9 de fev. de 2012

Até setembro - Luis Fernando Veríssimo

CRÔNICA
Até setembro
Luis Fernando Veríssimo comenta a boa vida do marido de Gisele Bundchen que mesmo perdendo a grande final do campeonato de futebol americano no domingo, só “precisará voltar a trabalhar em setembro, que é quando recomeça a temporada de futebol deles, e até lá terá tempo de sobra para se recuperar no regaço da Gisele Bundchen, um dos dois ou três melhores regaços do mundo”.

Luis Fernando Veríssimo
Fonte: Blog do Noblat

Não chore por Tom Brady. O time dele perdeu a grande final do campeonato de futebol americano no domingo e ele foi abalroado algumas vezes durante o jogo por cruzadores inimigos e deve estar com o corpo todo dolorido. Mas só precisará voltar a trabalhar em setembro, que é quando recomeça a temporada de futebol deles, e até lá terá tempo de sobra para se recuperar no regaço da Gisele Bundchen, um dos dois ou três melhores regaços do mundo. E ganhando em dólar o tempo todo.

Cada período do ano tem seus esportes nos Estados Unidos. Na primavera começará a temporada de beisebol, que dura todo o verão. (O beisebol, como se sabe, é aquele esporte em que as pessoas passam mais tempo ajustando o boné do que jogando).

No inverno tem o basquete e o hockey. E o outono é para o "football", cuja temporada, curta, é esticada com uma série de semifinais eliminatórias que tem sua apoteose no milionário "Super Bowl". Não se sabe o que fazem os jogadores de futebol americano no resto do ano, quando não é outono.

Descontada a alta periculosidade do esporte - apesar de eles jogarem encasulados em proteção como jogam - não existe melhor profissão do que a de um bom jogador de futebol americano. Um mês de trabalho, um ano de salário garantido.

O que eu mais invejo no Tom Brady é seu tempo livre. Está bem, primeiro o regaço da Gisele e depois o tempo livre. De agora até setembro chegar, ele pode fazer o que quiser. Pode cultivar orquídeas, viajar pelo mundo ou passar o dia tomando cerveja na frente da TV. Se fosse inclinado à leitura, por exemplo, poderia se dedicar à obra de Charles Dickens, cujo bicentenário se comemora este ano. Dickens foi o escritor mais popular do seu tempo e tinha fama comparável à de um herói do esporte nos Estados Unidos também.

Contam que multidões iam ao cais de Nova York esperar os navios que chegavam com jornais da Inglaterra para ler o último capítulo do folhetim do Dickens. Até setembro chegar, Brady poderia ler todo o Dickens e ainda sobraria tempo para a Gisele.
*Acrescentamos subtítulo e foto a publicação original

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