Dirceu não consegue mobilizar o PT contra STF
BRASIL - Corrupção Dirceu não consegue mobilizar o PT contra STF Condenado a mais de dez anos, com a possibilidade de passar quase dois num presídio, o antes poderosos Dirceu sonhou que o seu partido o PT, iria defendê-lo nas ruas, com manifestações e mobilizações nacionais, contra o Supremo Tribunal Federal, estava enganado. Atos agendados por ele em São Paulo e Curitiba foram marcados pelo esvaziamento e pela ausência de petistas de peso. O ex-ministro pretendia realizar encontros em outras duas cidades, mas nem isso é certo. Foto: Walter Alves/AGP/Folhapress Postado por Toinho de Passira O jornalista Jean-Philip Struck da Veja, após acompanhar os primeiros encontros agendados por José Dirceu, condenado a mais de dez anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por formação de quadrilha e corrupção ativa e prestes a ir para a cadeia, registra o fracasso das reuniões e o merecido ocaso do chefe da quadrilha do mensalão. Dirceu não esperava era que seu prestígio estivesse tão baixo dentro da legenda onde construiu sua trajetória política e onde alcançou posto de líder influente, diz o jornalista. Sempre que falava sobre suas condenações no Supremo Tribunal Federal, José Dirceu ameaçava percorrer o país protestando contra a corte, conclamando a sua pretensa “inocência”. Por certo, sonhava com multidões em praças e avenidas brasileiras, petista ou não, engajado numa luta em defesa de um “grande líder” injustiçado, personagem que ele imagina ser. Acontece que José Dirceu, desde 1º de dezembro de 2005, quando teve seu mandato cassado, por quebra de “decoro parlamentar”, exatamente por ter sido flagrado chefiando a quadrilha do mensalão, assistiu em progressão geométrica seu prestígio esvair-se dentro do próprio partido. Hoje ele é mau visto pela ala mais alinhada com os antigos princípios de anticorrupção que norteava o PT dos velhos tempos. A pecha de prepotente chefe quadrilheiro corrupto só se avolumou nesses sete anos que esteve afastado da superfície da pública nacional, e se concretiza agora com a condenação do STF. Novas gerações de petistas nem o conhece, os antigos, não acham saudável para as suas carreiras serem vistos defendendo um delinquente prestes a ir para a cadeia. A última esperança dele era que o ex-presidente Lula saísse publicamente e com veemência em sua defesa. Mas Lula, se antes não demonstrava disposição para tanto, agora arranjou a desculpa de que tem que salvar a própria pele, envolvido que está na Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que escancarou a quadrilha da sua amante Rose Noronha. Foto: Sérgio Amaral/UOL O golpe de misericórdia veio na reunião do Diretório Nacional do PT na última sexta-feira, em Brasília. Representando Dirceu, Serge Goulart, da tendência radical O Trabalho, apresentou uma moção sugerindo que o partido fosse às ruas para promover atos contra o STF e que não reconhecesse o julgamento do mensalão, segundo informou o jornal O Globo. Porém, a proposta nem chegou a ser votada.
No Paraná, o partido conta com quadros nacionais, como o casal de ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e o deputado federal Dr. Rosinha. Mas apenas o secretário nacional de comunicação do PT, o paranaense André Vargas, compareceu. Em São Paulo, um novo encontro reuniu Dirceu e Genoíno na sede do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, no dia 24. A única cara conhecida na plateia era o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), e o encontro foi preenchido por militantes do Fórum do Diálogo Petista, criado por filiados de correntes consideradas radicais do PT. No discurso, Dirceu repetiu a ladainha de que sua condenação foi um golpe da elite e da imprensa, falou em “martírio” e chegou a afirmar que só não foi “fuzilado porque num Estado democrático de Direito não há pena de morte”. (o que é uma pena). Suplicy afirma que participou do encontro esvaziado para ouvir Dirceu. “Eu conheço os três (Dirceu, Genoíno e João Paulo Cunha) há 32 anos. Fui lá para ouvir, refletir. Fui para isso. Acho que é uma questão dolorosa. Sobre ausências eu prefiro só responder por mim. Cada um é cada um”, disse Suplicy esquivo. São essas correntes petistas que têm pressionado o partido para que a direção nacional seja mais enérgica ao defender os réus. Dirigente da tendência O Trabalho, Markus Sokol disse em novembro que existe “insatisfação na base do partido” com a forma com que o partido tem lidado com o resultado do julgamento - tímida, na sua opinião. “Se ficar sem resposta, outras organizações que incomodam a elite dominante não poderão se sentir garantidas”, disse o dirigente. “Falta solidariedade no nosso partido. É na hora ruim que se conhece o companheiro. Eles [Dirceu, Genoíno e Cunha] merecem mais do nosso carinho”, afirmou em Osasco o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), um dos petista que saiu em defesa do ex-ministro publicamente. A desculpa de petistas para não comparecer tem sido de que os atos não são eventos oficiais do partido e não contam com a chancela dos diretórios locais. O PT fará de tudo para minimizar os danos do julgamento do mensalão. Tentará reescrever a história, afirmando que não se valeu de métodos criminosos para assegurar o poder. Mas, no momento ao menos, não existe apoio irrestrito aos condenados pelo STF. “Se isso representará a derrocada definitiva de José Dirceu, uma das figuras mais poderosas do PT - e também do país, no início da década passada - é uma história a se acompanhar de perto”. - conclui o jornalista. Foto: Daniel Teixeira/Estadão |
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