18 de ago. de 2010

Na estante de Dilma o livro do anti-Lula Diogo Mainardi

ELEIÇÕES 2010
Na estante de Dilma o livro do anti-Lula Diogo Mainardi
Dilma deu uma entrevista no cenário onde grava o seu programa eleitoral. É uma sala decorada por estantes e livros distribuídos casualmente para dar a entender que a candidata tem o hábito da boa leitura. A jornalista Denise Madueño, do Estadão descobriu na falsa coleção de livros, um exemplar de “Lula é minha Anta”, do jornalista Diogo Mainardi, o mais ferrenho e odiado critico dos petistas. Não é uma maravilha?

Foto: Elza Fiúza/ABr

A candidata no cenário cheio de livros, para simular intelectualidade , acabou virando vexame

Toinho de Passira
Fontes: Coturno Noturno, Blog do Reinaldo Azevedo, Veja

o livro de Mainardi, flagrado pelo fotógrafo Celso Júnior, da Agência Estado, entre os livros do cenário de Dilma
Lula é minha Anta, o livro do crítico mais mordaz e ácido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e considerado inimigo número um dos petistas na imprensa, jornalista Diogo Mainardi, tem espaço garantido no cenário do programa de TV da candidata à Presidência Dilma Rousseff (PT). Entre Mutações, o livro autobiográfico da atriz norueguesa Liv Ullmann, a preferida do diretor Ingmar Bergman, e um exemplar da Constituição brasileira, o livro de Mainardi está exposto em um dos móveis que compõem a sala de uma casa montada no estúdio de gravação do programa eleitoral da candidata petista.

O leitor que escolher o livro de Mainardi na “biblioteca” da sala de Dilma encontrará trechos críticos a Lula e ao governo que a petista pretende herdar. “O Brasil já era ruim antes de Lula. Com ele ficou ainda pior”, diz um dos textos do livro. O cenário de gravação do programa se parece com uma casa da “nova classe média”, na definição feita pela candidata em entrevista no estúdio no fim de semana.

Os livros estão dispostos com cuidadosa displicência em meio a objetos de decoração e porta-retratos. A literatura é variada. Dos Estados Unidos, com o escritor ganhador do Prêmio Nobel William Faulkner e do livro Armas, Germes e Aço, do vencedor do prêmio Pulitzer Jared Diamond, à Inglaterra de Shakespeare. A historiadora Juliet Barker está presente com o livro Agincourt, sobre a guerra travada entre dois exércitos desiguais em 1415, com vitória da Inglaterra.

Os temas vão de moda à economia, passando por livros didáticos de geografia, matemática, química, biologia e enciclopédias. Nas estantes da sala, há muitos livros sobre arte, um guia da Espanha, uma coleção de seis livros com contos de Machado de Assis, uma edição especial da obra infantil completa de Monteiro Lobato, poemas de Manuel Bandeira, o best seller O Símbolo Perdido, de Dan Brown, em meio a livro de informática para concurso público.

Reinaldo Azevedo no seu blog diz está enciumado, por não ter sido encontrado entre os exemplares da biblioteca, o seu “O País dos Petralhas”?

A está altura está revisando todas as estantes, olhando os livros enquanto demitem o cenógrafo, que comprou livro a metro e espalhou pelas prateleiras.

Trecho do Livro “LULA É MINHA ANTA” de Diogo Mainardi

Passei o ano todo amolando Lula. Dediquei-lhe mais de trinta artigos. Prometi derrubá-lo em 2005. Fracassei. Prometo derrubá-lo em 2006. Chegaram a atribuir motivos ideológicos à minha campanha contra o presidente. Não é nada disso. Tentei derrubá-lo por esporte. Há quem pesque. Há quem cace. Eu não. Prefiro tentar derrubar Lula. Ele é minha anta. Ele é minha paca. O fato é que atirei tanto, e em tantas direções, que acabei atingindo um monte de alvos. Virei o cacique Cobra Coral do parajornalismo.

O cacique Cobra Coral é um espírito que, segundo aqueles que o encarnam, conseguiu prever o 11 de Setembro, o tsunami, a data exata do ataque americano a Bagdá e o paradeiro da filha de Silvio Santos. Como se não bastasse, ele está à frente da Tunikito Corporation, que usufrui benefícios fiscais para atuar no ramo dos seguros de vida e no do aluguel de automóveis importados. Eu não tenho automóveis importados para alugar. Mas ninguém pode dizer que não previ a ruína de Lula.

2005 acabou. O que vai sobrar deste ano, felizmente, não é a canalha política, e sim a história pessoal de cada um de nós.

MINHA VIDA DE COIOTE

Lula é o Papa-Léguas. Eu sou o Coiote. Por quatro anos, imitei o desenho animado. Recorri a todas as artimanhas para capturar a presa: catapultas, foguetes, patins a jato, elásticos gigantes, tintas invisíveis, rochas desidratadas, comprimidos de terremoto. Nada deu certo. Lula sempre conseguiu escapar. E depois de escapar, como o Papa-Léguas, grasnou aquele estridente bip-bip em minha orelha, assustando-me e fazendo-me cair num abismo, em geral com uma pedra de dez toneladas na cabeça.

O maior achado do desenho animado de Chuck Jones é sua absoluta essencialidade. Os dois protagonistas, mudos, confrontam- se num panorama deserto, onde só há pedras e cactos, cujos espinhos terminam invariavelmente fincados na pele do Coiote. O Papa-Léguas é uma besta primária, um oportunista microcéfalo perfeitamente adaptado ao seu meio, que sabe apenas fugir e se esquivar das ciladas preparadas pelo Coiote. O Coiote, por sua vez, é a caricatura do humanista otário que acredita no triunfo da racionalidade, do conhecimento, do engenho humano, da lei, do progresso social, da tecnologia. E é repetidamente punido por causa disso. Se o Coiote é Lamarck, o Papa-Léguas é Darwin. Se o Coiote é o humanista Settembrini, o Papa-Léguas é o jesuíta Naphta. Se o Coiote é Bouvard e Pécuchet, o Papa-Léguas é a tempestade que devasta sua lavoura.

A comicidade do Coiote e do Papa-Léguas não está na variedade das piadas. Pelo contrário: está no repisamento infinito da mesma piada. O Coiote prepara uma armadilha. O Papa- Léguas passa incólume por ela. O Coiote se revolta e cai na própria armadilha. Quando se recupera de seus efeitos calamitosos, prepara outra armadilha, num ciclo interminável.

Chuck Jones definiu o Coiote como um fanático, citando o filósofo George Santayana, para quem “um fanático é aquele que redobra seu empenho quando já esqueceu seu objetivo”. Foi a fórmula que, semana após semana, tentei plagiar aqui na coluna. Com Lula no papel do Papa-Léguas e eu, no do Coiote. Chuck Jones dirigiu episódios do desenho animado de 1949 a 1965. Eu resisti bem menos. Depois de quatro anos, com dezenas de artigos sobre o Papa-Léguas lulista, o esquema se desgastou. No ano que vem, mudo definitivamente de assunto. Até lá, espero concluir algumas das histórias a que me dediquei no último período: do meu processo contra Lula, que já está no STF, à denúncia de que ele possui uma conta num paraíso fiscal. Da ação popular que pretendo mover contra a empresa de seu filho, que arrendou ilegalmente um canal de TV, à revelação de novos casos de financiamento ilícito ao PT.

O resultado de meu esforço será o mesmo de sempre. O Papa- Léguas passará por mim a toda velocidade, buzinando seu bipbip. Eu, estupidamente, tentarei descobrir o que deu errado em meus planos e, de uma hora para outra, me verei caindo num abismo. Mas não ria. Porque você cairá junto comigo.


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