A mudança radical no discurso do presidente venezuelano, Hugo Chávez, em relação à Colômbia não foi movida apenas por um desejo de paz. A recessão na economia local, a proximidade das eleições legislativas e a forte pressão internacional levaram Chávez a ceder no encontro com seu colega colombiano, Juan Manuel Santos, que também deseja começar seu governo sem esse embaraço e deu a mão a Chávez.
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Chavez e Manuel Santos, amigos para sempre?
Toinho de Passira
Fontes: Estadão, Publico, Semana
Em pouco mais de quatro horas, o Presidente venezuelano Hugo Chávez e o homólogo colombiano Juan Manuel Santos puseram fim as diferenças entre os dois países e restabeleceram relações diplomáticas e comerciais. Foi um "voltar de página" desejado pelos dois, quando a Venezuela se prepara para as eleições legislativas de Setembro e Santos quer começar da melhor forma o seu mandato presidencial.
O encontro entre Chávez e Santos ocorreu na terça-feira em Santa Clara, a cerca de 950 quilômetros de Bogotá, um local emblemático para a Venezuela e a Colômbia.
Foi ali, na Quinta de San Pedro Alejandrino, que, em 1830, morreu o herói da independência da América Latina Simón Bolívar.
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Chávez chegou com um ramo de flores para a ministra dos Negócios Estrangeiros colombiana, María Ângela Holguín, e a primeira coisa que fez foi felicitar Juan Manuel Santos pelo seu aniversário - fez 59 anos.
O Presidente colombiano, por sua vez, trazia à janela do avião que o transportou as bandeiras da Venezuela e da Colômbia.
Chávez foi recebido com honras militares e disse que a Venezuela quer alcançar a paz com a Colômbia "custe o que custar". Após o encontro com Santos, garantiu que o Governo venezuelano "não apoia, não permite nem permitirá a presença de guerrilheiros ou terroristas na Venezuela" e pediu que o seu Governo não seja acusado de "apoiar" a guerrilha ou o narcotráfico na fronteira.
Caracas decidiu romper relações diplomáticas com Bogotá a 22 de Julho, quando a Colômbia, ainda com Álvaro Uribe na presidência, acusou a Venezuela junto da Organização dos Estados Americanos (OEA) de acolher cerca de 1500 guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Foi o culminar de um difereça que já se arrastava desde 2009, quando o Governo colombiano assinou com os Estados Unidos um acordo para a cedência de sete bases militares.
A Colômbia é o principal aliado dos EUA na região e Chávez um dos maiores críticos em relação a Washington.
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O presidente venezuelano, Hugo Chávez, junto a chancelar colombiana, Maria Angela Holguín, com as flores, no aeroporto de Santa Marta.
O mais surpreendente é que o presidente venezuelano , tenha recuado sobre as declarações bombásticas que sempre fez sobre o acordo militar celebrado no ano passado entre Washington e Bogotá. Disse que a Colômbia é "soberana" para cooperar com quem quer que seja.
Apesar dos analistas considerarem que as diferenças ideológicas dificilmente se irão esmaecer, o acordo agora alcançado será benéfico para os dois países. Um dos objetivos é restabelecer as trocas comerciais de cerca de US$ 7 bilhões por ano, que haviam se reduzido para um quarto.
A Venezuela tem eleições legislativas marcadas para 26 de Setembro, Chávez pretende melhorar a sua popularidade e o restabelecimento das trocas comerciais com a Colômbia, com a compra de alimentos baratos que contribuirão para conter a inflação, poderá ajudar. Do outro lado da fronteira também há vantagem em normalizar as relações com Caracas, que é o segundo parceiro econômico da Colômbia. Além disso, há vários empresários colombianos à espera de receber o pagamento de dívidas do Estado venezuelano de cerca de 800 milhões de dólares.
"É do interesse dos dois restabelecer as ligações comerciais", disse à BBC Sandra Borda, professora na Universidade dos Andes em Bogotá. "Podem recorrer a essa questão para criar entendimento antes de avançarem para questões mais complicadas, como a segurança na fronteira", adiantou. Por causa desta diferença, as trocas comerciais entre os dois países caíram mais de 70 por cento.
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