexta-feira pelo Congresso paraguaio com base em artigo da Constituição que lhe confere poderes para julgar politicamente o presidente.

Entretanto, por ter durado apenas 24 horas, o processo foi considerado por governos da região como um golpe de Estado "branco" contra Fernando Lugo, o primeiro político de esquerda a chegar à Presidência paraguaia.

A convocação do embaixador brasileiro para consultas, que no protocolo diplomático indica séria reprovação à decisão paraguaia, foi anunciada horas após a Argentina adotar a mesma postura.

INDIGNADO - O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse que seu país "não reconhece a este nulo, ilegal e ilegítimo governo que se instalou em Assunção".
A chancelaria argentina afirmou que a representação diplomática do país ficará a cargo de um encarregado de negócios "até que seja restabelecida a ordem democrática" no Paraguai.

Ainda neste sábado, a OEA (Organização dos Estados Americanos) também reprovou o impeachment de Lugo. Em nota, José Miguel Insulza, secretário-geral da organização, disse que a destituição foi um "julgamento sumário que, ainda que formalmente apegado à lei, não parece cumprir com todos os preceitos legais do Estado de direito de legítima defesa".

"O que nos preocupa não é somente o respeito ou a falta de respeito à lei, mas que a norma escrita seja interpretada de forma propícia para alterá-la com fatos."

Governos de Argentina, Venezuela, Equador, Chile, Bolívia, México e Peru criticaram o processo de impeachment do presidente do Paraguai.

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, afirmou que a situação em Assunção é "inaceitável". "Sem dúvidas, houve um golpe de Estado", disse Cristina.

O presidente equatoriano Rafael Correa acredita que foram ignorados procedimentos no processo de destituição de Lugo. "Já chega destas invenções na nossa América, isto não é legítimo, e não acredito que seja legal. O governo do Equador não reconhecerá outro presidente do Paraguai que não seja o senhor Fernando Lugo", criticou.

Evo Morales, presidente da Bolívia, elogiou o trabalho de Lugo no comando do Paraguai. "A Bolívia não reconhecerá um governo que não surja das urnas e do mandato do povo", disse. Segundo ele, Lugo estava acabando com os "grupos de poder" no país, o que "sempre tem um custo".

O chanceler do Chile, Alfredo Moreno, disse que "claramente, isso não cumpriu os padrões mínimos do devido processo e a legítima defesa que merece qualquer pessoa, e é isso que nos preocupa."

Os governos do Peru e do México também se pronunciaram contra o processo. Até Cuba do ditador Rául Castro, condenou energicamente oq eu classificou de golpe de Estado parlamentar e anunciou que não reconhecerá o novo governo de Federico Franco, nomeado depois de sua destituição.

O governo de Cuba "não reconhecerá autoridade alguma que não venha do voto legítimo e do exercício da soberania por parte do povo paraguaio", informou uma declaração de sua chancelaria, lida no telejornal local.

O comunicado destacou que "este golpe se soma à longa lista de atentados contra a autodeterminação dos povos latino-americanos, sempre realizados pelas oligarquias com a autoria, a cumplicidade ou a tolerância do governo dos Estados Unidos", a fim de "frear os processos de mudanças progressistas e de genuína integração" na América Latina.

Nos bastidores diplomatas concordam que vai depender da reação da população paraguaia ao impeachment as decisão do Mercosul e da Unasul sobre a aplicação de sanções ao Paraguai, como a exclusão do país dos blocos regionais. O protocolo do Mercosul prevê a possibilidade de exclusão de país membro que viole princípios democráticos.

Foto: Associated Press

ALIADA - Dilma, na foto, reunida com Lugo, em viagem oficial ao Paraguai, junho de 2011, vê nas circunstância do “impeachment” uma ameaça a democracia

Segundo um interlocutor da Presidência brasileira, se não houver "clamor popular" contra a destituição de Lugo, o fato indicará que a responsabilidade pela perda de apoio político é do próprio presidente paraguaio. Nessa circunstância, o Mercosul poderá reconhecer o novo governo.

Mas, se houver manifestações contundentes a favor de Lugo, Mercosul e Unasul deverão abrir processo de discussão sobre eventuais sanções ao Paraguai no âmbito dos blocos – diz o site G1.

A BBC Brasil diz que no dia seguinte à queda do ex-presidente, a capital Assunção viveu um sábado como outro qualquer. Nas ruas da região central, que na noite de sexta-feira foram palco de confrontos entre apoiadores do ex-líder e policiais, o comércio funcionava normalmente e não se via qualquer protesto.

Em frente ao Congresso, onde os manifestantes se concentraram no dia anterior, a única agitação provinha de uma feira ao ar livre, onde clientes compravam frutas e verduras.

"Já se foram todos", disse à BBC Brasil o funcionário público Fabián Balbuena, referindo-se aos cerca de 5.000 manifestantes presentes na véspera. Eles protestavam contra um julgamento instaurado pelo Congresso na quinta-feira contra Lugo.

Mas as coisas não serão fáceis para o novo presidente: já se noticia que partidos de esquerda, movimentos sociais, campesinos, agrários e indígenas, além de centrais sindicais e de trabalhadores rurais formaram neste sábado (24) a “Frente pela Defesa da Democracia no Paraguai”, que promoverá uma série de manifestações e atos pelo país pedindo o retorno de Fernando Lugo ao poder.

Foto: Fernando Romero/ ABC Color

BOCA NO TROMBONE - Lugo na madrugada desse domingo, nas ruas de Assunção, junto aos manifestantes que protestavam contra a sua deposição

O próprio presidente deposto, Fernando Lugo, surpreendeu um grupo de manifestantes que protestavam contra a sua destituição, diante da TV Pública, na madrugada desse domingo, 24.

Em meio a seus seguidores e flashes de câmeras, Lugo falou que havia aceitado o veredito injusto do parlamento em nome da “paz e da não violência”. Lembrou que "ditadura não é apenas militar, mas também parlamentar...”

Conclamou a população a um protesto pacífico, porque “deixaram de lado a democracia e não respeitaram a vontade do povo.”

Antes Fernando Lugo havia dito a jornalistas que pretendia se candidatar a senador no próximo pleito, que acontecerá em 12 de abril do próximo ano, e apresentaria um candidato a presidente da republica, para enfrentar o candidato do governo de Frederico Franco.

Foto: Getty Images

APOIO PAPAL - A visita oficial do núncio apostólico do Vaticano Eliseu Ariotti, ao presidente Frederico Franco, neste sábado, 23, sinaliza que Roma reconhece como legítimo o “impeachment”. Fernando Lugo, não era bem visto pela sua igreja desde que quatro mulheres requererem reconhecimento de paternidade de filhos do bispo presidente

O novo presidente paraguaio, Federico Franco, não esperava uma reação dos lideres latinos nessa proporção e tenta amenizar os fatos, dizendo-se disposto a procura-los, em especial a presidenta Dilma, para explicar exatamente que o ocorrido, não teria nada a ver com um golpe. Declarou até que irá pedir ajuda ao presidente deposto, Fernando Lugo, para evitar que o Paraguai sofra com o isolamento internacional.

Por enquanto delegou ao novo chanceler, Jose Felix Fernandez, a missão de apaziguar os ânimos dos países vizinhos e explicou a imprensa:

"Aqui não houve golpe nem quebra institucional. Temos pleno respeito pela Constituição",

O artigo 225 da Carta Magna paraguaia prevê procedimento para iniciar um julgamento político de um funcionário eleito se ele for considerado responsável por algum delito. Com a anuência de ao menos dois terços da Câmara e do Senado, o presidente pode ser cassado – o que foi o caso de Lugo, removido em votação quase unânime.

"Estamos arrumando a casa primeiro e depois vamos entrar em contato com os países vizinhos. Estou certo de que vão compreender a situação no Paraguai", afirmou Franco.

O temor do Paraguai não é somente o isolamento diplomático internacional, mas também impactos econômicos pela troca no comando.

A Unasul pode impor sanções comerciais ao país, afetando uma economia que vinha crescendo de forma consistente há três anos. Franco disse não acreditar em possíveis sanções do Mercosul e do Brasil.

"Não creio que o Brasil tenha que nos aplicar uma sanção comercial, já que os mais afetados são os brasileiros que têm investimentos em partes do nosso país". Cerca de 400 mil brasileiros, conhecidos como "brasiguaios", em sua maioria produtores rurais, vivem há décadas no Paraguai.- concluiu esperançoso.

Foto: UOL/Esportes

APOIO DE PEITO A modelo Larissa Riquelme, apoia o presidente deposto Fernando Lugo. Disse no seu Twitter, que estava “indignada com os acontecimentos em meu país”. Engajada disse ainda: “Gracias de corazón a todos los países que se están solidarizando con nosotros"


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