Dirceu: em dez anos, do auge à prisão
BRASIL - Opinião Dirceu: em dez anos, do auge à prisão Ex-homem forte do PT deixou liderança do ministério de Lula para a prisão em Brasília. Alguns colegas de partido, avaliam que Dirceu está marginalizado politicamente e que, com a prisão, seu poder encolherá ainda mais. Charge: Aroeira - Brasil Economico (SP) Postado por Toinho de Passira Preso na última sexta-feira ao lado de outros 11 réus condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão, José Dirceu vivia, há dez anos, o auge de sua carreira na política. Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, em 2002, ele se tornaria ministro-chefe da Casa Civil. Exerceria o posto até ser acusado, em 2005, de chefiar um esquema de compra de apoio político no Congresso, o mensalão. A acusação, que ele sempre negou, acabaria chancelada pelo STF em 2012. Mesmo após sua saída do governo e longe de cargos públicos — em 2005, foi expulso também do Congresso e ficou inelegível por oito anos —, Dirceu continuou a ser um alvo prioritário da oposição e uma figura altamente polarizadora da política nacional, capaz de gerar ódio entre críticos e fascínio entre simpatizantes. Para muitos aliados e adversários, ele jamais perdeu ascendência no PT e até no governo federal e, ainda que preso, continuará ativo politicamente. "Com certeza ele manterá seu espaço no PT e na política nacional", diz à BBC Brasil o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). "Eventuais erros que possamos ter cometido e as dificuldades por que passamos não inviabilizam a possibilidade de corrigirmos os rumos e darmos a volta por cima". Segundo um assessor de Dirceu, sua futura participação política dependerá das condições de sua pena. Até sua prisão, o ex-ministro mantinha um blog, em que comentava temas políticos. No dia de sua detenção, ele publicou uma carta em que criticou o julgamento, se disse injustiçado e anunciou que recorreria da condenação a cortes internacionais. O assessor diz que, caso a sentença não o prive de escrever, ele continuará a atualizar o blog. Na tarde de segunda, Dirceu e outros quatro condenados no julgamento foram transferidos da Penitenciária da Papuda para uma prisão destinada a detentos do regime semiaberto. Sua defesa agora trabalha para que ele possa deixar a prisão durante o dia. Dirceu foi condenado por dois crimes, corrupção ativa e formação de quadrilha, mas somente a condenação por corrupção ativa começou a ser executada, já que não pode mais ser revertida por recursos. Essa condenação – de sete anos e 11 meses de prisão – lhe dá o direito ao regime semiaberto, em que pode sair da cadeia durante o dia para trabalhar. Se, posteriormente, o STF rejeitar seu recurso à condenação por formação de quadrilha, sua pena será ampliada para 10 anos e 10 meses de prisão e ele terá de cumpri-la inicialmente em regime fechado. Poder em declínio Outros colegas de partido, porém, avaliam que Dirceu está marginalizado politicamente e que, com a prisão, seu poder encolherá ainda mais. Um deputado federal petista afirma que o ex-ministro continuará participando dos debates internos do PT, mas que antes da prisão ele já não tinha mais qualquer influência direta no partido. Segundo o deputado, Dirceu exerceu posição de destaque no PT somente até deixar o governo, em 2005. Ele lembra que, ainda naquele ano, a corrente majoritária do PT o excluiu da Comissão Executiva Nacional e que, na última eleição interna da sigla, na semana passada, ele não ingressou nem sequer no diretório nacional. "Hoje, a importância do Dirceu (no PT) é meramente simbólica", diz o professor de história contemporânea da USP Lincoln Secco, autor do livro História do PT. Sem posição no aparelho do Estado ou do partido e sem o poder de fazer nomeações de cargos, Dirceu, segundo Secco, não exerce mais influência sobre as bases do PT. O desprestígio do ex-ministro no partido se exprime também, afirma o professor, pela frieza com que a direção da sigla tem tratado o julgamento do mensalão. Para Secco, nem Lula nem a corrente majoritária do PT jamais o defenderam explicitamente, ainda que segmentos de extrema-esquerda do partido tenham promovido no ano passado uma campanha em desagravo ao ex-ministro. A postura da cúpula partidária, segundo ele, condiz com as diretrizes que passaram a ser seguidas pela sigla nos anos Lula. "A direção do PT é dominada por uma ideologia chamada de lulismo, que acha que, para se manter no poder, o partido não pode provocar debates que levem a um radicalismo na opinião pública." "A defesa de Dirceu atrapalha o projeto eleitoral." O papel que Dirceu exerce hoje no PT contrasta com sua participação no partido entre 1995 a 2002, quando presidiu a sigla. O professor afirma que naquele período, com mão de ferro, Dirceu conseguiu unificar a sigla – até então rachada entre suas várias tendências – e transformá-la numa "moderna máquina eleitoral social-democrata". E isso tudo num momento crucial: o conturbado segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. "Sem ele, o PT não teria tido a mesma chance de ganhar em 2002", diz. "O Lula nunca teve capacidade de resolver problemas internos do partido e sempre precisou que alguém que fizesse isso. O Dirceu foi essa pessoa; o legado dele é o que o PT é hoje". |
Nenhum comentário:
Postar um comentário