21 de set. de 2014

Unidos pelo petróleo; Cid Gomes, governador do Ceará e Paulo Roberto Costa, ex diretor da Petrobras, preso

BRASIL - Corrupção
Unidos pelo petróleo: Cid Gomes, governador do Ceará e Paulo Roberto Costa, ex diretor da Petrobras, preso
Como era a relação entre o governador Cid Gomes e o delator e ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que se estreitou nos últimos seis anos a ponto de ultrapassar a fronteira do contato institucional


PROXIMIDADE INCONTESTÁVEL -Em 20 de agosto de 2008, o então diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, esteve ao lado do governador do Ceará, Cid Gomes, durante inauguração do Terminal de Regaseificação do Pecém. Também estavam presentes o presidente Lula e autoridades do governo

Postado por Toinho de Passira
Texto de Claudio Dantas Sequeira e Izabelle Torres
Fonte: IstoÉ

ISTOÉ revelou na semana passada que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa incluiu o governador do Ceará, Cid Gomes (PROS), na lista de políticos beneficiados pelo esquema de corrupção na estatal.

Ao ser confrontado com a informação, Cid Gomes começou a se encalacrar nas próprias versões. Primeiro disse que não sabia quem era Paulo Roberto Costa. Depois, alegou nunca haver estado com ele na vida. Suas explicações iniciais, porém, foram desmontadas em pouquíssimas horas.

No mesmo dia da publicação da reportagem de ISTOÉ, pipocaram nas redes sociais fotografias de encontros e eventos em que Paulo Roberto Costa e Cid Gomes aparecem lado a lado. Numa das imagens, o delator e o político cearense demonstram intimidade.

Sorriem um para o outro. Uma dessas fotos foi tirada no dia 10 de junho de 2008 no Palácio de Iracema, antiga sede do governo do Ceará. Na imagem, Cid está sentado à cabeceira de uma ampla mesa de reuniões, tendo Costa imediatamente a seu lado.

No encontro, os dois trataram do ambicioso projeto da refinaria Premium II, anunciada com pompa pelo governo do Ceará como a futura maior refinaria de petróleo do mundo com produção de 300 mil barris por dia e investimentos estimados em R$ 11 bilhões. Foi apenas o primeiro de muitos encontros entre Cid e Costa.


ONDE TUDO COMEÇOU - Em encontro no dia 10 de junho de 2008, no Palácio de Iracema, Cid Gomes e Paulo Roberto Costa negociaram a construção da refinaria Premium II, no Ceará

Os dois estiveram juntos participando de reuniões para tratar de negócios privados, mesmo depois de Costa ter deixado a Petrobras em abril de 2012. Em maio de 2013, ambos trataram de um projeto pessoal do delator e ex-diretor de Abastecimento da estatal: a instalação no Estado de uma minirrefinaria de petróleo.

Em 17 de janeiro deste ano, Costa esteve em mais um encontro com Cid. Na reunião, o governador do Ceará lhe prometeu uma área de dez hectares no Complexo Industrial e Portuário de Pecém. À imprensa local, na ocasião, o ex-diretor da Petrobras disse que estava otimista e previa construir a minirrefinaria em até 18 meses. Dois meses depois, ele foi preso.

Esses fatos derrubam categoricamente a segunda versão apresentada por Cid Gomes. Ao não conseguir desmentir as fotos em que aparece ao lado de Costa, o governador refez sua declaração inicial. Em nota oficial, negou qualquer envolvimento ou tratativas pessoais com o delator.

“Todo o meu relacionamento com a Petrobras sempre foi institucional”, disse. Como se vê, a nova versão de Cid também não se sustenta.


Evento no Ceará, em 2008, reuniu o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e a então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff

O projeto de minirrefinarias de Costa era antigo, mas enquanto ele ocupou a direção de Abastecimento e Refino da Petrobras nunca conseguiu executá-lo. Em 2005, Costa e o então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, tentaram emplacá-lo sem sucesso no Rio Grande do Norte, na ocasião governado por Wilma de Faria (PSB). A ideia era usar a minirrefinaria como uma forma de compensar a construção da refinaria de grande porte em Abreu e Lima, Pernambuco.

Naquele momento, o hoje falecido Eduardo Campos gozava de prestígio no Palácio do Planalto. Ao conseguir para seu Estado o investimento bilionário da estatal, Campos buscou alternativas para contemplar os aliados do partido, que se sentiram desprestigiados. Além da governadora Wilma de Faria, era preciso agradar também aos caciques Cid e Ciro Gomes, hoje no PROS, mas que, à época, estavam filiados ao PSB de Eduardo Campos.

Para o Ceará, o governo articulou a construção de uma siderúrgica com investimento da Vale e das coreanas Dongkuk e Posco, e Paulo Roberto Costa acenou com a criação da minirrefinaria. Mas os Gomes, naquela ocasião, não acharam suficiente. Queriam algo mais grandioso. Ambicionavam um projeto como a pernambucana Abreu e Lima.

Quando assumiu o governo em 2007, Cid conseguiu o aval de Gabrielli para a realização de seu desejo. O encontro de 10 de junho de 2008 no Palácio de Iracema, registrado pela imagem que ilustra a abertura desta reportagem, selou as tratativas para a construção da refinaria Premium II e também marcou o início de uma longa relação entre Cid Gomes e Paulo Roberto Costa.

Depois do encontro com o governador, Costa atravessou a noite em Fortaleza na companhia de técnicos da Petrobras. No dia seguinte, visitaram Pecém e a área que seria disponibilizada para a construção da refinaria. Após sobrevoar o local, o executivo decretou:

“O terreno está numa área industrial bem localizada e próximo a um porto com logística capaz de atender nossas necessidades”. Acompanhou a comitiva o então presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Ceará (Adece), Antônio Balhmann, hoje deputado federal pelo PROS e homem de confiança de Cid, e o presidente do Conselho de Desenvolvimento do Ceará (Cede), Ivan Bezerra.

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Dois meses depois, em 20 de agosto, Paulo Roberto Costa voltou ao Ceará para a inauguração do Terminal de Regaseificação do Pecém. Além do próprio Cid, estavam presentes o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, e Gabrielli. No palanque, Costa sentou-se exatamente atrás do governador do Ceará, como é possível ver em várias fotos oficiais.

A construção da Premium II foi confirmada com a assinatura de protocolo de entendimentos e o lançamento da pedra fundamental anunciado para dezembro de 2009, o que só acabou ocorrendo no final de 2010. Em 29 de dezembro, no último ato de governo, Lula participou da cerimônia oficial, assim como Gabrielli, Costa e o presidente da Transpetro, o cearense Sérgio Machado.

Àquela altura, porém, ainda não havia terreno, licença ambiental ou estudos de impacto, nem mesmo um projeto técnico concluído ou contrato firmado. Naquele ato, Costa destacou que a produção da refinaria seria destinada ao mercado interno. Ele sentou-se na primeira fileira de autoridades, ao lado de Machado, Lula, Cid, Gabrielli e do senador Inácio Arruda (PCdoB).

Em 24 de abril de 2012, Paulo Roberto Costa, já demissionário, foi a Fortaleza participar como palestrante do Ciclo de Debates do Centro Industrial do Ceará. Disse que a Petrobras estava pronta para iniciar as obras e aguardava apenas a entrega do terreno de dois mil hectares no Pecém. A doação da área foi um dos grandes entraves para a refinaria, uma vez que a posse do local era questionada por índios da tribo Anacé.

No dia seguinte, foi à Universidade de Fortaleza, onde palestrou para alunos de engenharia sobre os projetos de refino da estatal. Foi quando revelou que a Petrobras buscava sócios para erguer a Premium II. Costa, então, apresentou o problema a Cid, que se empenhou pessoalmente na busca de um investidor. Iniciou conversas com a coreana GS Energy, mas a parceria não prosperou.

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