10 de ago. de 2010

Naomi e os diamantes de sangue de Serra Leoa

HOLANDA – SERRA LEOA
Naomi e os diamantes de sangue de Serra Leoa
A supermodelo britânica Naomi Campbell pela primeira vez compareceu a um tribunal sem ser a acusada. Depôs semana passada, como testemunha no processo contra o ex-presidente liberiano Charles Taylor, acusado de crimes contra a humanidade, no Tribunal Especial de Haia. Ao ser questionada sobre diamantes que teria recebido de presente do acusado, em 1997, mentiu e pode acabar se complicando

Foto: Associated Press

Naomi Campbell disse: "... vi umas pedras, muito pequenas e que pareciam sujas”. A modelo disse aos juízes que não pensou de imediato que o conteúdo da bolsa eram diamantes. "Estou acostuma a ver diamantes brilhantes, e em caixas", explicou.

Toinho de Passira
Fontes: AFP, BBC Brasil, Publico, Estadão, National World, Warner Bros, Daily Mail

Como os depoimentos ontem, 09, da ex-agente da manequim, Carole White e da atriz Mia Farrow, ficou claro que Naomi Campbell mentiu no seu depoimento do dia 5 de Agosto, ao falar que se surpreendeu quando recebeu “pequenas pedras de aspecto sujo”, Farrow e White garantiram que ela sabia que se tratava de diamantes e que até estava à espera deles e quem os havia enviado.

Os homens que lhe bateram à porta do quarto disseram: “São estes os diamantes!” Os tais que Taylor, agora no banco dos réus, lhe prometera durante o jantar, em casa do então Presidente da África do Sul, Nelson Mandela.

Foto: Reuters

Carole White depondo perante o Tribunal. Seu depoimento está sendo posto em dúvidas pela defesa de Taylor, pois a ex-agente da Modelo tem uma pendenga judicial, com Campbell por questões trabalhistas de quebra de contrato

“Ela mostrou-me o embrulho. E estava desiludida por não terem o aspecto de pedras lapidadas, e não brilharem”, contou White, segundo a qual Naomi, anteriormente estava muito excitada enquanto aguardava o presente que deveria receber de Taylor, que ficara sentado ao seu lado durante o jantar.

Em vez de estar “quase dormindo” quando lhe bateram à porta, como declarou quinta-feira aos juízes, Campbell teria mantido um contato telefônico com alguém, pelo que não teria parado de dizer:

“Estão quase chegando. Estão quase chegando!”.

Ao confirmar-se que Charles Taylor, atualmente com 62 anos, tinha consigo diamantes brutos, o tribunal poderá dar como provada a teoria de que ele foi à África Austral trocá-los por armas, para os seus amigos da Frente Revolucionária Unida (RUF), que de 1996 a 2002 foram responsáveis por numerosas atrocidades na Serra Leoa.

“Naomi passou a noite flertando com ele e era correspondida. Estavam gostando muito da companhia um do outro, durante o jantar”, declarou a ex-agente, ao procurar explicar como é que os “diamantes de sangue” foram parar às mãos da modelo.

Carole White, que hoje continua a ser ouvida, fez o seu depoimento horas depois de Mia Farrow ter relatado que a supermodelo contou que os assessores de Taylor lhe tinham dado um “enorme diamante”. E que, ao saber que poderia ter dificuldades em levar as pedras para fora da África do Sul, disse preferir oferecê-los à Fundação Nelson Mandela de Auxílio à Infância.

Foto: Associated Press

A atriz americana Mia Farrow, confirmou perante o Tribunal, ter ouvido Naomi comentar que Taylor havia lhe dado os diamantes

O ex-diretor da ONG Fundo Nelson Mandela para a Infância Jeremy Ratcliffe, amigo da modelo Naomi Campbell, confirmou que recebeu em 1997 três diamantes brutos dela e os entregou para autoridades sul-africanas, agora depois de ter estourado o escândalo.

Aliás, em todas as descrições feitas nos últimos dias, têm-se verificado enormes discrepâncias quanto ao número exato de diamantes referidos. White alegou que os homens que entraram no quarto da supermodelo lhe entregaram cinco ou seis pedras preciosas.

Foto: Associated Press

Em 1989, aos 41 anos, Charles Taylor (foto) era o líder de um grupo armado e deu início à guerra civil na Libéria, encerrada após um tratado de paz em 1995.

Ratcliff guardou consigo alguns diamantes que podem ser os recebidos por Naomi e doados ao Fundo Nelson Mandela para a Infância
Em 1997, ele foi eleito presidente e seu governo durou seis anos. Em agosto de 2003, rebeldes tomaram a capital do país, forçando-o a ir para o exílio na Nigéria.

Taylor disse que optou por se exilar para acabar com o conflito em seu país.

Atualmente pesam contra ele 11 acusações de crimes de guerra e crimes contra a humanidade relacionadas com uma eventual influência de Taylor na guerra civil na vizinha Serra Leoa, onde o ex-presidente liberiano é acusado de apoiar rebeldes responsabilizados por atrocidades contra civis.

Taylor é suspeito de vender diamantes e comprar armas para a Frente Revolucionária Unida de Serra Leoa, grupo famoso por amputar mãos e pernas de civis durante a revolução que durou cerca de dez anos.

Dezenas de milhares de pessoas morreram nos conflitos interligados na Serra Leoa e na Libéria. A violência chegou também à Costa do Marfim e à Guiné.

Grupos de defesa dos direitos humanos acusam de Taylor de estar no centro da rede de grupos armados da África Ocidental.

Um dos mais importantes promotores do tribunal apoiado pela ONU em Serra Leoa chegou a declarar que Taylor seria um dos homens mais procurados do mundo.

O ator Djimon Hounsou, no papel de Adetokumboh M'Cormack, num cena do filme “Diamantes de Sangue” que mostra o drama da guerra civil em Serra Leoa, onde os diamantes são usados para comprar armas de sanguinários grupos rebeldes.
Após 2003, Taylor vinha sendo acusado de violar as regras de seu exílio na Nigéria ao continuar influenciando a política interna na Libéria.

Meses após a posse da presidente liberiana Ellen Johnson-Sirleaf, em 2006, a Nigéria concordou em extraditar Taylor, que fugiu.

Capturado e enviado à Libéria, Charles Taylor foi levado à Serra Leoa pela ONU para aguardar julgamento.

Sua prisão foi considerada um sinal de que os líderes de grupos armados africanos não gozavam mais de impunidade.

O julgamento, originalmente previsto para ocorrer em Serra Leoa, foi transferido para a Holanda por causa de temores de instabilidade no país e na vizinha Libéria.

Taylor boicotou a abertura do julgamento, em junho de 2007, dizendo não acreditar que seria julgado com justiça.

Mas em 14 de julho do ano passado, o ex-presidente prestou depoimento pela primeira vez no tribunal, alegando inocência.

A previsão então era de que o julgamento teria uma duração de 18 meses.

A promotoria alega que Taylor não cometeu os crimes pessoalmente, mas sim teria apoiado, ordenado ou compactuado com estes atos.

Se considerado culpado, Taylor deve cumprir pena na Grã-Bretanha.


A bela Naomi Campbell mais uma vez centro de mais uma história pouco edificante.


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