7 de ago. de 2010

COLÔMBIA: Problemas do novo presidente: Chávez, economia e Uribe

COLÔMBIA
Problemas do novo presidente: Chávez, economia e Uribe
O presidente eleito da Colômbia, Manuel Santos, assume neste sábado com um índice de popularidade de 76%, em um momento em que o país passa por uma da piores crises diplomáticas com a Venezuela de sua história e encontra-se politicamente isolado da maioria dos países sul-americanos, com dificuldades econômicas e desemprego recorde e a sombra de Uribe sobre seu governo que começa

Foto: Reuters

O presidente eleito Juan Manuel Santos e a Presidente da Corte Nacional Eleitoral da Colômbia Adelina Cobo no ato de diplomação de Santos, como presidente eleito do país, 2 de agosto, em Bogotá

Toinho de Passira
Fontes: BBC Brasil, BBC Brsil, Semana, Estadão, , ”thePassiranews”, Reuters

Juan Manuel Santos, ex-ministro de Defesa e herdeiro político do presidente colombiano Álvaro Uribe, que assume hoje, a presidência da Colômbia, não terá muita dificuldade em reverter o cenário de isolamento diplomático em que se encontra o país, em relação à América do Sul e a crise diplomática com a Venezuela. Tanto o novo presidente, quanto os interlocutores estão dispostos e até ansiosos que isso aconteça.

Para muitos Santos deu o primeiro passo na direção da Venezuela, quando nomeou a ex-embaixadora colombiana em Caracas, Maria Angela Holguín (foto), como ministra de Relações Exteriores.

A nova Ministra das Relações Exteriores é muito bem vista na Venezuela, mas não está entre as preferidas do ex-presidente Alvaro Uribe, por ter batido de frente com ele, quando renunciou a um cargo na ONU, por discordar de indicações políticas, para cargos diplomáticos, feito pelo governo colombiano.

A pressa e a prioridade se justifica, não apenas por motivos diplomáticos ou de segurança, mas as constantes rupturas entre Venezuela e Colômbia já afeta fortemente a economia colombiana, grande exportadora, principalmente de produtos agrícolas para o vizinho comandado por Hugo Chávez.

“Desde que Uribe assumiu a Presidência, em 2002, o combate às guerrilhas por meio da expansão do Plano Colômbia - convênio militar financiado pelos Estados Unidos - acentuou a estreita relação entre Bogotá e Washington, em detrimento de alianças com a América do Sul.”

Não foi uma escolha de Uribe, essa política externa de distanciamento com os países sul-americanos. Para desenvolver sua política de combate a guerrilha precisava do poder de fogo dos americanos. Não encontrava entre os presidentes sul-americanos, ninguém que quisesse ajudá-lo ou mesmo apoiá-lo no confronto com os terroristas da FARC.

O Brasil de Lula tem simpatia pela FARC; Hugo Chávez os acolhe em seu território; Evo Morales, da Bolívia, alinha-se automático com a Venezuela; a Argentina que depende estrategicamente dos dois: Chávez e Evo, não os deixariam para apoiar Uribe; o Equador, principalmente, depois que seu território foi invadido pelo exercito colombiano, para destruir um acampamento da FARC, não seria um parceiro confiável.

Foto: Arquivo “thepassiranews”

Hugo Chávez, por exemplo, nunca deu uma explicação convincente como os lança-foguetes antitanques fabricados pela industria militar sueca, vendida a Chávez, foi parar nos acampamentos da guerrilha colombiana, da FARC

A analista política Consuelo Ahumada, professora da Universidade Javeriana de Bogotá, ouvida pela BBC, a principal diferença entre Santos e Uribe na relação com a Venezuela e com os vizinhos deve ser a ruptura com o que chama de "diplomacia de microfones", uma referência ao enfrentamento público, não institucional, que caracterizou, por exemplo, a relação de Uribe com o presidente venezuelano Hugo Chávez.

Consuelo Ahumada dá a entender que era Uribe que ia aos microfones atacar Hugo Chávez, ao invés de procurar os caminhos diplomáticos. Está completamente equivocada. Todas as vezes que Uribe usava os meios diplomáticos para pedir explicações a Chávez, recebia publicamente uma saraivada de acusações grosseiras. Uribe então tinha que revidar publicamente para que fosse posta a versão do seu governo.

Foto: Getty Images

No momento Santos vai tentar recomeçar as relações com Chávez, sob novas abordagens e pontos de vistas, enquanto for possível. A imprensa colombiana diz que ele “tem recebido pressão dos setores industriais do país para normalizar o fluxo comercial com o vizinho.”

“De acordo com o Banco Central da Colômbia, o país deve fechar o ano de 2010 com uma queda de 80% nas exportações para a Venezuela em relação a 2008, quando o país teve um superávit US$ 6 bilhões no comércio com o país.”

“Para este ano, a previsão do BC é que o comércio com Caracas não ultrapasse US$ 1,2 bilhão.”

“Os sinais de distensão com o novo governo têm sido enviados também por Caracas. Ao mesmo tempo em que afirmou que Uribe "passaria à lixeira da história", Chávez disse esperar retomar o diálogo com o novo governo com base no respeito".

O chanceler venezuelano Nicolás Maduro, que comparecerá representando Hugo Chávez na cerimônia de posse de Santos, disse nesta semana, que seu governo "confia" que "nos próximos dias (a crise) será superada".

As coisas podem ser facilitadas, pois, as FARC, sempre a motivadora dos conflitos da Colômbia e seus vizinhos, sinaliza com uma proposta de negociação através do seu líder máximo Alfonso Cano, propôs a abertura de um diálogo com o novo governo.

Santos encarregou o futuro vice-presidente, Angelino Garzón, responder, que “as portas não estão fechadas”, mas que, para que as negociações sejam iniciadas, a guerrilha terá que concordar em libertar seus reféns de maneira incondicional.

Não se pode, porém confiar nesses gestos de boa vontade da FARC em outras ocasiões, enfraquecida, fingiu diálogos, para ter uma trégua militar e tentar ter maior visibilidade e se fortalecer.

Internamente Santos também tem também desafios hercúleos de ajustar o déficit fiscal, estimado em mais de 4% do Produto Interno Bruto e reduzir o índice de desemprego de 12%, uma das mais altas taxas da América Latina.

Foto: Associated Press

Como nada é perfeito, Alvaro Uribe, um dos presidentes mais populares e controversos da história da Colômbia, entregará a seu sucessor um país relativamente mais seguro que há oitos anos, porém com 20 milhões de pobres, em uma população de 44 milhões, e com 3,5 milhões de pessoas vítimas de deslocamento forçado em consequência do conflito armado.

Só o tempo dirá se a ligação política entre Uribe e Santos resistirá muito tempo. A imprensa colombiana vem dizendo há alguns dias que a lua de mel, entre os dois já havia acabado.

Porém há quem veja essa acusação de última hora, que Uribe fez contra a Venezuela, como uma manobra combinada pelos dois. A Venezuela precisava ser denunciada por acolher a guerrilha e não seria bom que isso fosse feito pelo novo presidente.

Uribe fez de boa vontade o “trabalho agressivo”, permitindo ao novo presidente aparecer diplomático e conciliador, ao mesmo tempo em que a Venezuela desmascarada, relute de agora em diante, a acolher a guerrilha, pelo menos por algum tempo.

Foto: Reuters

Mas imagina-se que as relações Uribe-Santos podem se deteriorar, por outros motivos, pois Santos dá claras mostras de que vai ter um governo longe das diretrizes uribianas, por exemplo, nomeou dois adversários de Uribe como ministros nas pastas de Agricultura e Casa Civil.

Politicamente Alvaro Uribe será por muito tempo uma sombra sobre o governo Santos. Mais que isso, Uribe pretende voltar à presidência da Colômbia e ninguém imagina que o presidente agora empossado possa abrir mão de tentar um segundo mandato de que tem direito.

Partidários de Uribe, dizem, que para não sair de cena, o ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe Vélez, já está em campanha para ser o novo prefeito de Bogotá nas eleições do próximo ano. Dizem que é imbatível.


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