26 de fev. de 2012

Dois mortos no incêndio da base de brasileira na Antártica

ANTÁRTICA - BRASIL
Dois mortos no incêndio da base de brasileira na Antártica
Dois militares acabaram morrendo ao tentar combater o incêndio que acabou por destruir completamente a base brasileira Comandante Ferraz, que fazia pesquisas com cientistas e técnicos brasileiros na Antártida. Cerca de 50 pessoas estavam na estação quando o incêndio começou. Mais um militar acabou ferido, mas não corre risco de morte. Os outros já foram resgatados e trazidos para o Brasil, desde o Chile. O acidente aconteceu no mesmo dia em que foi denunciado que o governo brasileiro estava escondendo que uma embarcação da marinha brasileira havia afundado desde dezembro, com 10 mil litros de diesel, próximo à base. Há riscos do Brasil sofrer sanções internacionais pelos acidentes, que poderão ser considerados falhas graves para quem trabalha em área tão sensível e de proteção ambiental tão severa.

Foto: Armada Chilena/ Informador Chile





Estação Antártica Comandante Ferraz em chamas, imagens feita pela Armada chilena

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Agência Brasil, O Globo, Estadão, Fox News, Informador Chile

Dois militares brasileiros morreram no incêndio ocorrido na madrugada deste sábado da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF). O suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e o primeiro-sargento Roberto Lopes dos Santos tentavam combater o fogo, que começou durante a madrugada na casa de máquinas da base, acabaram sucumbindo cercados pelo fogo.

A marinha afirmou que o ferido, o primeiro-sargento Luciano Gomes Medeiros, não corre risco de morte. Ele foi levado até Punta Arenas, no Chile, de onde embarcará para o Rio de Janeiro.

Todos os pesquisadores e funcionários civis foram resgatados e já se encontram no continente, no Chile, de onde devem regressar ao Brasil, possivelmente nesta domingo.

12 militares da Marinha, inclusive o comandante da base, ficaram numa base chilena vizinha à brasileira na Ilha Rei George, na Antártica. Eles devem retornar a base Comandante Ferraz, para ajudar no trabalho de perícia e no resgate dos dois corpos. Um navio da Marinha brasileira também se deslocou para a Ilha Rei George, para ajudar na tarefa.

Foto: Reuters

Integrantes da Base tentam bombeiam água do mar para tentar apagar o incêndio, que acabou destruindo toda a base.

O acidente ocorreu na Praça de Máquinas, onde ficam os geradores de energia, por volta das 2h (horário de Brasília), segundo nota da Marinha do Brasil. Os integrantes do Grupo-Base (militares da Marinha responsáveis pela manutenção e operação da EACF) trabalham no combate ao incêndio.

Fotos: Reuters/Site Informador Chile


Os brasileiros integrantes da base resgatados pela Força Aérea Argentina, chegando ao Chile

De acordo com o governo, os 30 cientistas, um alpinista que presta apoio às atividades de pesquisa e um representante do Ministério do Meio Ambiente que estavam na Estação no momento do acidente estão bem e já foram para Punta Arenas (Chile). Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) vai resgatar os militares e pesquisadores.

De acordo com a FAB, o avião, um Hércules C-130, pousou em Punta Arenas à meia-noite deste domingo. A aeronave chegou ao Brasil por volta das 8h30, na Base Aérea do Galeão. Assim que as condições meteorológicas permitirem, uma equipe com apoio do navio chileno Lautaro vai se deslocar para a base para avaliar os danos causados à estrutura da Estação.

Pela internet, pesquisadores que estavam na estação relatam que o incêndio destruiu tudo na base brasileira e que houve explosão de nitrogênio. Yocie Yoneshigue Valentin, coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais (INCT-APA), disse que soube, por pesquisadores que estavam no local, que o alarme não tocou no momento do acidente e que todos tiveram que sair às pressas, sem levar bagagem nem documentos.

O Navio-Polar “Almirante Maximiano”, da Marinha, partiu de Punta Arenas em direção à EACF para prestar o apoio necessário. Ainda segundo a nota, dois navios da Marinha da Argentina e dois botes da Estação polonesa de Arctowski apoiam as ações nas imediações da EACF. E três helicópteros da Base chilena também prestam apoio.

Permanecem na EACF, além do Grupo-Base, 12 funcionários do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro. A Marinha afirma que um Inquérito Policial Militar foi instaurado para apurar as causas do acidente.

Foto: Eduardo Geraque/Folhapress

A Baía do Almirantado onde afundou a embarcação da marinha, desde dezembro, com 10 mil litros de combustível, próximo a estação Comandante Ferraz

Como nenhuma noticia ruim vem sozinha, foi divulgado quase que simultaneamente ao acidente da base Comandante Ferraz a notícia que o governo brasileiro estava escondendo, desde dezembro, que uma chata (embarcação de fundo chato usada para transporte de carga) rebocada pela Marinha afundou no litoral da Antártida com uma carga de 10 mil litros de óleo combustível.

Não houve vítimas no acidente, mas no momento a embarcação está a 40 metros de profundidade e a 900 metros da praia onde fica a base brasileira no continente.

O naufrágio, denunciado pelo Estadão, vinha sendo mantido em sigilo tanto pela Marinha quanto pelos ministérios que integram o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) – Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Relações Exteriores e Minas e Energia e Defesa.

Segundo o jornal, sem nenhuma divulgação oficial, por parte do governo, chega na próxima semana à Baía do Almirantado, onde a chata foi a pique, os navios de socorro Felinto Perry, da frota da Marinha, e Gulmar Atlantis, contratado pela Petrobrás. O Felinto Perry é especializado em resgate de submarinos, além de outras operações complexas.

Mergulhadores da Petrobrás, treinados para atuar em acidentes que envolvem vazamentos nas estruturas de exploração e produção de petróleo, participarão da tentativa de resgate.

O planejamento prevê o içamento da chata por boias e guindaste, para que o gasoil artic (combustível anticongelante produzido pela Petrobrás para a ação brasileira na Antártida) possa ser retirado do meio ambiente antes que comece a vazar.

É uma operação considerada de risco, por causa do clima inóspito da região. As observações feitas após o naufrágio por um robô de inspeção submarina mostraram que o diesel não vazou, para alívio dos profissionais da estação e do governo brasileiro, preocupado com a repercussão internacional que um derramamento de poluentes na Antártida pode representar.

Conhecido como Protocolo de Madri, o Tratado da Antártica para Proteção ao Meio Ambiente, em vigor desde 1998, torna o continente reserva natural destinada à ciência. O tratado proíbe até o ano de 2047 a exploração econômica dos recursos minerais e regulamenta e controla a presença humana no local.

Caso o diesel vaze, o acidente com a chata poderá ser interpretado pela comunidade internacional como um desrespeito ao protocolo, por falta de planejamento e pelo uso de processo tido como obsoleto.

Para os cientistas, um sistema de dutos – que não foi implantado na base brasileira – seria o ideal para transportar combustível entre as embarcações e os tanques.

Em resumo nesse protocolo fica estabelecido que deverá ser evitados impactos negativos sobre a qualidade do ar e da água; modificações significativas no meio ambiente atmosférico, terrestre, glacial e marinho; riscos para as espécies animais e vegetais; e degradação de áreas com especial significado biológico, científico, histórico, estético ou natural.

Tanto o acidente com o a embarcação, com a explosão e o incêndio na Base Comandante Ferraz, apesar de acidentais, ferem importantes itens do tratado. O Brasil vai ser questionado e embaraçado e possivelmente sancionando pela comunidade internacional, antes de tentar reconstruir a base.

Foto: Reuters

A Base antes do incêndio. O nome da estação homenageia Luís Antônio de Carvalho Ferraz, um comandante da Marinha do Brasil, hidrógrafo e oceanógrafo que visitou o continente Antártico por duas vezes a bordo de navios britânicos. Ferraz desempenhou importante papel ao persuadir o Brasil a desenvolver um programa antártico (o PROANTAR).


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