O coronel da PM espancado por black blocs apanhou por dois motivos, mas só um é de responsabilidade dos arruaceiros.
Foto: Reprodução
Coronel Reynaldo após a agressão: "Segurem a tropa, não deixem a tropa perder a cabeça"
Postado por Toinho de Passira
Texto de Daniela Lima, para a Veja
"A balança está desequilibrada." A frase foi dita pelo coronel da Polícia Militar Reynaldo Simões Rossi e repetida por seus superiores numa reunião no Palácio dos Bandeirantes, na última terça-feira, na presença do governador Geraldo Alckmin e de integrantes da cúpula da Secretaria de Segurança do estado.
"Há um sentimento de desconforto e inconformismo por parte da tropa que atua nas manifestações, uma vez que o policial que erra responde dentro da polícia e na Justiça comum. E o manifestante não passa uma noite na cadeia."
O desequilíbrio dessa balança por pouco não resultou no linchamento do coronel na sexta-feira retrasada por um bando de arruaceiros que suas tropas tentavam conter. As cenas, gravadas em vídeo, chocaram pela violência dos agressores e impressionaram pela reação da vítima. Resgatado por um soldado e amparado por policiais, o comandante, com a farda manchada e a clavícula quebrada, manteve a preocupação de não deixar a situação sair do controle: "Segurem a tropa, não deixem a tropa perder a cabeça".
Ele não perdeu a sua em nenhum momento. Com o braço ainda imobilizado e escoriações pelo corpo, diz ter consciência do motivo pelo qual se tornou um alvo dos arruaceiros. "Não apanhei por ser coronel, mas por ser policial. Eles (os black blocs) não vão à rua reivindicar nada. Querem confrontar o Estado por discordarem dele. Não reconhecem o Estado democrático de direito. E, na rua, o Estado é a polícia." A análise do coronel vai até onde permite a sua situação funcional. Ele poderia acrescentar que apanhou também porque sua corporação e o governo ao qual ela responde, por um tempo longo demais, se deixaram acuar pelos black blocs e seus defensores.
Na semana passada, depois de uma pesquisa do Instituto Datafolha revelar que 95% dos paulistanos desaprovam a ação dos black blocs, o governo estadual anunciou que se uniria ao federal para. entre outras medidas, criar um grupo de inteligência que atue conjuntamente com as polícias de São Paulo e do Rio de Janeiro, além da Polícia Federal. Outra providência será a padronização do protocolo usado para lidar com os criminosos — hoje, cada estado atua de um jeito, todos eles ineficazes. Um projeto para endurecer as penas por vandalismo também deverá ser enviado ao Congresso Nacional.
Em São Paulo, um inquérito em andamento no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) já identificou os cerca de quinze integrantes que formariam a "cúpula" do bando. "Trata-se de um pequeno grupo muito politizado e que usa uma grande massa de "inocentes úteis" para os seus propósitos", afirma o diretor do Deic Wagner Giudice.
"Já sabemos onde esses líderes vivem, o que comem, como se comportam e como se organizam", afirma. Ao todo, foram catalogadas 400 pessoas com participação ativa no quebra-quebra a maioria jovens de 17 a 28 anos. Com esses registros em mãos, a polícia começou a ouvir alguns dos acusados de envolvimento com o grupo. Espera-se que os resultados desse trabalho não surjam tarde demais.
Como escreveu a jornalista Dora Kramer em sua coluna no jornal O Estado de S. Paulo, anos de leniência policial combinada com reiterados esforços de glamourização de criminosos resultaram na hoje perene ocupação dos morros cariocas pelo tráfico. Quando o poder público se furta ao seu dever, por incompetência ou por ceder à pressão de grupos que enxergam em bandidos heróis da resistência, o resultado não pode ser diferente. Como os traficantes do Rio, os black blocs afrontam a lei e ameaçam a sociedade. Combatê-los com celeridade e vigor é a única forma de restaurar o equilíbrio da balança — e impedir que erros trágicos se repitam.
O CRIME ORGANIZADO À ESPREITA
O quebra-quebra ocorrido na Zona Norte da cidade de São Paulo no início da semana passada não tem a ver com os black blocs. Quem comandou a ação que fechou a Rodovia Fernão Dias, queimou seis ônibus e três caminhões, roubou motoristas e pedestres, baleou um homem e impôs o toque de recolher em alguns bairros foi a facção criminosa PCC, acreditam investigadores da polícia de São Paulo.
O que motivou o protesto foi a morte de um adolescente de 17 anos sem antecedentes criminais, baleado no peito por um policial - ele argumenta que sua arma disparou acidentalmente. Está preso. Familiares e amigos do jovem de fato iniciaram a manifestação, que acabou sequestrada pelo PCC, com forte presença naquela região. No Rio, as investigações já mostraram a infiltração do Comando Vermelho nos protestos de rua. O risco é que a situação se dissemine também em São Paulo.
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