28 de mai. de 2010

OPINIÃO: Sétimo dia da morte do operário Jaelson

OPINIÃO
Sétimo dia da morte do operário Jaelson
A morte do segundo operário desmascara a qualidade da segurança do trabalho, no estaleiro Atlântico Sul onde está sendo construído o petroleiro João Candido, inaugurado por Lula e a candidata há menos de um mês. Mas ao que parece a lição de nada serviu e tudo continua como antes. Ninguém vai tomar nenhuma providência? Quem vai ser responsabilizado pela morte do montador?

Foto: Acervo agencia O Dia

Foto do enterro de João Cândido, o herói injustiçado, que dá nome ao navio assassino que está sendo construído em SUAPE. Fosse vivo, o marinheiro estaria dispensando a homenagem

Toinho de Passira
Fontes: Tribuna Popular, Blog da Folha, Tribuna Popular, ”thePassiranews”, Projeto Memória

Faz uma semana que morreu o montador Jaelson Ribeiro de Souza, 47 anos, a vítima do acidente no Estaleiro Atlântico Sul, em Ipojuca, enquanto participava da construção do petroleiro João Cândido. Ninguém quer lembrar mais dele. Passou a ser uma recordação incomoda. No dia 21 foi trabalhar com o seu filho, que também operário do estaleiro sem saber que aquele seria seu último dia de vida.

Jaelson Ribeiro é na verdade vítima da construção do navio que tem um cronograma atrelado ao calendário eleitoral. O estaleiro tem compromissos com o governo de fazer o navio funcionar, a qualquer custo, antes das eleições, depois de desmascarada a farsa da inauguração fajuta.

Por mais que não se queira associar a morte dos operários à ânsia promocional do presidente Lula (até em respeito à dor das famílias) os fatos arremetem a ligar a tragédia com a irresponsabilidade dos construtores e a insensibilidade dos que querem a todo custo ganhar eleições inaugurando, as pressas, o inacabado.

É uma ironia que esse barco em construção venha a se chamar João Candido, o líder da revolta da Chibata, que conseguiu com enorme sacrifício pessoal, abolir o castigo físico da marinha do Brasil.

Não há castigo físico no Estaleiro Atlântico sul, mas há o medo do desemprego. Quem não obedece cegamente os feitores e “não topa qualquer parada” não merece continuar na equipe. Há inclusive uma ameaça no ar: o “Estaleiro Atlântico Sul iniciou no Japão, em dezembro de 2009, a seleção de dekasseguis brasileiros com “experiência comprovada na indústria naval e de construção de plataformas petrolíferas”.

Para esses trabalhadores importados, oferecem-se condições de trabalho mais condignas, melhores salários e residência num condomínio da empresa.

Para a realidade atual, as palavras do diretor de saúde do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco (Sindmetal), Sérgio Paulo da Silva, resumem tudo:

“O montador Jaelson Ribeiro de Souza, 47 anos, a vítima de acidente no Estaleiro Atlântico Sul, em Ipojuca (PE), que lhe custou à vida na manhã desta sexta-feira, 21, estava desempenhando uma função para a qual não havia sido treinado no momento do acidente. Também estava sem o guarda-corpo, que serve para proteger de quedas, e sem cinto de segurança.”

Ter uma Indústria Naval é importante para Pernambuco e para o nordeste. Mas esse progresso não pode ser feita à custa da vida de trabalhadores submetidos a tarefas de dimensões descabidas, a pressões desumanas e a condições de trabalho improvisadas.

Em nota, a empresa lamentou o falecimento do seu funcionário e informou que “imediatamente, uma equipe médica de emergência do EAS, com ambulância própria, já estava no local. O operário recebeu os primeiros socorros, mas veio a falecer”.

“Funcionários do EAS, contestam a empresa, afirmando que o Jaelson teria morrido na hora, do forte impacto, que teria “esfacelado seu corpo, inclusive expondo a massa encefálica, com o rompimento do crânio.” O descrito pelos operários é coerente com as circunstancias do acidente. O operário “caiu de uma altura de 20 metros sobre uma chapa de aço.”

Por sinal, não se tem notícia de notas ou manifestações da Ministra candidata, que inclusive ia ser madrinha do navio, nem do governo federal, tão solidário com mortes no exterior. Eles não querem se contaminar com a tragédia que envolveu Jaelson.

Esqueceram também de se manifestar quando em julho de 2009, morreu no mesmo navio o metalúrgico Lielson Ernesto da Silva, esmagado por uma chapa de aço.

Os representantes do Sindicato dos Metalúrgicos (Sindmetal-PE) que chegaram no instante seguinte ao acidente de Jaelson, Amanda Tenório, Soraya Rego Barros e Paulo Roberto, relataram que se percebia “de imediato as precárias condições de trabalho que fazem parte do dia-a-dia dos trabalhadores do Estaleiro Atlântico Sul.”

“Ou seja: escadas amarradas com arames, algumas aberturas no piso com proteções insuficientes e o pior: no local onde o companheiro caiu, NÃO HAVIA GUARDA-CORPO e o imenso janelão ao lado buraco no piso também não tinha proteção (o que fatalmente poderia causar outro acidente, pois entre o janelão e o convés do navio são aproximadamente 10m).

“A pressa para terminar o navio não pode ser o “combustível da fornalha” que traga à morte aos cansados e pressionados trabalhadores do Estaleiro, que são um exemplo de dedicação e profissionalismo e merecem bons salários e melhores condições de trabalho”, disse o secretário de Comunicação do Sindmetal-PE e diretor da CUT, Augusto César Barros, num texto publicado no site do jornal Tribuna Popular, Cidade do Cabo de Santo Agostinho, PE.

O sindicalista ainda diz que: “Por mais riscos de acidentes que um local de trabalho tenha não pode servir de desculpas, para encobrir a irresponsabilidade e o descaso dos que fazem o setor de segurança do trabalho do Estaleiro Atlântico Sul”.

Desde a segunda-feira, o trabalho, inclusive na base na gaiuta da embarcação – a base da chaminé do navio João Cândido, local de onde tombou para a morte, o operário, o trabalho continua frenético, depois dos remendos na segurança na área, que se posta há uma semana, não teria permitido acontecer o acidente fatal.

Vai ser assim? A cada operário morto, improvisam uma segurança no local do acidente e seguem adiante? Qual a providencia a ser tomada pelos órgãos públicos? Não se pode esperar qualquer atitude do governo federal nem estadual, pois possuem uma relação tão promiscuas com as empresas que estão construindo o navio, que jamais tomariam qualquer providência, que viesse a desagradá-los.

Será que ninguém vai ser responsabilizado por essas mortes? O ministério público não vai tomar nenhuma medida? Não vai ter inquérito criminal? Não vão pedir a suspensão temporária da continuidade da construção? Pela descrição do sindicato, a construção desse navio precisa ser paralisada, até que todo o estaleiro comprove a utilização correta de todos os itens de segurança.

Quantos Jaelson necessitarão desabar das alturas e quantos Lielson precisarão serem esmagados, para que se tomem providências definitivas?

Estão chamando isso de progresso de Pernambuco.


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