3 de fev. de 2012

Mantega fala sobre demissão do presidenta da Casa da Moeda

BRASIL
Mantega fala da demissão do presidenta da Casa da Moeda
Depois de quatro dias de silencio, o ministro Mantega falou sobre a demissão do presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci, disse que foi uma demissão de rotina, mas o demitido estava sofrendo pressões, do PTB, partido que o indicará para o cargo. Segundo alguns, o PTB não gostava mais de Denucci, porque ele não facilitava nada para o partido. Mantega diz que o novo presidente da Casa da Moeda, não terá mais viés político, será um técnico.

Foto: José Cruz/ABr
Guido Mantega, além de dizer que não sabia de problemas na Casa da Moeda, negou conhecer Denucci antes de ele assumir a direção do órgão. ”Não conhecia essa pessoa [Luiz Felipe Denucci]. Recebi o curriculum. Ele tinha um curriculum adequado para a missão e as funções na Casa da Moeda”, afirmou

Postado por Toinho de Passira
Fontes:Folha de São Paulo, O Globo, Agência Brasil

Depois de quatro dias após a exoneração de Luiz Felipe Denucci da presidência da Casa Moeda, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, finalmente falou publicamente sobre o assunto. Mantega tentou entabular a velha desculpa da troca periódica de funcionário, sem, contudo deixar de justificar a medida “porque o ex-presidente da Casa da Moeda estava se sentido pressionado”.

Pela boca de Mantega, a indicação de Denucci partiu do PTB, mas o próprio partido o procurou depois para fazer denúncias contra ele e pedir sua substituição. Mantega argumentou, porém, que as acusações não eram sólidas e demorou substituir Dulcci devido ao seu excelente desempenho administrativo e do momento de transição técnica e administrativa que estava sendo implementada na Casa da Moeda.

Relatou, porém, que já havia planejado a sua substituição há algum tempo, e para tanto já entrevistará três possíveis candidatos para ocupar o cargo.

A boa notícia é que o Ministro da Fazenda sinalizou que o substituto não será mais uma indicação política, mas um técnico. Não se sabe como o PTB vai reagir a perda de poder.

O ministro sustentou ainda que as denúncias de que Denucci recebeu propina de fornecedores da Casa da Moeda por meio de depósitos em contas no exterior apareceram somente depois da exoneração, publicada no Diário Oficial na segunda-feira. Também de acordo com Mantega, denúncias anteriores foram exaustivamente investigadas.

O ministro também negou que tenha usado o PTB para endossar uma indicação pessoal sua.

- Em 2008, quando nós substituímos o presidente da Casa da Moeda, o PTB fez indicações para a presidência dentro dos critérios que nós utilizamos, critérios de competência técnica para que possa ocupar esse cargo. Os primeiros nomes não foram aprovados. Finalmente eles me trouxeram o currículo desse ex-presidente da Casa da Moeda (Denucci), que tinha o currículo adequado para a missão. Então, eu aceitei a indicação, que foi feita pelo presidente o PTB em exercício na ocasião. Portanto não conhecia essa pessoa. Nunca tinha visto antes.

Foto: Gabriel de Paiva/ O Globo

Luiz Felipe Denucci, o ex-presidente da Casa da Moeda, estaria sob suspeitas, mas era um excelente administrador.

Por sua vez o ex-presidente da Casa da Moeda Luiz Felipe Denucci atribuiu sua demissão a uma campanha difamatória sistemática comandada pelo PTB e por fornecedores da estatal.

Denucci desabafou com amigos que era constantemente atacado por dossiês e, mais recentemente, vinha sendo alvo de chantagem envolvendo sua família.

Como contraponto Denucci exibe no balanço da Casa da Moeda, fechado na sexta-feira anterior à sua demissão, um lucro recorde para a instituição de R$ 517 milhões e um faturamento de R$ 2,7 bilhões. Em 2007, antes de sua chegada, o lucro fora apenas de R$ 28 milhões.

O PTB, desde segunda-feira faz críticas abertas à conduta de Denucci, acusando-o de ter virado as costas para o partido após ter sido indicado pela sigla em 2008 para o cargo sem deixar de acusá-lo, nos bastidores, de corrupção e favorecimento próprio.

A relação de Denucci com o PTB foi conturbada desde o início. Em 2008, quando convidado por Mantega para assumir o cargo numa conversa no escritório do Ministério da Fazenda, na Caixa Econômica Federal em São Paulo, o próprio ministro avisou que ele precisaria de algum aval político. Mantega teria, então, telefonado para o deputado Jovair Arantes (GO), líder do PTB, e acertado o apadrinhamento. (Mantega agora nega que esses fatos tenham ocorrido)

A partir daí, os contatos de Denucci com os representantes do PTB praticamente cessaram, o que teria irritado os políticos. De acordo com um assistente de Denucci, ele caiu em desgraça por não “criar facilidades”.

Um parlamentar do PTB, disse que logo após a nomeação, Denucci se indispôs com o partido: “Não atendia nem telefonemas e só queria conversar com o pessoal da Fazenda".

Nem o presidente do PTB, Roberto Jefferson, nem Jovair quiseram falar nesta terça-feira sobre o assunto. Em conversas com interlocutores, alegam que, desde 2008, quando Jovair apadrinhou sua indicação, Denucci já enfrentava problemas com a Receita Federal e a Polícia Federal por suspeitas de enriquecimento ilícito, evasão de divisas e sonegação fiscal.

Com quebras de sigilo bancário e fiscal, a PF teria constatado, em 2000, movimentações atípicas nas contas do economista. Alguns anos depois, Denucci teria trazido US$ 1,79 milhão dos EUA sem declarar. Alegou ser um empréstimo de bancos estrangeiros e foi multado pela Receita em R$ 3,5 milhões.

Mas Denucci diz que recorreu e a multa da Receita, por ser incorreta, foi extinta.

Noutra vertente constata-se que em 2010, Denucci, já como presidentre da Casa da Moeda, constituiu duas "offshores" nas Ilhas Virgens Britânicas, conhecido paraíso fiscal: a Helmond Commercial LLC, em nome do próprio Denucci, e a Rhodes INT Ventures, em nome da sua filha, Ana Gabriela.

Nos últimos três anos, essas "offshores" teriam recebido U$ 25 milhões de operações financeiras no exterior, segundo um relatório da WIT, companhia especializada em transferência de dinheiro com sede em Londres.

Denucci confirma a existência das empresas, mas nega ter feito movimentações financeiras com essas contas.

A WIT aponta que os valores são oriundos de pagamento de comissão feito por dois fornecedores exclusivos da Casa da Moeda, equivalente a 2% dos contratos firmados e confirma ter sido contratada para realizar as transações por Jorge Gaviria, advogado em Miami e procurador dos Denucci.

Informou, ainda, que a movimentação está registrada em sua contabilidade.

Denucci admite conhecer o dono da WIT, a quem chama de primo, mas disse que o relatório é falso.

Noutro “imbróglio” o Ministério Público Federal abriu inquérito investigamdo denúncia de direcionamento de licitação, na Casa da Moeda, durante a administração de Denucci.

Esse é um daqueles casos em que os dois lados da moeda estão contaminados. O presidente da Casa da Moeda não pode ser alguém permanentemente debaixo de suspeições e autor de exóticas movimentações bancárias no exterior, e as denuncias do PTB perdem a legitimidade de moralizadoras, por estarem, também, sob a suspeição de serem, tão somente, retaliação de corruptos contrariados.

Foto: Divulgação

Roberto Jefferson e sua turma quando conseguiram emplacar um integrante do partido como Presidente da Casa da Moeda, esperavam que o correligionário mandasse parte da produção do órgão para o partido ou para as suas contas bancárias. Denucci, porém, tinha o defeito de só pensar nele mesmo.


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