18 de abr. de 2012

Juan Carlos, o rei caçador, na mira dos ambientalistas

ESPANHA
Juan Carlos, o rei caçador, na mira dos ambientalistas
Enquanto o governo espanhol impõe duras medidas de austeridade e faz cortes no orçamento que tornam a vida dos cidadãos cada vez mais difícil, descobriu que o rei, de férias, mata elefantes na África, sob o patrocínio de um empresário sírio, seu amigo pessoal, unidos pelo prazer da caça. Mesmo pedindo desculpas, confessando que errou, que não vai fazer mais, o rei espanhol, não vai deixar de ser alvo dos ambientalistas, que não perdoam pelo gesto, até por que ele é presidente de honra do World Wildlife Fund, uma das mais importantes organizações em defesa da natureza do mundo.

Foto: FaceBook

MATADOR COSTUMAZ - As imagens publicadas pela imprensa espanhola agravou a crise, nela o rei Juan Carlos I, aparece, em 2008, com um guia de caça, portando uma arma de grosso calibre.

Postado por Toinho de Passira
Fontes:Blog do Ricardo Setti, Correio do Brasil, ABC, David Mixner, El Pais, El Mundo, El Mundo, Lux, ABC

O respeitado rei da Espanha, Juan Carlos Alfonso Víctor María de Borbón y Borbón-Dos Sicilias, Juan Carlos I, 74 anos, protagoniza um escândalo sem precedentes nos seus 36 anos de reinado, que compromete a monarquia espanhola, e a ameaça a sua permanência no trono espanhol, por ter sido flagrado caçando elefantes e outros animais africanos num safari em Botswana, um país da África Austral, que tem fronteiras com a África do Sul, onde a caça é uma prática legal, mediante paga (30 mil euros ou 75 mil reais) por cada animal abatido.

A nebulosa história veio a publico, pois o monarca durante sua permanência de caça na África sofreu um acidente no chalé onde estava hospedando e teve que ser levado emergencialmente a Espanha onde se submeteu a uma bem sucedida cirurgia de implante de prótese de quadril. Incialmente interessados no estado de saúde real, os jornalistas aos poucos foram desvendando os acontecimentos e acabaram constatando que o acidente havia acontecido enquanto o rei estava caçando elefantes na África.

De repente, de vítima o amado rei passou a vilão, principalmente quando os jornais espanhóis, para ilustrar o ocorrido, publicaram uma comprometedora foto datada de 2006, que mostramos acima, onde ele posa, portando uma arma de grosso calibre, junto a um guia de caça, diante de um elefante morto, presumivelmente por ele, na mesma Botswana.

A outra questão imediatamente posta em evidencia, foi o contraste da vida real, envolvido em aventuras exóticas e dispendiosas, com a situação da Espanha, imersa em profunda crise econômica e de credibilidade, obrigando o governo a exigir dos cidadãos sujeitos a taxas insuportáveis de desempregos sacrifícios cada vez maiores.

Foto: Divulgação

CAÇADOR AMIGO DA REALEZA O sírio, Eyad Mohamed Kayali, que financiou a empreitada do amigo, o rei Juan Carlos, posando diante de um búfalo abatido

Questionou-se se a viagem catastrófica de caçador no continente africano teria sido por conta do contribuinte. Depois de muitas especulações tem se afirmado como certo que a ventura foi patrocinada pelo empresário milionário, Eyad Mohamed Kayali, nascido na Síria saudita, residente há 30 anos na Espanha e que serve de ponte, entre Juan Carlos e o príncipe Salman bin Abdulaziz al Saud, ministro da Defesa da Arábia Saudita e terceiro na linha de sucessão à Coroa, de quem é amigo íntimo e cuida dos negócios herdeiro saudita na Espanha.

A amizade que Juan Carlos tem com o príncipe Salman tem sido fundamental para a obtenção de contratos, como exemplo, um que beneficiou um consórcio de empresas espanholas, para a construção de um trem bala, que ligará as cidades sagradas de Meca e Medina (Arábia Saudita) por 7 bilhões de euros (17,5 bilhões de reais) tido como o maior contrato internacional de todos os tempos, uma benção para a Espanha nesses tempos de vacas magras.

O sírio Kayali e o Rei comungam de uma longa amizade, onde é compartilhada, como se viu a grande paixão pela caça silvestre. Kayali como administrador dos interesses do principel Salman na Espanha, toca atualmente a construção de condomínios luxuosos em diversos pontos da Espanha. Um dos investimentos mais conhecido é o Hotel Juan Carlos I, em Barcelona, inaugurado durante a Olimpíada de 1992, obviamento em homenagem a Dom Juan Carlos, o monarca espahol.

Kayali que chegou a Madrid como funcionário da Embaixada da Arábia Saudita em Madrid, tem residências no resort de La Moraleja, Madrid e Marbella, onde o príncipe Salman também é dono de uma mansão.

Foto: Aliance/DPA

LEGAL E IMORAL - Caçadores covardemente alvejam os elefantes, em Botswana.

A caça de elefantes em Botswana é uma prática legal, não apenas permitida como incentivada pelo governo local. Os interessados devem ir às áreas onde a caça é permitida acompanhados de um funcionário do governo. Morto o magnífico animal, o maior mamífero existente sobre a superfície da Terra – absurdo dos absurdos, pois a gestação de cada elefante chega perto de dois anos –, o funcionário do governo fotografa o corpo, para os arquivos oficiais, e registra a posição por meio de GPS.

Foto: Divulgação

DESCULPA PARA MATAR - O governo de Botswana alega excesso de população de elefantas, para permitir a caça aos paquidermes, que no resto da África, estão num processo de extinção por anos de matança.

Oficialmente, o governo de Botswana – país do sul da África com meio milhão de quilômetros quadrados e uma fauna espetacular – alega que há “excesso” de elefantes no país. Estariam sobrando 60 mil animais. Como o elefante, que é o verdadeiro rei dos animais, não tem predadores – ninguém, nem bandos de leões, pode com ele, a menos que esteja ferido ou doente –, esse suposto excesso estaria dizimando as folhas de árvores e as gramíneas que servem de alimentação de outros herbívoros. Com essa desculpa o governo de Botswana “vende” a caça do elefante legalmente, para horror dos ambientalistas de todo o mundo.

Foto: Divulgação

ACAMPAMENTO DOS CAÇADORES - Na savana africana, hotéis cinco estrela, abrigam os caçadores milionários de todo mundo

Os caçadores se hospedam em um dos muitos “acampamentos” — instalações que vão desde acampamentos propriamente dito, simples e austeros, até verdadeiros hotéis cinco estrelas, em plena savana africana, num dos quais estava meio clandestinamente hospedado o rei espanhol, agora questionado.

Juan Carlos, é um monarca diferente e com participação decisiva na história recente da Espanha, na implantação e manutenção da democracia no país. Curiosamente nascido em Roma, na Itália, durante o exílio da família Real, durante a ditadura do Generalissimo Francisco Franco, viveu a partir dos 10 anos na Espanha e foi aluno interno num colégio dos Marianos da cidade suíça de Friburgo.

Discreto e firme, seu nome nunca esteve ligado a situações reprovaveis. Lembrar que foi ele que mandou Hugo Chávez fechar a matraca, com a famosa frase: ¿Por qué no te callas? durante a XVII Conferência Ibero-Americana, realizada na cidade de Santiago do Chile, no final de 2007.

Dele se dizia até então que foi um homem que teve papel crucial para a implantação da democracia da Espanha, um chefe de Estado que impediu um golpe militar em 1981, num momento crucial para a consolidação do regime constitucional após a longa ditadura do general Francisco Franco (1939-1975), um Rei que resolveu complexos problemas diplomáticos para o país e ajudou a consolidar relações econômicas importantíssimas.

Foto: FaceBook

CAÇADOR IMPIEDOSO - Nesta outra imagem, o rei aparece diante de dois bufalos abatidos

Agora alvo de criticas de vários setores da sociedade, espanhola e mundial, estarrecida, em tempos de preservação da natureza, em sabê-lo caçador impiedoso de animais silvestre, como o elefante e búfalos, questionam seu cargo de presidente de honra de uma das mais importantes organizações pró-natureza do mundo, o World Wildlife Fund.

A atriz francesa, Brigitte Bardot, ferrenha defensora dos animais, escreveu uma carta aberta ao rei:

“É um ato indecente, repugnante e fico indignada por ser com uma pessoa de sua posição”, afirmou. “O senhor não vale mais do que os caçadores ilegais que pilham e saqueiam a natureza, é a vergonha da Espanha”, acrescentou. “Não desejo ao senhor um pronto restabelecimento, porque isso o levaria a prosseguir com as suas estadas mortíferas em África ou em outro local”.

Foto: Getty Images

INSUFICIENTE - Rei Juan Carlos saindo do hospital, pedido de desculpas e reconhecendo que errou. Bastará ?



Hoje ao sair do hospital em Madrid, apos seis dias de internação, restabelecido do acidente, apoiado em muletas, o rei Juan Carlos, não fugiu da imprensa e apressou-se em desculpar-se:

"Sinto muito. Eu errei. Não vai acontecer novamente." – declarou afirmando que já no fim dessa semana retorna a sua rotina de trabalho, não se espera que os seus problemas tenham acabado: a opinião pública, por vezes, tem memória de elefante.

Fotos: Getty Images



VITIMAS REAIS - Ativistas exibem cartazes e protestam diante do Hospital San Jose, em Madrid, enquanto o rei esteve hospitalizado.


Nenhum comentário: