19 de jun. de 2010

COLOMBIA: Os crimes contra a humanidade do governo Uribe

COLÔMBIA
Os crimes contra a humanidade do governo Uribe
Nem tudo foi digno na luta de combate a guerrilha pelo governo colombiano de Alvaro Uribe. Existem acusações fundadas que prováveis milhares de inocentes foram mortos por engano, erro ou propositadamente, para compor as estatísticas do exercito no combate a guerrilha. Familiares de vítimas dessas execuções estão dispostas a processar o governo colombiano, na Corte Penal Internacional, caso a Justiça do país não puna os responsáveis pelos assassinatos

Foto: Alerta Roja

“guerrilheiros” eram exibidos, como se estivessem mostrando o resultado de um safári. Descobriu-se que entre os guerrilheiros mortos, centenas eram jovens inocentes

Toinho de Passira
Fontes: BBC Brasil, Radio Mundial, Cronica Viva, El Tiempo, Semana , Alerta Roja

A Justiça colombiana investiga pelo menos 1,8 mil assassinatos de jovens de baixa renda do campo e da cidade, que depois de mortos foram vestidos como guerrilheiros. Esses crimes acabaram inflando as estatísticas do Exército, exibindo um suspeito sucesso no combate aos grupos armados. O escândalo na Colômbia é conhecido como “falsos-positivos”.

Durante o tempo em que Juan Manuel Santos, candidato governista à Presidência e favorito nas eleições deste domingo, foi ministro de Defesa de Uribe ocorreram a maioria dos assassinatos.

Santos disputa o segundo turno com o candidato do Partido Verde, Antanas Mockus.

"Queremos que se saiba a verdade, que haja justiça, que isso não volte a acontecer, mas sei que esse é o país da impunidade", disse à BBC Brasil Luz Marina Bernal, cujo filho foi capturado e executado pelo Exército em janeiro 2008.

Mãe de quatro filhos, Luz Marina vive no bairro periférico de Soacha, próximo à Bogotá. Seu filho, Fair Leonardo Bernal, de 26 anos, sofria de deficiência mental e nunca foi alfabetizado.

"Era como uma criança de 9 anos", conta. "Para ele, todo mundo era amigo. Ele ajudava todos no bairro, em trabalho de construção, em qualquer coisa", afirma Luz Marina, que diz não saber as circunstâncias em que o filho foi levado. "Suponho que alguém pediu para ele ajudar em algum trabalho e assim levaram ele".

Foto: El Tiempo

"Enquanto nossos filhos eram assassinados (...) os soldados iam recebendo medalhas, condecorações, dinheiro", disse uma das mães

A descoberta da execução de Bernal, morto com 13 tiros nas costas, e de outros 18 jovens de Soacha - encontrados no bairro de Santander - acabou levando a revelação dos demais casos de execuções extra-judiciais no país.

"Depois de oito meses buscando, para mim foi terrível ver uma fila de rapazes mortos e ver que o primeiro era o meu filho", conta.

"Foi assim que descobri que meu filho tinha sido morto pelo Exército, acusado de ser guerrilheiro", relata Luz Maria que pertence ao grupo das Mães de Soacha.

Foto: Guillermo Torres/SEMANA

Uma mãe exibe a foto do seu filho desaparecido em Soacha, que apareceu morto durante um suposto combate com o exército.

Para muitos, o escândalo é uma consequência da política de segurança e do esquema de recompensas oferecido pelo governo para oficiais e civis que dessem informação que levassem à captura ou execução de rebeldes.

"O governo queria mostrar resultados para o informe do Plano Colômbia e para eles foi fácil levar nossos jovens filhos, assassiná-los e enterrá-los em fossas comuns", critica Luz Marina.

Para ela, o presidente e o ex-ministro de Defesa, Juan Manuel Santos, tinham conhecimento dos crimes.

Fotos: Reuters

O presidente Uribe diz que prendeu, expulsou e entregou a justiça os militares envolvidos, Santos diz que contribuiu para acabar com a prática criminosa

"O ministro Santos e o presidente sabiam o que estava sendo feito", afirmou Luz Marina. "Enquanto nossos filhos eram assassinados (...) os soldados iam recebendo medalhas, condecorações, dinheiro", acrescentou.

Santos, por sua vez, nega as acusações. "Nunca foi uma política de Estado", afirmou Santos em entrevista à BBC horas depois de sua vitória no primeiro turno.

"Eu não inventei (os falsos positivos). Fui eu quem acabei com eles com ações contundentes", afirmou, ao ressaltar que desde novembro o número de denúncias relacionadas ao caso caiu "drasticamente".

De acordo com relatório das Nações Unidas para execuções extrajudiciais, apresentado em maio, apesar de não haver evidências de que as execuções extra-judiciais fossem uma "política de Estado", o relator da ONU Philip Alston, considera que ao mesmo tempo, os falsos-positivos "não foram casos isolados".

"Ocorreram porque as unidades militares sentiram pressão para mostrar êxitos contra a guerrilha por meio de número de baixas", afirmou Alston.

"Houve incentivos: um sistema informal de incentivos para soldados que matavam e um formal para civis que davam informação que levasse à captura ou morte de guerrilheiros", acrescentou.

Foto:EFE

Militares comparecendo a um tribunal para serem julgados, acusados de crimes do falso-positivo

Depois que o escândalo veio à tona, Uribe ordenou a destituição de 27 militares, incluindo três generais e alguns coronéis. Segundo o governo, 194 militares foram condenados e mais de 1,6 mil militares que estão sob investigação.

Ivan Cepeda, presidente do Movimento de Vítimas de Crimes de Estado (MOVICE), diz que se a justiça colombiana não atuar contra os responsáveis por esses casos, a denuncia será levada a Corte Penal Internacional, como crimes de “lesa humanidade".

Foto: Associated Press

"Falsos positivos é um eufemismo técnico para descrever um assassinato premeditado e a sangue frio de civis inocentes” disse o relator especial da ONU, Philip Alston, sobre o crimes cometidos pelos militares colombianos.


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