Eleição 2014: Jogo embaralhado, de Merval Pereira
BRASIL - Opinião Eleição 2014: Jogo embaralhado A narrativa que Eduardo Campos e Marina começaram a montar no sábado, e ficará mais explícita com o passar dos tempos, inclusive na propaganda partidária, é a de que se uniram para “acabar com a Velha República” e encerrar a polarização entre PT e PSDB. Passada a euforia, porém, virá a ressaca. A realidade de nosso sistema político-partidário pode atropelar o sonho de representar uma maneira nova de fazer política. Imagem: efeito sobre foto de José Cruz/ABr Postado por Toinho de Passira Vai ser um ano interessante, tanto no sentido estrito da palavra quanto no confuciano, de turbulências infindáveis impedindo a tranqüilidade. O fato é que a ex-senadora Marina Silva, que já estava sendo dada como “abatida” ao decolar, e classificada de incompetente por não ter conseguido organizar a tempo seu partido, deu um golpe de jiu-jitsu no governo, aproveitando sua própria força para derrubá-lo. A indignação por não ter recebido o registro do Rede, fato que atribui a uma manobra governista, deu-lhe forças para buscar o inesperado e voltar ao jogo que parecia já jogado. Não foi por acaso que o marqueteiro oficial, João Santana, apareceu na revista Época, no mesmo sábado em que Marina anunciava seu golpe de mestre, falando uma série de sandices a respeito de “anões” e “soberanas”. Afirmava até mesmo, para sua infelicidade, que entre os anões, o mais fraco era justamente o governador de Pernambuco Eduardo Campos. Estavam ali registrados os dois planos em que se dá essa disputa: de um lado a arrogância dos mais fortes, do outro a astúcia da sabedoria, o marketing político contra a política com P maiúsculo, que transforma a realidade, enquanto o marketing a distorce para vender uma imagem, que quase nunca corresponde à vida real. Os dois assumiram a tarefa de traduzir em gestos e atos políticos os anseios das ruas. Para muitos, porém, Marina, com a decisão de participar do jogo político por dentro, deixou de ser um reflexo dessa vontade de mudar a maneira de fazer política, e as coligações diversificadas que o governador Eduardo Campos já fechara com políticos oriundos da direita partidária começam a ser colocadas em xeque pelos militantes “marineiros”. Nada indica, também, que a soma dos dois acabará representada nas pesquisas, o que, à primeira vista, poderá desanimar os apoiadores, podendo até mesmo estimular o aumento de votos nulos. A narrativa que Eduardo Campos e Marina começaram a montar no sábado, e ficará mais explícita com o passar dos tempos, inclusive na propaganda partidária, é a de que se uniram para “acabar com a Velha República” e encerrar a polarização entre PT e PSDB. Passada a euforia, porém, virá a ressaca. A realidade de nosso sistema político-partidário pode atropelar o sonho de representar uma maneira nova de fazer política. Nas redes sociais já estão registradas as frustrações dos “marineiros”, que em, sua grande maioria prefeririam que ela estivesse fora a vê-la abraçada a um político tradicional, de um partido tradicional, que tem alianças tradicionais pelo país afora. Marina, que tem suas raízes na política tradicional, é capaz de lidar melhor com essas contradições do que a maioria de seus seguidores. O choro que se seguiu ao anúncio, na madrugada de Brasília, prossegue na rede, e foram os políticos tradicionais que traduziram para a realidade do país a decisão tomada. Lembraram aos “marineiros” frustrados que a “filiação democrática” foi a maneira que muitos partidos de esquerda, que não foram para a luta armada, encontraram para participar da política no MDB, contra a ditadura militar. A entrada de Marina no PSB transformou o Rede Sustentabilidade num partido clandestino dentro da democracia, numa imagem que ela encontrou para estimular seus seguidores a fazerem guerra de guerrilha contra os que a queriam ver fora da disputa. Mas essa guerrilha “marineira” pode levar problemas para a “coligação democrática”, pois os institutos de pesquisa não deixarão de medir a popularidade de Marina, mesmo ela teoricamente fora da disputa. A um ano das eleições, o jogo está embaralhado, e caberá aos jogadores se moverem da melhor forma possível pelo campo de batalha redesenhado. Os petistas, até mesmo Lula, foram apanhados no contrapé, e uma campanha que já estava sendo estruturada para mais uma vez ser o debate entre os governos de Fernando Henrique Cardoso e Lula, terá que lidar com o fato novo de que estará sendo oferecida ao eleitorado uma alternativa para o futuro do país, e não uma discussão do seu passado. *Alteramos título, acrescentamos subtítulo e foto a publicação original |
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