8 de mai. de 2010

ELEIÇÕES BRITANICAS: Logicamente o novo premiê será David Cameron, mas...

ELEIÇÕES BRITANICAS
Logicamente o novo premiê será David Cameron, mas...
Os ingleses estão fingindo que não sabem quem será o primeiro ministro britânico, embora tudo aponte para o líder do partido conservador. Como nenhum partido obteve maioria absoluta no parlamento, segundo o sistema parlamentarista, os lideres das facções políticas com maiores bancadas estão negociando coalizões para governarem o país, se não chegarem a um acordo, a rainha convoca novas eleições, mas isso só na teoria, pois na prática tudo já esta se ajustando, na maior discrição

Foto: Getty Images

OS HOMENS FORTES DA INGLATERRA: David Cameron, ao centro, olha de soslaio para o atual primeiro ministro Gordon Brown, que parece olhar para trás, Nick Clegg, o primeiro da direita olha para o futuro, sabendo que todos precisam dele

Toinho de Passira
Fontes: BBC Brasil, Reuters, BBC Brasil

Ontem dizíamos que Gordon Brown estava fora do poder na Inglaterra em qualquer cenário, visto o resultado final das eleições para o parlamento Britânico. Desconhecíamos que pela Constituição britânica, o primeiro-ministro que já está no poder, no caso de um Parlamento eleito sem maioria absoluta tem a primazia de ser o primeiro a tentar formar uma coalizão para governar.

As eleições tiveram um resultado diluído de poder que não acontecia desde 1974. O partido mais votado foi o Conservador, liderado por David Cameron, com 306 cadeiras na Câmara dos Comuns – vinte a menos que o necessário para atingir a maioria. O Partido Trabalhista, comandado pelo atual primeiro-ministro, Gordon Brown, ficou com 258 cadeiras, em segundo. A surpresa da campanha, o Partido Liberal Democrata, dominado por Nick Clegg, obteve apenas 57 vagas.

Desculpe-nos, o deslize, foi um atrevimento de quem nem entende a política tupiniquim e se mete a entender o parlamentarismo inglês.

Foto: Getty Images

O que significa esse sorriso britânico do Primeiro Ministro Gordon Brown?

Recebemos umas dicas da leitora Carmen Moraes, que mora em Londres há trinta anos, ficamos entusiasmado mas no fim ela nos aconselha a desistir de tentar compreender.

Teimosamente fomos adiante: por exemplo, o atual primeiro ministro, o trabalhista Gordon Brown, por enquanto no cargo, aparentemente abriu mão da premissa de ser o primeiro a tentar montar a coalizão e disse que vai esperar pelos resultados das conversas entre Cameron dos Conservadores e Clegg dos Sociais Democratas, para depois entrar em campo.

Pensamos se o premiê está apenas escondendo o jogo, ou se político inglês não esconde jogo, e tudo se passa naquele formalismo de quem está negociando sob a supervisão da Rainha.

Até os analistas da BBC quando tentam explicar as possibilidades, parecem que estarem pisando em um terreno desconhecido, até porque essa história de partido ganhar e não ter maioria não tem acontecido desde os anos setenta, e que por si só muda a feição de tudo.

Segundo os analistas da BBC, Brown pode tentar sim, continuar no poder, seu ponto de partida teria que ser o partido Liberal Democrata, embora os dois partidos combinados não terão assentos suficientes, 315 dos 326 necessários, para formar uma maioria funcional no Parlamento.

Então teria que chamar os partidos pequenos para a composição e os mais prováveis seriam dois partidos da Irlanda do Norte - o SDLP e o Alliance.

Se os quatro se alinhassem teriam cerca de 320 cadeiras – o que seria ainda seis a menos de uma maioria absoluta - mas talvez o suficiente para governar com base em uma minoria, negociando projeto a projeto, no parlamento, o que deixaria o país em permanente suspense, nada bom para os dias atuais cheios de sobressaltos na economia.

Foto: Reuters

O conservador David Cameron, à direita, procura preocupado a atenção do social-democrata Nick Clegg, que faz doce olhando para o céu

O caminho mais provável e lógico continua sendo os liberais-democratas negociarem com o grande vencedor da disputa o partido conservador.

Uma combinação de conservadores com liberais-democratas seria o único acerto que garantiria mais do que os 326 assentos de forma clara, com 37 vagas a mais que o necessário.

Entretanto os conservadores, precisando apenas de 20 vagas a mais, poderiam tentar dispensar os “libers” e optar por acertos com o Partido Nacional Escocês e o Partido do País de Gales (Plaid Cymru).

Tais partidos, entretanto, não são vistos como aliados naturais dos grandes partidos britânicos. Eles afirmam que usariam um parlamento sem maioria clara para obter "os melhores acordos possíveis" para Escócia e País de Gales.

Portanto a decisão volta para os liberais-democratas e seus disputados 57 votos, que por ironia, apesar de estar em terceiro lugar entre os grandes, acabaram com muito poder, por funcionarem como fiel da balança.

A situação pode chegar ao limite, muito improvável, de serem dos liberais-democratas o cargo de primeiro ministro, embora durante a campanha eleitoral, o líder liberal-democrata Nick Clegg disse repetidamente que o partido com o "maior número de cadeiras" deveria ter o direito de governar e repetiu a mesma tese na manhã desta sexta-feira.

Aliás, o fato dele ter acrescentado que mantinha essa posição, e que os conservadores, tendo conquistado o maior número de assentos e de votos, deveria ter o direito de tentar formar um governo "em nome dos interesses nacionais", foi interpretado que Gordon Brown não vai encontrar muito espaço para negociar com eles.

Foto:Associated Press

David Cameron, à direita, mantém o olhar na direção do social-democrata Nick Clegg, que continua se fazendo de difícil ignorando-o

Há uma possibilidade, ainda mais remota, dos conservadores, não se unindo com os sociais-democratas, venham a fazer acordos com outros pequenos, como Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte e ao único parlamentar do partido Unionista Independente, isso os daria um bloco estimado em 315 assentos.

O complicador é que o núcleo do eleitorado do UDP é feito de trabalhadores, que seriam "duramente afetados" se os conservadores retirassem grande parte dos gastos públicos da província.

Durante a campanha, os nacionalistas escoceses e galeses descartaram se unir a uma coalizão formal. Eles acreditam que votar sobre temas caso a caso seria sua melhor oportunidade de conseguir bons acordos para seus eleitores.

A tendência final é que haja mesmo a aliança lógica entre Conservadores e Liberais-democratas, uma solução muito mais estável do que um governo conservador minoritário.

Só para tentar compreender o resto da engrenagem, a partir daí, vendo ajustado o acordo dos adversários, Gordon Brown renuncie, como premiê, admitindo a derrota. A rainha então convidara o atual líder da oposição, a tentar formar um governo e então David Cameron será o novo primeiro ministro inglês.

Não há um prazo final formal para a formação de um governo, mas 25 de maio é uma data-chave - dia em que a rainha deve determinar, em discurso, as prioridades do governo.

Se os partidos não chegarem a um acordo, a Rainha convocará novas eleições e começará tudo de novo.

Se não entendemos, pelo menos ficaram confusos com bem mais informações.

Foto: Getty Images

Todas essas fotos foram tiradas nessa manhã de sábado, quando os três líderes ingleses reuniram-se numa solenidade que comemora a vitória aliada na Europa no fim da 2ª Guerra Mundial


*Baseamos, a maior parte do texto, numa matéria da BBC Brasil que ouviu vários especialistas, entre eles: o professor Robert Hazell, do think-tank britânico Institute for Government; O editor de política da BBC Nick RobinsonTim Bale, especialista em política da Universidade de Sussex e o editor-adjunto de política da BBC James Landale, se quiser leia o texto completo em: ENTENDA: Analistas da BBC explicam impasse eleitoral britânico

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