6 de jan. de 2011

Adeus a Lily Marinho, a sofisticação está de luto

BRASIL
Adeus a Lily Marinho, a sofisticação está de luto
Em 2005, Lily Monique de Carvalho Marinho, duas vezes viúva, disse a um médico amigo acreditar que tinha "quatro ou cinco anos de vida com boa saúde". Também disse : "Acho que dei certo na vida. Nunca pedi nada aos meus maridos, mas eles sempre me deram tudo." Falar de Lily sem citar seus maridos é impossível, até porque se tornou mais conhecida ao unir o sobrenome dos dois: o dono do jornal "Diário Carioca" e fazendeiro brasileiro Horacio Gomes Leite de Carvalho Filho e o dono do sistema Globo, Roberto Marinho.


Lily de Carvalho, retratada pelo pintor russo, radicado no Rio, Dimitri Ismailovitch, 1961

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Portal Terra, Revista TPM, IstoÉ, G1, Folha de São Paulo, Sotheby’s, Época Negócios

Morreu no Rio de Janeiro Lily Marinho, ou Lily Monique de Carvalho Marinho, uma brasileira nascida em Colônia, na Alemanha, criada na França até os 17 anos, filha única da francesa Jeanne Bergeon e do militar britânico John Lemb.

Lily, miss Paris, 1938
Durante os outros 72 anos de vida, Lily foi brasileira e carioca, uma referencia na história da elegância discreta e no requinte sem exageros das mulheres brasileiras.

Casada com dois dos homens mais ricos do Brasil, Horacio de Carvalho e Roberto Marinho, que tinham em comum o fato de serem amigos, donos de jornal e ambos apaixonados por Lily, por muito tempo simultaneamente.

Ao arrebatar o título de miss Paris em 1938, num cinema dos Champs-Elysées, foi conquistada pelo brasileiro Horácio Gomes Leite de Carvalho Filho, descendente de barões, playboy, milionário, fazendeiro e jornalista, que ficou hipnotizado com a sua beleza.

Assim, a contra gosto do pai, apoiada pela mãe, a menina Lily Monique Lemb, de apenas 17 anos, no longínquo 1938, deixa a França e enfrenta uma viagem de 14 dias de navio em direção do seu amado e do desconhecido Rio de Janeiro, cidade pela qual se apaixonou e foi correspondida.

Lily, protetora das artes, junto a uma das obras do escultor francês, Rodin, no Rio de Janeiro

Foi uma esposa dedicada e apaixonada durante os 45 anos, que passou ao lado de Horacio de Carvalho. Um casamento cheio de emoções, algumas desagradáveis, ciúmes e glamour. Por essa época conviveu com todo tipo de gente poderosa, de João Goulart a Juscelino Kubitschek.

O casal teve um filho, Horacio Jr., morto tragicamente em 1966, aos 26 anos, em um acidente de automóvel. Durante 14 anos, Lily fez terapia para superar o trauma pela morte do único filho natural. Recorreu ao espiritismo, mas se definia como "católica fervorosa".

Lily sempre comentou que foi por conselho de sua amiga Sarah Kubitschek, que oito meses depois da tragédia, adotou um bebê, João Baptista, atualmente seu único herdeiro legítimo.

Muita história se contam sobre ela e suas viagens ao redor do mundo, após a primeira viuvez. A mais citada é sua amizade, nascida num jantar em Genebra, com o príncipe Philip, marido da Rainha Elizabeth II, com quem por vezes tomou chá no palácio de Buckingham, na Inglaterra.

Desde que se conheceu Lily de Carvalho, em 1942, Roberto Marinho, o homem mais poderoso do Brasil, dono das organizações Globo, confessou depois, que passou a nutrir um amor platônico e discreto pela mulher do amigo. Mas só deixou seu sentimento aflorar após a morte de Horacio de Carvalho em 1983.

Roberto Marinho e o seu amor Lily Marinho
Só três anos após o falecimento do amigo, Horacio de Carvalho, com muita discrição e respeito, Roberto Marinho, 71 anos, divorciou-se e pediu em casamento Lily de Carvalho, 87.

Os dois viveram um um lindo romance, que durou 12 anos, só encerrado com o seu falecimento, de Roberto Marinho, em 2003, já com 98 anos.

Antes de se unir ao dono das Organizações Globo, Lily já era dona de uma fortuna avaliada em US$ 150 milhões, que herdara do marido. Chegou a ser dona de 18 fazendas, nas quais cultivava milho, arroz, feijão e café.

Nunca trabalhou e assim justificava: "Não entendo as mulheres que têm dinheiro e trabalham. Tiram emprego de quem precisa".

Foi após seu casamento com Roberto Marinho, que se tornou uma figura nacionalmente reconhecida. Embaixadora da Boa Vontade da Unesco, desenvolveu projetos sociais e presidiu as comissões de honra das exposições de Rodin, Picasso, Camille Claudel e Monet no Brasil.

Com ajuda de um escritor, editou "Roberto & Lily", livro em que narrou sua vida com o empresário que criou as Organizações Globo. "Este livro é a prova de que o amor e a ternura ainda podem bater à nossa porta nas horas tardias", dizia no prefácio.

O anel de esmeralda, cravejado de brilhantes, preço recorde, no leilão
Na mansão que foi o lar do casal, no bairro carioca do Cosme Velho, manteve, mesmo anos depois da morte de Marinho, intocada a coleção de 3.700 gravatas e o aparelho de barbear sobre a pia do banheiro do quarto do casal.

Em maio de 2008, Lily Marinho decidiu colocar jóias, obras de arte (incluindo quatro telas de Portinari), móveis, entre outros bens, a leilão, vendido pela Sotheby's inglesa e suíça, para evitar disputas entre seus herdeiros: o filho adotivo João Baptista, os quatro netos e quatro ex-noras.

Curiosamente, neste mesmo ano, Lily havia dito que fizera isso, pois, teria apenas mais três anos de vida.

Mesmo num momento de crise econômica, os leilões renderam quantias que por vezes somaram o dobro do previsto inicialmente pelo leiloeiro.

O conjunto de colar, brincos e anéis de esmeraldas e diamantes de Lily, por exemplo, foi vendido no leilão da Sotheby's de Genebra por US$ 1 milhão (R$ 1,78 milhão), a avaliação inicial, de US$ 500 mil (o equivalente a R$ 891 mil).

Essa era a segunda vez que que a casa de leilões vendeu peças da coleção de dona Lily. Da primeira vez, em maio de 2008, o valor total da venda de 80 joias chegou a US$ 11 milhões (R$ 19,6 milhões), contra uma estimativa inicial de US$ 5 milhões (R$ 8,9 milhões).

Foto: Agência O Globo

Como ninguém é perfeito, em julho de 2010, Dona Lily promoveu um almoço em sua residência no Cosme Velho para a então candidata Dilma Rousseff com mulheres formadoras de opinião. Para os que estranharam a sua adesão proletária rebateu dizendo que ali mesmo havia recebido Fidel Castro, por que não receber o PT?

Foto: Dario Zalis/Agência IstoÉ

A poderosa e sofisticada Lily Marinho, na residência onde morou com Roberto Marinho, em Cosme Velho, no Rio de Janeiro, cercada pelos flamingos doados por Fidel Castro.


*Redigimos esse texto pesquisa, atendendo sugestão de nossa amiga Ana Maria Cordovil do Blog Entre Nós


Um comentário:

Ana Maria disse...

Toinho,

Você me surpreende todos os dias, mas hoje a surpresa foi maior!!!

Seu artigo está muito bom, resume muito bem uma vida, seu status, mas...você está me mimando demais!

Obrigada pelo carinho!

Um cheiro

Ana Maria