6 de out. de 2012

A democracia venezuelana resiste
a uma derrota de Hugo Chávez?

VENEZUELA – Eleição 2012
A democracia venezuelana resiste
a uma derrota de Hugo Chávez?
Venezuela se prepara para eleições mais disputadas em anos, nesse domingo, 7. A dúvida é se derrotado, Hugo Chávez desocupará pacificamente o palácio de Miraflores.

Foto: AFP

Essa é a eleição mais disputada desde que Chávez assumiu o poder em 1999, na foto, cartazes de Hugo Chávez apostos sobre os de Henrique Capriles, em Caracas

Postado por Toinho de Passira
Fonte: BBC Brasil

Hugo Chávez enfrenta neste domingo a disputa mais difícil contra a oposição desde que chegou ao poder, há 14 anos. Os venezuelanos vão às urnas decidir se o coronel, fatigado pela luta contra o câncer, continua na presidência ou se é hora de a oposição assumir, guiada pelo candidato Henrique Capriles. Apesar de a maioria das pesquisas apontar o atual mandatário como favorito, há levantamentos recentes que mostram a aproximação de Capriles, empatado tecnicamente com Chávez. E duas pesquisas chegaram a colocar Capriles à frente.

Em jogo, estão outros seis anos no poder para o presidente Hugo Chávez, que assumiu em 1999, ou uma guinada rumo à oposição, liderada pelo candidato Henrique Capriles.

"Espero que o presidente Chávez ganhe as eleições, senão, provavelmente vão levar isso aqui embora e nós vamos todos sofrer", afirmou a líder comunitária "chavista" Raiza Urbina, apontando para uma feira subsidiada, próxima a sua casa, em Caracas. A feira vende produtos da cesta básica: carne, enlatados, ovos e queijo. Tudo a preços abaixo do mercado. É apenas uma entre as muitas iniciativas na área social implementadas pelo presidente Chávez nos últimos 12 anos. O auto-intitulado "defensor dos pobres" de fato trabalhou para aumentar o acesso da população mais pobre aos sistemas de saúde, educação e moradia.

Nos meses que antecederam a campanha presidencial, Chávez aumentou investimentos públicos, inaugurando centenas de novos ônibus e distribuindo casas de graça. O governo afirma ter construído 150 mil novas moradias em 2011, parte de um total de 3 milhões previsto para 2018. Chávez diz que mais um mandato lhe permitira aprofundar a sua "revolução bolivariana" e aprimorar o socialismo na Venezuela.

Em um comício para milhares de pessoas em sua cidade natal, Sabaneta, em 1º de outubro, o presidente prometeu desenvolvimento.

"Sabaneta vai se transformar no epicentro de um grande projeto, dentro do principal plano industrial e agricultural para 2012-19", afirmou.

Foto: Reuters

Cartaz de Hugo Chávez adorna casa em Sabaneta, cidade onde o presidente passou a infância

SUSPEITAS DO EMPRESARIADO - No entanto, para muitos venezuelanos, a perspectiva de mais seis anos de chavismo é preocupante. Empresários afirmam que algumas das políticas de Chávez lhes dificultaram muito a vida. Desapropriações de terras e de empresas também despertam suspeitas em investidores.

Além disso, a legislação criada para evitar fuga de capital do país é acusada de dificultar em muito a importação e exportação.

Rígidas leis trabalhistas reduziram jornadas laborais, proibiram terceirização de mão-de-obra e fortaleceram os direitos trabalhistas, mas também causaram dores de cabeça aos patrões.

Regulo Moreno, dono de uma fábrica de móveis para escritório, diz estar prestes a deixar a Venezuela.

"Andei estudando a Colômbia", afirmou. "Abrimos o mesmo negócio lá há um ano e meio, e agora sinto que a empresa pode crescer mais rapidamente lá do que aqui."

As eleições venezuelanas não interessam apenas aos venezuelanos. O sistema Petrocaribe criado por Chávez beneficia muitos países com acesso mais barato ao petróleo, entre eles Cuba e Nicarágua. O líder também tem fortes laços com a presidente argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, reiterados pelo apoio dado por Chávez na disputa pela soberania das ilhas Malvinas ou Falkland. Mesmo fora da América Latina, Chávez é uma força reconhecida. O presidente sírio, Bashar al-Assad, disse considerá-lo um "humanista" e um "irmão". A Venezuela forneceu óleo diesel ao governo Assad durante o embargo imposto por outros países.

Sob o chavismo, o país também se tornou um atuante membro da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o que ajudou a manter os preços do combustível em alta.

Os interesses são globais, mas o povo venezuelano é quem decidirá sobre o futuro de Chávez. Essa votação é considerada a mais apertada desde a primeira que ele venceu, em 1998.

Foto: Meridith Kohut/The Telegraph

Henrique Capriles mostrou capacidade para derrotar Chávez, faltam os votos

OPOSIÇÃO UNIFICADA - Henrique Capriles, um jovem advogado de formação, conseguiu unificar a combalida oposição do país e venceu as eleições primárias em fevereiro. Desde então, vem cruzando o país para tentar aumentar a sua popularidade. Entre as suas promessas estão a manutenção dos programas sociais de Chávez, ao mesmo tempo em que quer estimular a iniciativa privada no país.

"A minha missão é conseguir fazer os venezuelanos concordarem que podemos levar o país para frente", disse à BBC no início da campanha.

Diante de tanta pressão, muitos temem a eclosão de episódios de violência interpartidária. Três cabos eleitorais de Capriles foram assassinados a tiros no início do mês ao tentar entrar num comício no estado-natal de Chávez, Barinas.

A Venezuela tem uma das maiores taxas de homicídio do continente - 48 por 100 mil habitantes, de acordo com estatísticas do ministério do Interior de 2011. Sequestros e assaltos ainda são comuns em áreas urbanas. O que significa dizer que a criminalidade também será um grande desafio para o vencedor do pleito de domingo, ao lado da alta inflação e da economia praticamente dependente do petróleo.

Chávez diz acreditar que derrotou o câncer que o tirou de ação durante várias semanas em 2011 e no início deste ano. No entanto, ninguém sabe exatamente qual foi a gravidade da doença, e muitos têm dúvidas sobre a saúde para mais um mandato.

Caso Capriles vença, terá de governar com uma Assembleia Nacional dominada por aliados de Chávez.

Foto: Jorge Silva/Reuters

Hugo Chavez sabe seduzir o eleitor, de todas as meneiras

Chávez tem dito ao longo da campanha que se perder as eleições, o país pode mergulhar numa guerra civil, pode ser que ele esteja apenas querendo assustar o eleitorado adversário, ou esse pode ser o plano B, do caudilho, que não querendo deixar o poder, pode inflar uma revolta popular para se manter no Palácio Miraflores, a qualquer custo.

Não se sabe também, se a eleição e a apuração vão transcorrer em clima democrático, e se há lisura e suficiente independência dos órgãos oficiais encarregados de administrar o pleito.

Foto: Marco Bell/Reuters

Multidão de oposicionista participam de comício de Capriles, em Caracas. Antes só Chávez conseguia reunir tanta gente.


* Post baseado no texto escrito por Sarah Grainger da BBC News

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