Naomi e os diamantes de sangue de Serra Leoa
HOLANDA – SERRA LEOA Naomi e os diamantes de sangue de Serra Leoa A supermodelo britânica Naomi Campbell pela primeira vez compareceu a um tribunal sem ser a acusada. Depôs semana passada, como testemunha no processo contra o ex-presidente liberiano Charles Taylor, acusado de crimes contra a humanidade, no Tribunal Especial de Haia. Ao ser questionada sobre diamantes que teria recebido de presente do acusado, em 1997, mentiu e pode acabar se complicando
Foto: Associated Press Toinho de Passira Como os depoimentos ontem, 09, da ex-agente da manequim, Carole White e da atriz Mia Farrow, ficou claro que Naomi Campbell mentiu no seu depoimento do dia 5 de Agosto, ao falar que se surpreendeu quando recebeu “pequenas pedras de aspecto sujo”, Farrow e White garantiram que ela sabia que se tratava de diamantes e que até estava à espera deles e quem os havia enviado. Os homens que lhe bateram à porta do quarto disseram: “São estes os diamantes!” Os tais que Taylor, agora no banco dos réus, lhe prometera durante o jantar, em casa do então Presidente da África do Sul, Nelson Mandela. Foto: Reuters “Ela mostrou-me o embrulho. E estava desiludida por não terem o aspecto de pedras lapidadas, e não brilharem”, contou White, segundo a qual Naomi, anteriormente estava muito excitada enquanto aguardava o presente que deveria receber de Taylor, que ficara sentado ao seu lado durante o jantar. Foto: Associated Press O ex-diretor da ONG Fundo Nelson Mandela para a Infância Jeremy Ratcliffe, amigo da modelo Naomi Campbell, confirmou que recebeu em 1997 três diamantes brutos dela e os entregou para autoridades sul-africanas, agora depois de ter estourado o escândalo. Foto: Associated Press Em 1989, aos 41 anos, Charles Taylor (foto) era o líder de um grupo armado e deu início à guerra civil na Libéria, encerrada após um tratado de paz em 1995.
Em 1997, ele foi eleito presidente e seu governo durou seis anos. Em agosto de 2003, rebeldes tomaram a capital do país, forçando-o a ir para o exílio na Nigéria. Taylor disse que optou por se exilar para acabar com o conflito em seu país. Atualmente pesam contra ele 11 acusações de crimes de guerra e crimes contra a humanidade relacionadas com uma eventual influência de Taylor na guerra civil na vizinha Serra Leoa, onde o ex-presidente liberiano é acusado de apoiar rebeldes responsabilizados por atrocidades contra civis. Taylor é suspeito de vender diamantes e comprar armas para a Frente Revolucionária Unida de Serra Leoa, grupo famoso por amputar mãos e pernas de civis durante a revolução que durou cerca de dez anos. Dezenas de milhares de pessoas morreram nos conflitos interligados na Serra Leoa e na Libéria. A violência chegou também à Costa do Marfim e à Guiné. Grupos de defesa dos direitos humanos acusam de Taylor de estar no centro da rede de grupos armados da África Ocidental. Um dos mais importantes promotores do tribunal apoiado pela ONU em Serra Leoa chegou a declarar que Taylor seria um dos homens mais procurados do mundo.
Após 2003, Taylor vinha sendo acusado de violar as regras de seu exílio na Nigéria ao continuar influenciando a política interna na Libéria. Meses após a posse da presidente liberiana Ellen Johnson-Sirleaf, em 2006, a Nigéria concordou em extraditar Taylor, que fugiu. Capturado e enviado à Libéria, Charles Taylor foi levado à Serra Leoa pela ONU para aguardar julgamento. Sua prisão foi considerada um sinal de que os líderes de grupos armados africanos não gozavam mais de impunidade. O julgamento, originalmente previsto para ocorrer em Serra Leoa, foi transferido para a Holanda por causa de temores de instabilidade no país e na vizinha Libéria. Taylor boicotou a abertura do julgamento, em junho de 2007, dizendo não acreditar que seria julgado com justiça. Mas em 14 de julho do ano passado, o ex-presidente prestou depoimento pela primeira vez no tribunal, alegando inocência. A previsão então era de que o julgamento teria uma duração de 18 meses. A promotoria alega que Taylor não cometeu os crimes pessoalmente, mas sim teria apoiado, ordenado ou compactuado com estes atos. Se considerado culpado, Taylor deve cumprir pena na Grã-Bretanha.
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