7 de out. de 2012

A difícil missão impossivel de Humberto

BRASIL - Recife - Eleição 2012
A difícil missão impossível de Humberto
Após turbulências internas, PT indicou o senador para o difícil desafio de defender um projeto de poder que durou 12 anos, mas, ao que tudo indica, será sepultado neste domingo

Foto: Tarsio Alves/Flickr

Humberto em campanha na praia de Boa Viagem

Postado por Toinho de Passira
Texto de Bruna Serra , para o Jornal do Commercio
Fonte: Jornal do Commercio – Edição impressa

Humberto Sérgio Costa Lima, 55 anos, é, inegavelmente, um homem tímido. Tido no seu partido, o PT, como um comandante, ele depositou toda a sua trajetória política numa campanha espinhosa, em defesa de um projeto que já dura 12 anos. Assumiu o posto de candidato a prefeito do Recife depois de turbulências que ficarão para história do PT.

Após perder, à força, o direito de tentar se reeleger, o prefeito da cidade, João da Costa (PT), escolheu cumprir o papel de algoz de seu próprio partido nos três meses em que se deu a campanha municipal. O resultado deve se refletir hoje, nas urnas.

Enquanto ainda figurava no noticiário nacional com a relatoria do processo que culminou com a cassação do colega de Senado Demóstenes Torres (DEM), Humberto desembarcou na sucessão municipal com a simpatia de 40% dos recifenses. Mas a entrada em cena de um adversário poderoso, aliada à dificuldade em estabelecer um hermético discurso de continuidade com mudança, tiraram o chão do petista que, em queda livre, chega ao dia da eleição em terceiro lugar nas pesquisas, com 16% das intenções de voto.

A candidatura de Humberto foi seriamente desidratada pelo discurso de mudanças abraçado por Geraldo Julio (PSB), candidato de andor forte –que conta com o poderio financeiro e político do grupo ligado ao governador Eduardo Campos (PSB). Isso sem falar na dificuldade de defender (mas não muito) a gestão João da Costa. O prefeito não permitiu o uso de sua imagem e das principais obras realizadas pela prefeitura durante nos últimos quatro anos. Também concedeu diversas entrevistas criticando a campanha de Humberto, além de trabalhar nos bastidores pela eleição do adversário socialista.

Captura de video

Lula, presença apagada, apenas nos vídeos da campanha

A ausência do principal cabo eleitoral do PT, o ex-presidente Lula, foi outro duro golpe na campanha petista. Apesar de ter gravado alguns depoimentos para Humberto, Lula não pôs os pés na capital pernambucana para não melindrar o cada vez mais poderoso governador. Duas visitas de Lula chegaram a ser anunciadas, mas nunca aconteceram. A presidente Dilma Rousseff, que gravou para candidatos em Salvador, São Paulo e Belo Horizonte, por exemplo, também não pediu votos para o PT no Recife. Como se não bastasse, a campanha de Humberto também passou aperto financeiro, chegando a atrasar o pagamento da equipe.

Foto: Tarsio Alves/Flickr

Humberto e João Paulo, carreata pelo bairro do Imbura

PPP DA COMPESA

Mesmo a improvável reaproximação com João Paulo que aceitou ser vice para reparar o “erro João da Costa”acabou mostrando-se uma articulação muito mais de proporções internas do que de repercussão popular. Diante da queda eminente, Humberto partiu para o embate político contra o PSB, que teve seu ápice com a discussão sobre o projeto de Parceria Público Privada (PPP) da Compesa, tocado pelo governo estadual. Humberto falou em privatização e uma guerra de argumentos foi detonada, a ponto de Eduardo chamar o petista de “mentiroso” e veicular uma campanha publicitária para negar a venda da empresa e o aumento de tarifa.

O debate da PPP foi um dos pontos de enfrentamento mais tensos entre os socialistas e petistas, gerando feridas que poderão não cicatrizar. O candidato petista ainda questionou de forma enfática o rótulo que foi impresso em Geraldo, de candidato-gestor e “faz tudo.

Humberto foi para televisão apresentar documentos que atestariam que o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico não foi responsável por boa parte das ações que lhe foram atribuídas, como o Pacto pela Vida e a atração da montadora Fiat. Nos debates, o petista sempre procurou desconstruir a imagem do principal adversário, para quem perdeu a liderança nas pesquisas.

Outro alvo do petista foi o tucano Daniel Coelho, que mais tarde lhe tomou o segundo lugar nas pesquisas. Sobraram críticas e, mais uma vez, a palavra privatização veio à baila. Sempre que pôde, Humberto lembrou que o tucano é do partido que “privatizou o Brasil. Com a iminente derrota admitida até mesmo por petistas de alto gabarito, o grande desafio do partido será a reconstrução interna, que passará, inevitavelmente, pelo enfrentamento com um inimigo íntimo: João da Costa.

Foto: Paulo Cesar/Panoramio

Palácio Capibaribe, a sede da Prefeitura do Recife, o objeto do desejo

Projeto de 24 anos de poder

Bem antes de o ex-presidente Lula (PT) tomar posse, em janeiro de 2003, o PT do Recife já desfrutava do domínio de uma das capitais mais importantes do País. Sob o comando do hoje deputado federal João Paulo, a legenda protagonizou o cenário político local, vangloriando-se de ter “invertido prioridades e cuidado das pessoas”, como disse por oito anos o slogan da gestão do ex-prefeito. O PT cresceu em Pernambuco, chegando a gerir oito prefeituras nos últimos quatro anos.

Mas não conseguiu a consolidar o projeto de poder, que dizem, seria de 24 anos. O culpado? Os intensos embates internos. Depois que João Paulo elegeu João da Costa com mãos de ferro (no primeiro turno), a unidade partidária – que já não era boa – tornou-se ainda mais conflituosa. O rompimento entre criador e criatura partiu em três a legenda. Os grupos ficaram sem sintonia com a gestão municipal e o resultado foi uma crise contínua com partidos da base de sustentação de João da Costa, que para piorar era muito mal avaliado pela população.

Se perder a eleição hoje, o PT ficará sem estrutura de poder na capital e o governador Eduardo Campos (PSB) terá o caminho livre para consolidar sua hegemonia. Ao contrário do que se poderia supor, João da Costa não deixou o partido e agora sua cabeça está a prêmio no PT. Outro dilema a ser enfrentado pelo partido no pós-eleição é a permanência ou não na gestão estadual, já que o caminho tomado na sucessão municipal torna o diálogo entre as legendas, até então aliadas, muito complicado.


*A Difícil missão de Humberto" é o título original do texto
**Alteramos o título, acrescentamos subtítulo, fizemos comentários adicionais e incluímos fotos e legendas a publicação original

Nenhum comentário: