Conflito agrário pode ter sido o motivo da execução do promotor Thiago Faria Soares, 36 anos, na manhã de ontem, na PE-300, nas proximidades de Itaíba, Agreste do estado, a 331 km do Recife. Essa é a principal linha de investigação da Polícia Civil.
Ontem, o governador do estado, Eduardo Campos, garantiu que pedidos de prisão preventiva foram solicitados junto à Justiça.
Nesta tarde, a Polícia Civil de Pernambuco anunciou já identificou o principal suspeito do assassinato do promotor, confirmando que o crime está relacionado com disputa de terras na cidade e não estava ligado diretamente com sua atuação profissional, no Ministério Público de Pernambuco.
Segundo o chefe da Polícia Civil, Oswaldo Moraes, o fazendeiro José Maria de Paula, envolvido em uma disputa de terra com o pai da noiva do promotor, é apontado pelas investigações como o mandante do crime. Já há um mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça contra o suspeito,que se encontra foragido.
No momento em que foi assassinado com quatro tiros de uma espingarda calibre 12, o promotor estava acompanhado da noiva, a advogada Mysheva Freire Ferrão Martins, e do tio dela Adautivo Elias Martins. Ele conduzia um Hyunday prata na altura do km15 quando foi interceptado por ocupantes de um Fiat Uno preto. A advogada teria conseguido escapar pulando do carro após o primeiro disparo. Ela foi socorrida com escoriações na Maternidade João Vicente, em Itaíba, onde recebeu alta médica ontem mesmo.
Foto: Paulo Paiva/DP/D.APress
A casa da fazenda onde o promotor residia, anteriormente na posse do fazendeiro José Maria de Paula, suspeito do crime, que se encontra foragido
O promotor, que estava com casamento marcado, já morava com a noiva, Mysheva Freire Ferrão, na Fazenda Nova, em Águas Belas, exatamente a terra que pode ter motivado o crime. A fazenda anteriormente estava na posse do fazendeiro, agora o principal suspeito de mandante do crime. O promotor teria atuado na reintegração de posse desta terra em benefício da família da noiva, no caso, do próprio sogro. Em seguida, as terras teriam sido colocadas para leilão através do Banco do Nordeste e, na ocasião, o promotor teria arrematado a propriedade, onde passou a residir.
Pelo seu comportamento nos fatos, Thiago Faria foi advertido pela Corregedoria Geral do Ministério Público de Pernambuco, que temendo pela segurança do servidor, e reprovando sua atuação, removeu-o compulsoriamente de Águas Belas, para Itaíba. Não se pode dizer que sua participação no caso chegou a ser ilegal, mas contém componentes de falta de ética e de muita falta de bom senso.
Foto: Facebook
Thiago Faria, num evento, exibindo, orgulhoso, os livros de sua autoria
PROFESSOR THIAGO
O promotor Thiago Faria Soares, 36 anos, era carioca, e graduou-se em direito pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ). Morava desde 2005 em Pernambuco, onde atuou como professor em diversos cursos preparatórios para concursos, como o Complexo de Ensino Renato Saraiva (CERS), reputado como a maior instituição de ensino a distância do Brasil, além de Espaço Jurídico e ATF Cursos Jurídicos.
Era conhecido inicialmente como Thiago Godoy, sobrenome de sua primeira esposa. Quando se divorciou, em 2011, passou a ser chamado pelos alunos de Thiago Faria. Consagrou-se como professor de direito civil, sendo reconhecido nacionalmente por suas aulas.
Além da carreira como docente, que o fez ser professor convidado do programa Saber Direito, da TV Justiça, do Supremo Tribunal Federal. Thiago Faria é autor de dezenas de artigos que foram publicados em revistas jurídicas especializadas e escreveu diversos livros jurídicos, como as recentes obras Saberes do Direito 17 - Direito Civil 3 e Passe na OAB - 2ª Fase - Teoria & Modelos - Civil, publicadas pela Editora Saraiva. Seus livros servem de base para o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e para vários concursos.
Aprovado no último concurso para o Ministério Público, em 2008, ele foi nomeado promotor de Justiça em 30 de novembro do ano passado e assumiu o cargo em dezembro. Tinha uma irmã um ano mais velha e era filho de pais divorciados. De acordo com informações de um amigo próximo, Thiago Faria não falava com o pai. O carioca não tinha parentes residindo em Pernambuco, apenas a ex-mulher, Aline Godoy. Antes de conhecer a atual noiva, ele teve outras duas namoradas e noivou com ambas.
Foto: Facebook
Mysheva Freire Ferrão, a noiva, exibiu anel que recebera do seu noivo, o promotor Thiago Faria
CASAMENTO ESTAVA MARCADO PARA DIA 1º
A advogada Mysheva Freire Ferrão Martins conheceu o carioca Thiago Faria Soares em Águas Belas, município vizinho a Itaíba, onde ele atuava como promotor desde dezembro do ano passado. Pertencente a uma família tradicional e que domina politicamente a região, a jovem iniciou o curso de direito na Universidade Salgado de Oliveira (Universo), mas se formou na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
Eles tinham casamento marcado para o próximo dia 1º de novembro. Em sua foto de perfil no Facebook, Mysheva aparece sorrindo ao lado de Thiago Faria, de quem ficou noiva em junho.
Em postagem sobre o noivado na mesma rede social, o promotor afirmou: "Início de uma família! Momento mais feliz da minha vida até hoje, mas completo mesmo só com o casamento e com os filhos, que logo virão, se Deus abençoar".
Foto: Pedro Romero/JC
O carro do Promotor atingido por balas na estrada de acesso a Itaíba
ITAÍBA, POBRE E COM HISTÓRICO DE VIOLÊNCIA
Com 26 mil habitantes, Itaíba é uma cidade famosa pela violência, principalmente devido aos crimes de pistolagem. Ontem, o clima na cidade mais uma vez ficou tenso, com o assassinato do promotor Thiago Faria Soares. O movimento de carros do Ministério Público e da polícia foi intenso durante todo o dia. Além da violência, o município é conhecido também pela pobreza, com um dos piores indicadores da educação no Estado e Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) de apenas 0,510, um dos mais baixos de Pernambuco e do Brasil.
Em 2010, apenas 19,45% da população de 18 anos ou mais de idade tinha completado o ensino fundamental e somente 10,93% o ensino médio. As péssimas condições da infraestrutura seria uma das razões para a violência que impera na cidade.
Citada na Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou os crimes de pistolagem em 2000, pelo menos três grupos com cerca de 150 integrantes e envolvimento de políticos, agiriam na cidade. Os grupos seriam responsáveis por crimes como assaltos a bancos e a carros-fortes. Ontem, apesar da morte do promotor, o fórum da cidade estava aberto e serviu de local para reuniões entre promotores e delegados. A segurança na cidade foi reforçada e policiais de
grupos especiais faziam diligências para tentar prender os suspeitos de terem assassinado Thiago Faria.
ENTERRO
O corpo de Thiago Faria foi sepultado hoje, no fim da tarde, no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, na região metropolitana do Recife.
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