10 de dez. de 2012

Dirceu não consegue mobilizar o PT contra STF

BRASIL - Corrupção
Dirceu não consegue mobilizar o PT contra STF
Condenado a mais de dez anos, com a possibilidade de passar quase dois num presídio, o antes poderosos Dirceu sonhou que o seu partido o PT, iria defendê-lo nas ruas, com manifestações e mobilizações nacionais, contra o Supremo Tribunal Federal, estava enganado. Atos agendados por ele em São Paulo e Curitiba foram marcados pelo esvaziamento e pela ausência de petistas de peso. O ex-ministro pretendia realizar encontros em outras duas cidades, mas nem isso é certo.

Foto: Walter Alves/AGP/Folhapress

ESVAZIAMENTO - Dirceu com seu filho durante ato contra a decisão do STF, em Curitiba. Os três primeiros atos organizados até agora foram esvaziados e não produziram nenhum barulho.

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Veja, Blog do Luis Nassif

O jornalista Jean-Philip Struck da Veja, após acompanhar os primeiros encontros agendados por José Dirceu, condenado a mais de dez anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por formação de quadrilha e corrupção ativa e prestes a ir para a cadeia, registra o fracasso das reuniões e o merecido ocaso do chefe da quadrilha do mensalão.

Dirceu não esperava era que seu prestígio estivesse tão baixo dentro da legenda onde construiu sua trajetória política e onde alcançou posto de líder influente, diz o jornalista.

Sempre que falava sobre suas condenações no Supremo Tribunal Federal, José Dirceu ameaçava percorrer o país protestando contra a corte, conclamando a sua pretensa “inocência”.

Por certo, sonhava com multidões em praças e avenidas brasileiras, petista ou não, engajado numa luta em defesa de um “grande líder” injustiçado, personagem que ele imagina ser.

Acontece que José Dirceu, desde 1º de dezembro de 2005, quando teve seu mandato cassado, por quebra de “decoro parlamentar”, exatamente por ter sido flagrado chefiando a quadrilha do mensalão, assistiu em progressão geométrica seu prestígio esvair-se dentro do próprio partido.

Hoje ele é mau visto pela ala mais alinhada com os antigos princípios de anticorrupção que norteava o PT dos velhos tempos. A pecha de prepotente chefe quadrilheiro corrupto só se avolumou nesses sete anos que esteve afastado da superfície da pública nacional, e se concretiza agora com a condenação do STF.

Novas gerações de petistas nem o conhece, os antigos, não acham saudável para as suas carreiras serem vistos defendendo um delinquente prestes a ir para a cadeia.

A última esperança dele era que o ex-presidente Lula saísse publicamente e com veemência em sua defesa. Mas Lula, se antes não demonstrava disposição para tanto, agora arranjou a desculpa de que tem que salvar a própria pele, envolvido que está na Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que escancarou a quadrilha da sua amante Rose Noronha.

Foto: Sérgio Amaral/UOL

REVÉS - O ex-ministro da Casa Civil do governo Lula José Dirceu, na reunião do diretório nacional do PT em Brasília, dia 08, quando os petistas recusaram a chancelar proposta de uma campanha de rua contra o STF, para questionar o julgamento do mensalão.

O golpe de misericórdia veio na reunião do Diretório Nacional do PT na última sexta-feira, em Brasília. Representando Dirceu, Serge Goulart, da tendência radical O Trabalho, apresentou uma moção sugerindo que o partido fosse às ruas para promover atos contra o STF e que não reconhecesse o julgamento do mensalão, segundo informou o jornal O Globo. Porém, a proposta nem chegou a ser votada.

A direção do PT não ousou dar início a um confronto com o órgão que encabeça um dos poderes da República - e também não quis submeter os mensaleiros a mais uma derrota pública. Após o encontro, o partido divulgou uma nota, mas nenhuma linha fazia referência ao mensalão.

Os apoiadores de Dirceu tentaram reunir militantes em atos em São Paulo, Osasco (SP) e Curitiba. Na próxima semana, deverão ser feitas novas tentativas em Guarulhos (SP) e Porto Alegre (a menos que a decisão do diretório nacional enterre de vez os planos de Dirceu).

Em Osasco, o anfitrião do encontro realizado em uma escola foi outro condenado no mensalão, o deputado João Paulo Cunha. Ao grupo, também se juntou o ex-presidente do PT José Genoino. Na plateia, entretanto, os políticos mais ilustres eram vereadores e prefeitos de pequenos municípios paulistas, como Bofete e Jaboticabal, além de representantes de partidos nanicos como o PSDC e PTN.

O presidente do PT, Rui Falcão, e os deputados Jilmar Tatto (PT-SP), líder do PT na Câmara, e Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo, que haviam sido inicialmente anunciados como participantes do evento, não foram. Ao explicar as ausências, os organizadores culparam o “trânsito de São Paulo".

O ex-chefe do PT e ex-homem forte do governo Lula, acostumado a agendas requisitadas e à tribuna da Câmara dos Deputados, teve dificuldade para reunir 150 pessoas em Curitiba, a maioria estudantes no último dia 3. O organizador foi o deputado federal Zeca Dirceu (PT), seu filho.

CORPO FORA - Suplicy compareceu mais não se comprometeu
No Paraná, o partido conta com quadros nacionais, como o casal de ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e o deputado federal Dr. Rosinha. Mas apenas o secretário nacional de comunicação do PT, o paranaense André Vargas, compareceu.

Em São Paulo, um novo encontro reuniu Dirceu e Genoíno na sede do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, no dia 24. A única cara conhecida na plateia era o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), e o encontro foi preenchido por militantes do Fórum do Diálogo Petista, criado por filiados de correntes consideradas radicais do PT.

No discurso, Dirceu repetiu a ladainha de que sua condenação foi um golpe da elite e da imprensa, falou em “martírio” e chegou a afirmar que só não foi “fuzilado porque num Estado democrático de Direito não há pena de morte”. (o que é uma pena).

Suplicy afirma que participou do encontro esvaziado para ouvir Dirceu. “Eu conheço os três (Dirceu, Genoíno e João Paulo Cunha) há 32 anos. Fui lá para ouvir, refletir. Fui para isso. Acho que é uma questão dolorosa. Sobre ausências eu prefiro só responder por mim. Cada um é cada um”, disse Suplicy esquivo.

São essas correntes petistas que têm pressionado o partido para que a direção nacional seja mais enérgica ao defender os réus. Dirigente da tendência O Trabalho, Markus Sokol disse em novembro que existe “insatisfação na base do partido” com a forma com que o partido tem lidado com o resultado do julgamento - tímida, na sua opinião. “Se ficar sem resposta, outras organizações que incomodam a elite dominante não poderão se sentir garantidas”, disse o dirigente.

“Falta solidariedade no nosso partido. É na hora ruim que se conhece o companheiro. Eles [Dirceu, Genoíno e Cunha] merecem mais do nosso carinho”, afirmou em Osasco o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), um dos petista que saiu em defesa do ex-ministro publicamente. A desculpa de petistas para não comparecer tem sido de que os atos não são eventos oficiais do partido e não contam com a chancela dos diretórios locais.

O PT fará de tudo para minimizar os danos do julgamento do mensalão. Tentará reescrever a história, afirmando que não se valeu de métodos criminosos para assegurar o poder. Mas, no momento ao menos, não existe apoio irrestrito aos condenados pelo STF.

“Se isso representará a derrocada definitiva de José Dirceu, uma das figuras mais poderosas do PT - e também do país, no início da década passada - é uma história a se acompanhar de perto”. - conclui o jornalista.

Foto: Daniel Teixeira/Estadão

MEDO DE POVO - As pretensões de José Dirceu em percorrer o país, contra o STF, por tê-lo condenado, esbarra noutra dificuldade: O chefe quadrilheiro tem que viajar em jatinhos particulares, pois o povo vaia e xinga sua passagem por terminais de passageiros de aeroportos e aviões de carreira. Para votar nas últimas eleições em São Paulo (foto) ele teve que convocar uma tropa de seguidores, que espancou jornalistas e agrediu passantes para protegê-lo do povo.


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