Tempos difíceis - Merval Pereira
OPINIÃO "Tempos difíceis" - Merval Pereira O comentarista político do O Globo, comenta sobre as campanhas eleitorais nos Estados Unidos e na França nesses tempos de crise econômica. Foto: Getty Images Merval Pereira Eleição em tempo de crise foge completamente dos padrões. O discurso dos candidatos fica pelo menos mais honesto, já que não é possível pintar com cores alegres o quadro econômico que todos estão sentindo na pele. Com um índice de desemprego alto em todos os países, na Europa e nos Estados Unidos, todos os candidatos têm de apresentar um programa de desenvolvimento, mas ao mesmo tempo têm também de preparar os eleitores para os tempos duros que ainda virão. Fica difícil prometer futuro brilhante quando se tem de cortar custos e aumentar impostos. O máximo que se pode fazer é dar a entender que o eleitor do adversário sofrerá mais do que o seu. E, mesmo nos Estados Unidos, país onde a arrecadação de fundos privados para a campanha eleitoral serve como termômetro para medir a capacidade de cada candidato, ser rico é arriscado nos dias de hoje. É o caso do provável candidato republicano, Mitt Romney, empresário de sucesso, que é atacado por isso pelos dois lados. A campanha de Obama já o acusou de ser um “destruidor de empregos” ao comprar empresas quando atuava no setor privado. O presidente americano também anunciou a criação de uma alíquota do imposto de renda para os “muito ricos”, dizendo que feria o “senso comum” um milionário não pagar pelo menos 30% de imposto de renda. Romney rejeitou as críticas e contra-atacou dizendo que o número de desempregados passou de 22 para 24 milhões nos Estados Unidos sob o governo de Obama, e também que a dívida pública aumentou de US$ 10,4 trilhões em janeiro de 2009, quando Obama assumiu a Presidência, para US$ 15 trilhões. No front interno, Romney está sendo acusado por Newt Gingrich de ser milionário e, o que é pior, de falar francês. Falar uma língua estrangeira parece ser um pecado capital para políticos americanos, e os monoglotas parecem mais “autênticos” ao eleitor médio, como é o caso de George W. Bush e do próprio Obama. O candidato democrata em 2004 John Kerry também foi muito atacado porque passava as férias na região francesa da Bretanha com sua família quando era jovem. Os assuntos delicados, como reformas no sistema previdenciário, também devem ser esquecidos durante a campanha eleitoral, embora tenham que ser retomados logo que o vencedor assuma o governo. No caso brasileiro, nem a presidente Dilma nem seu adversário tucano José Serra trataram da questão previdenciária, mas hoje o governo está empenhado em aprovar o fundo de previdência dos servidores públicos, aprovado por Lula em 2003 e que até hoje não saiu do papel, mas é fundamental para equilibrar as contas da Previdência. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, quando foi candidato em 2006, saiu de uma reunião com economistas na Casa das Garças, um instituto de estudos econômicos ligado ao Departamento de Economia da PUC do Rio, com a sensação de ter recebido a agenda mais antieleitoral que poderia haver. Os economistas — Edmar Bacha, Armínio Fraga, Francisco Gros, Pedro Malan, entre outros, todos ligados de alguma maneira ao PSDB — focaram suas preocupações na Previdência Social, classificada como um ponto crítico do quadro fiscal. Não haver limite de idade para a aposentadoria no sistema privado seria uma bomba de efeito retardado. Em outra reunião, de líderes do PSDB com empresários do Iedi em São Paulo, levantou-se a necessidade de se separar o reajuste do salário mínimo das aposentadorias da Previdência. O presidente do PSDB na ocasião, Tasso Jereissati, disse que, se um político apresentasse essa proposta na campanha eleitoral, não precisaria nem esperar o resultado das urnas: seria derrotado fatalmente. Foto: Getty Images Um dos reflexos da crise na campanha presidencial aqui na França é que nenhum dos candidatos pode fazer proselitismo político sem falar em aumento de imposto. *Acrescentamos subtítulo, fotos e legendas ao texto original |
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