FESTIVAL - Cine PE Guel Arraes recria “O Bem Amado”
O pernambucano é homenageado no festival na sua terra e premia o público com o pré-lançamento de uma história que foi sucesso no seriado da TV dos anos 80, e volta em forma de filme, caricaturando a política brasileira, um sucesso sem dúvidas
Foto: Luka Santos/Divulgação
O pernambucano Guel Arraes, homenageado do festival, sempre se sai muito bem com temas nordestinos
Toinho de Passira Fontes: G1 , JC Online, Portal Terra - Cinema, Último Segundo
Foi bastante acertada a decisão da organização do Cine PE em tornar sua noite de abertura uma comoção com sabores pernambucanos. Depois do sucesso que foi a exibição do curta Recife Frio, o longa exibido nesta segunda-feira (26), O Bem-Amado, mostrou que Guel Arraes - uma das crias mais bem-sucedidas dessa terra - tornou bastante conhecida sua estética, fácil de ser reconhecida entre as diversas classes e tipos de público. O diretor recebeu homenagem nesta primeira noite do festival.
Aos 46 anos, Guel Arraes é um dos responsáveis por atrair às salas dos cinemas um grande público disposto a ver uma produção nacional. Na televisão, inovou com a linguagem de humor ao dirigir “Armação Ilimitada”, de 1986, e “TV Pirata”, dois anos depois. No cinema, tem filmes que ultrapassam facilmente a marca do milhão de expectadores, como “O Auto da Compadecida” (2000), “Lisbela e o Prisioneiro” (2003), “Os Normais – o Filme” (2003) e “O Coronel e o Lobisomen” (2005). Agora, Guel se prepara para lançar o seu mais caro filme já feito. Ao custo de 8 milhões de reais, altas cifras para padrões nacionais, estreia “O Bem Amado” no dia 23 de julho.
Foto: Ana Stewart/Divulgação
Cena do Filme “o Bem Amado”, Odorico Paraguaçu corteja as irmãs Cajazeiras- Marcos Nanini, Drica Moraes Andréa Beltrão e Zezé Polessa
Filho do ex-governador pernambucano Miguel Arraes, Guel é o diretor do longa baseado na peça de Dias Gomes – já adaptada para televisão e teatro, escrita originalmente em 1962. A saga do prefeito da cidade de Sucupira, o lendário Odorico Paraguaçu, interpretado agora por Marco Nanini, tende a uma sátira política. Pode-se falar que é uma rara exceção na safra de filmes nacionais que ganham repercussão, seja de crítica seja de público. Para ele, as comparações entre diferentes versões de uma mesma história são limitadas.
“Quando o texto foi escrito, Odorico já era um personagem arcaico. Os coronéis tiveram seu auge nos anos 30. Hoje então podemos dizer que ele é o arcaico do arcaico. Muita coisa mudou”, diz.
“O meu conhecimento sobre política é apenas como observador, até mesmo pela minha origem de família de políticos. Quando a novela esteve no ar, na TV, os principais personagens políticos do país eram os militares. E eles nem eram citados por Dias Gomes, nem poderia fazê-lo. Os tempos são outros agora”.
“Não tive esta preocupação com a versão original. Na verdade, quando me criticam dizendo que faço televisão no cinema, nem ligo. Podem continuar falando (risos). Falam que faço TV como se fosse um xingamento. Pois fiz em TV algumas coisas até mais ousadas do que no cinema. O programa ‘Cena Aberta’, de 2003, era tão experimental, que eu me perguntava como é que me deixavam fazer aquele programa. Assim como ousamos ao fazer ‘Lisbela e o Prisioneiro’, com uma proposta para ser mesmo um filme popular”
Muita coisa mudou. A esquerda já chegou ao poder, não é mais aquela utopia insólita que se faz de coitadinha. Está na roda, para ser discutida e criticada também.”
“O grande desafio foi fazer uma sátira política. Não há filmes no país sobre a sátira do poder. Precisava responder a esta gozação que se faz aos políticos. Jornal só traz o lado do drama, eu queria um outro tipo de reflexão, a partir da comédia. É uma comédia com reflexão sociológica.”
“Personagem bom tem releitura em diferentes épocas. São ricos porque apresentam elementos que o assemelham a diversos aspectos. Quero, com ele (Odorico Paraguaçu), poder criticar tanto a esquerda quanto a direita, sem ter uma mensagem unilateral.”
Foto: Ana Stewart/Divulgação
Com direção de Guel Arraes (de "Auto da Compadecida", "Lisbela e o Prisioneiro" e "Romance"), a versão para o cinema de "O Bem Amado" deve estrear até o fim do ano; Marco Nanini será Odorico Paraguaçu, o prefeito corrupto de Sucupira
“O filme, “O Bem Amado”, eleva à máxima potência o estilo de Guel”, diz Paulo Floro Para o JC Online: um cinema acessível e, o mais importante, autoral. Fato esse que fez seus filmes anteriores levassem milhões de pessoas às salas de exibição. O Bem Amado ainda apresenta bem outros elementos a essa receita infalível de fazer um filme bem feito e ainda assim com bastante rigor estético, que é fazer uma crítica social utilizando a política.
O diretor já havia explorado essa temática em outros filmes, como O Auto da Compadecida (de Ariano Suassuna), mas este novo longa vai além ao tratar de forma escrachada a corrupção do prefeito Odorico Paraguaçu e outros personagens. Também faz diversas referências a fatos reais da política brasileira, como a campanha das Diretas Já, a renúncia de Jânio Quadros e a ditadura militar.
Escrita pelo dramaturgo Dias Gomes, em 1962, O Bem Amado virou peça de teatro, novela em 1973 e se tornou marco na teledramaturgia brasileira por ter sido a primeira novela em cores e pelo sucesso de audiência. Apesar das críticas do apelo histriônico ou, para alguns, um namoro com a comédia pastelão de seriados como Zorra Total, a narrativa de Guel Arraes dá ritmo eletrizante para uma sátira social, cheia de críticas a tipos ainda bem presentes em nosso cotidiano.
Guel Arraes conseguiu mais uma vez dialogar com o imaginário coletivo de sua plateia. Destaque para a atuação de Marco Nanini, como Odorico, e José Wilker, como Zeca Diabo.
Veja o trailer do filme:
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário