Cinco décadas embargadas
CUBA - EUA Cinco décadas embargadas O bloqueio comercial imposto pelos Estados Unidos sobre Cuba completa cinquenta anos nesta terça-feira. Sua longevidade – para os críticos da medida, anacronismo – mostra a dificuldade de enterrar um símbolo da Guerra Fria Foto: UPI/Arquivo Teresa Perosa A imagem do aperto de mão entre Fidel Castro e Richard Nixon – então recém-vitorioso comandante da derrubada do ditador cubano Fulgêncio Batista e vice-presidente dos Estados Unidos, respectivamente – é uma prova de que a relação entre americanos e cubanos pós-revolução chegou a ser amistosa, ainda que por pouco tempo. Era abril de 1959, apenas três meses depois de Fidel e seus companheiros de guerrilha tomarem o poder em Havana. O líder cubano recebera um convite para conhecer Washington e aproveitou para dar as caras na Casa Branca. Desconfiado com as ambições de Fidel, o presidente Dwight D. Eisenhower preferiu deixar a capital durante sua visita e ordenou ao vice que se encontrasse com o comandante. O encontro, embora protocolar, foi amigável. Mas a cautela de Eisenhower se provou correta pouco tempo depois. Fidel já começara a nacionalizar empresas estrangeiras, muitas das quais controladas por americanos. A relação entre os dois países foi se deteriorando e chegou a um ponto insustentável quando os americanos se empreitaram na fracassada invasão da Baía dos Porcos, em abril de 1961. Menos de um ano depois, em 3 de fevereiro de 1962, o sucessor de Einsenhower, John Kennedy, decretava a proibição das importações de qualquer produto vindo de Cuba, além das exportações americanas para a ilha castrista. Baseada numa lei do ano anterior, a ordem presidencial entrou em vigor no dia 7. Nestes cinquenta anos, o embargo alternou períodos de relaxamento e endurecimento, mas nunca deixou de vigorar. O Muro de Berlim caiu, a União Soviética acabou, mas os Castros continuam a defender um regime socialista em Cuba, e a restrição do comércio cubano-americano é talvez o sinal mais evidente de que, pelo menos naquela estreita faixa de mar que separa a ilha caribenha do Estado da Flórida, a Guerra Fria não acabou. A lei que deu aval ao embargo é clara: as relações comerciais entre os dois países só poderão ser restabelecidas quando Fidel Castro e o Partido Comunista abdicarem do poder e quando todos os cidadãos americanos lesados pela nacionalização de propriedades e negócios forem ressarcidos. Nenhuma das pré-condições parece próxima de se realizar; a segunda, aliás, é virtualmente impraticável, pois o endividado governo cubano não tem recursos para indenizar empresários dos EUA. No ano passado, o presidente Barack Obama suspendeu algumas restrições a viagens e envio de remessas de cubano-americanos para parentes na ilha. E, em uma medida inédita, permitiu a americanos que invistam com até US$ 500 em pequenos negócios da iniciativa privada – e comprovadamente não ligados ao Partido Comunista. Por outro lado, Obama vem renovando a permanência de Cuba sob a antiga Lei de Comércio com o Inimigo (TWEA, na sigla em inglês), de 1917, que prevê a suspensão das relações econômicas com nações consideradas hostis aos EUA. Desde que a Coreia do Norte deixou essa lista, em 2008, só Cuba continua a ser mantida sob essa política. Charge de LATUFF Para Julia E. Sweig, diretora-executiva do influente Council on Foreign Relations e uma das maiores especialistas em Cuba, Obama não quer tocar na questão do fim do embargo por “covardia política”. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR O argumento de Julia é que os EUA estão perdendo a chance de fazer negócios com um parceiro comercial natural e dando espaço para que outros países o façam. É o caso do Brasil. A presidente Dilma Rousseff esteve em Havana no mês passado e ratificou um financiamento brasileiro de US$ 600 milhões para a reforma do porto de Mariel, o mais importante de Cuba. *Acrescentamos a charge "Latuff" de a publicação original |
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