Com o gesto político de filar-se ao PSB, a ex-senadora Marina Silva, não deixa dúvidas de que será a vice na chapa do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, nas eleições de 2014.
A escolha de Marina pelo PSB se dá de modo a formar uma “terceira via” no cenário político nacional – e quebrar a polarização entre PT e PSDB, que domina a política brasileira desde 1994.
Com um capital político de 20 milhões de votos nas eleições de 2010, Marina era cortejada por pelo menos sete partidos. Oficialmente, Marina e Campos não bateram o martelo como será composta a chapa entre os dois, durante o anúncio oficial feito na tarde deste sábado, em Brasília, último dia para que Marina optasse por um partido a tempo de disputar as eleições do ano que vem, mas ninguém tem dúvidas que os dois estão acertados.
Campos desembarcou em Brasília já na sexta-feira para costurar os detalhes finais da filiação. Na manhã deste sábado, outros caciques do partido chegaram à capital federal para discutir os termos da entrada de Marina no bloco socialista. Marina só não foi anunciada como nova filiada à sigla ainda na sexta, porque ela preferiu conversar com outras legendas que também lhe ofereceram espaço para justificar sua decisão e agradecer os convites. Foi por este motivo que esteve reunida com o presidente do PPS, Roberto Freire, neste sábado.
A decisão de aderir ao PSB foi tomada na madrugada em uma reunião em Brasília com sete fundadores da Rede e alguns deputados que apoiaram o projeto, como Reguffe (DF), Miro Teixeira (RJ) e Walter Feldman (SP). Durante a conversa, o grupo se dividiu - uma parte afirmou temer que Campos pudesse recuar e apoiar a reeleição de Dilma Rousseff, o que acabaria colocando Marina e a Rede na chapa petista.
Foto: José Cruz/ABr
Dilma foi pega de surpresa com a articulação na última hora entre Marina Silva e Eduardo Campos
A ex-senadora, entretanto, reafirmou ter ouvido de Eduardo Campos que a decisão de disputar as eleições presidenciais já está consolidada. Para reforçar, ela lembrou que o PSB desembarcou do governo Dilma no mês passado e entregou os ministérios que chefiava.
Segundo relato de aliados, Marina disse que a opção pelo PSB "era a melhor alternativa para derrotar Dilma" e que "o PT está tentando implantar o chavismo no Brasil". Ela chegou a afirmar também que o PT teria mobilizado sua militância para destruir seu projeto nas redes sociais.
Desde a noite desta quinta-feira, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou, por seis votos a um, o registro à Rede Sustentabilidade, Marina e seus apoiadores têm discutido que caminho seguir. Familiares e militantes conhecidos como “sonháticos” defendiam que a ex-senadora abrisse mão de se filiar a uma legenda para continuar a recolher assinaturas para a Rede e manter a coerência de não se alinhar a partidos que não tivessem a mesma afinidade programática que ela.
O PPS, por exemplo, um dos primeiros a lhe oferecer a legenda, apoiou ruralistas na votação do Código Florestal, no Congresso.
Depois do impasse gerado com a decisão do TSE da última quinta-feira, apoiadores começaram a procurar outras legendas para concorrer nas eleições do próximo ano. O deputado Miro Teixeira (PDT), por exemplo, que esteve presente na filiação de Marina ao PSB, deixou o PDT e se filiou ao Pros. Domingos Dutra (MA), um dos fundadores do PT, também escolheu uma nova legenda, o recém-criado Solidariedade.
O jornalista Gerson Camarotti diz que o Palácio do Planalto foi pego de surpresa com a articulação na última hora entre Marina Silva e Eduardo Campos para a disputa presidencial do ano que vem. Segundo um interlocutor da presidente Dilma Rousseff, ainda não é possível dimensionar o impacto da aliança entre os dois na campanha de 2014. Mas a notícia foi recebida com preocupação no núcleo do governo.
Para eles, a presidente reconhece que o melhor cenário era com Marina fora da disputa. Não se imaginava até agora que ela poderia participar numa chapa com Campos.
No seu Blog Cristiana Lôbo, da Globo News, reporta que no encontro com Roberto Freire, Marina que foi convidar o PPS para participar desta aliança e, assim, fortalecer a oposição à candidatura de Dilma Rousseff à reeleição, ouviu uma recusa: o presidente do PPS disse que o partido havia oferecido a legenda a Marina, mas não iria aderir a uma frente partidária.
“É um candidato a menos para enfrentar o PT”, disse ele, lembrando que a aliança entre Campos e Marina “é uma vitória de Lula”, pois reduz o número de opositores”, dissera Freire mostrando contrariedade.
Aliados de Marina Silva dizem que o movimento dela representa “um gesto político de alta expressão, pois é o primeiro fato político além da disputa eleitoral”.
Miro Teixeira disse que o gesto de Marina é um ato de rebeldia . “É um ato rebelde, de desobediência civil”, disse ele afirmando que Marina terá uma opção partidária “para ter participação eleitoral e disputar qualquer cargo, a presidência, a vice-presidência, o Senado ou governo estadual”.
Foto: José Cruz/ABr
Eduardo Campos comentando que no sida histórico em que a Constituição Brasileira de 1988 completava 25 anos, Marina filiava-se a PSB
Nas pesquisas eleitorais, Marina está em segundo lugar nas intenções de voto, tendo chegado a aparecer com 22%; e Eduardo Campos em quarto lugar, variando em torno de 5%. A união dos dois seria emblemática até em função do périplo que Eduardo fez ao longo deste ano no meio empresarial – onde Marina tem trânsito em apenas alguns segmentos. Ao mesmo tempo, Marina se comunica bem com a juventude e tem o discurso de fazer a “nova política”, quebrando a polarização entre PT e PSDB que dominou as disputas brasileiras nas últimas cinco disputas – o que combina com a aliança com Eduardo Campos.
- É um ataque nuclear em cima do que está aí – disse um entusiasta da idéia, citado por Cristiana Lôbo.
A candidatura de Eduardo Campos tomou um impulso inesperado, foi tonificada e fermentada com a presença de Marina ao seu lado. Mas isso não foi um acontecimento surpreendente para os dois.
Campos e Marina iniciaram a aproximação em abril, quando o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) entrou com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender a discussão no Congresso de um projeto que restringia a criação de partidos políticos, que atingiria a proposta da ex-senadora de formar a Rede Sustentabilidade. A ação do senador era um aceno de Campos a Marina, que já percebia a dificuldade de conseguir o registro de seu partido. Nas últimas semanas, diante da percepção de que a Justiça Eleitoral não permitiria a criação da Rede, Walter Feldman e um grupo de empresários paulistas simpáticos à candidatura de Marina avaliaram que a parceria com Campos era a mais sensata.
Na noite da última quinta-feira, logo após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negar o registro da Rede, Rollemberg telefonou para Marina. A ex-senadora disse que Feldman iria procurá-lo. Rollemberg e Feldman almoçaram na sexta-feira para os últimos acertos do acordo. Rollemberg, então, avisou a Campos, por telefone, que ele poderia pegar um voo para Brasília e anunciar a aliança.
Na entrevista deste sábado para formalizar a aliança, Marina e Campos tentaram passar a impressão que o acordo foi uma "surpresa" inclusive para eles. A ideia era mostrar que, num gesto de desprendimento, a ex-senadora abria mão de sua candidatura num partido nanico em prol de um projeto político que tivesse sintonia com a frustrada Rede Sustentabilidade.
Diferentemente do que disse no encontro reservado com Campos na noite de sexta-feira, Marina não assumiu, na entrevista, a posição de vice na chapa. Ao final da entrevista, um repórter perguntou a Marina se a aliança com o PSB era uma forma de se vingar do PT, partido que teria trabalhado contra a Rede, e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não fiz um gesto de vingança, mas de esperança", respondeu rindo.
A aliança entre Marina e Campos também coloca lado a lado na eleição do ano que vem duas figuras políticas com histórico de ligação com o PT. Marina foi senadora pelo partido e ministra do Meio Ambiente no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Campos também foi ministro de Lula e o PSB apoiou o PT em cinco das seis eleições presidenciais disputadas desde a redemocratização do país. Somente em 2002 os socialistas não apoiaram o PT no primeiro turno, mas se juntaram aos petistas no segundo.
Foto: José Cruz/ABr
A sorte está lançada, nas próximas semanas não se vai o falar de outra coisa, mas, só as próximas pesquisas começarão a desenhar numericamente, o que representou essa aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário