19 de abr. de 2012

Congresso cria a CPI de Carlinhos Cachoeira

BRASIL - CORRUPÇÃO
Congresso cria a CPI de Carlinhos Cachoeira
O Congresso Nacional criou na manhã desta quinta-feira (19) a comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) que irá investigar os crimes cometidos pelo contraventor Carlos Cachoeira e o seu envolvimento com deputados e senadores, além de outros agentes públicos e privados. As relações de Cachoeira foram desmontadas pela Polícia Federal nas operações Vegas e Monte Carlo.

Foto: José Cruz/ABr

A vice-presidente do Congresso, deputada Rose de Freitas, que substitui Sarney ainda hospitalizado, durante sessão que criou oficialmente a comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) que vai investigar as relações do empresário de jogos de azar Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com parlamentares e agentes públicos e privados

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Congresso em Foco, Agência Brasil

Em sessão extraordinária, o primeiro-secretário do Congresso, deputado Eduardo Gomes (PSDB-TO), leu em plenário o requerimento de instalação da CPMI. Dessa forma, ela está praticamente criada. A presidente interina do Congresso, deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), marcou para a próxima terça-feira (24) a sessão para a leitura dos nomes indicados pelos partidos para compor a comissão, que será formada por 15 deputados e 15 senadores, e igual número de suplentes.

Na contagem final das assinaturas, foram contabilizadas 337 na Câmara e 72 no Senado, números mais do que suficientes para criar uma CPI, que regimentalmente exige a assinatura de 171 deputados e 27 senadores. No entanto, até a meia-noite de hoje (19) os parlamentares ainda podem inserir ou retirar assinaturas.

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Na sessão do Congresso Nacional que instalou a CPMI de cachoeira, os senadores Alvaro Dias (PSDB-PR), Pedro Taques (PDT-MT), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Ana Amélia (PP-RS)

Líderes de partidos da base governista negaram a intenção do governo de realizar uma “operação abafa”. De acordo com o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), a informação de que o governo da presidenta Dilma Rousseff estaria manobrando para manter o controle sobre a CPMI é “fruto da imaginação de quem está trabalhando com isso”. “Não há nenhuma previsão do governo de controlar os trabalhos da CPI. Vamos investigar essa quadrilha que se formou no país e manteve relações com vários agentes públicos”, disse.

O foco da apuração começa pelas relações e negócios do bicheiro Carlos Augusto Ramos com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) e a construtora Delta, uma das maiores do país, responsável por várias obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal.

De saída, os primeiros passos da investigação já deverão deixar um forte rastilho de pólvora. O mapeamento das verbas recebidas pela empreiteira e dos pagamentos a fornecedores dela, incluindo empresas de fachada, levam a Polícia Federal a suspeitar que o dinheiro desviado pode ter alimentado também campanhas eleitorais em 2010. Os indícios levantados têm potencial para atingir os estados de Goiás, dirigido pelo PSDB, mas também o Distrito Federal, comandado pelo PT, e até talvez o governo federal da presidente Dilma Rousseff.

Os membros da comissão já começam a ser definidos nos partidos, principalmente da oposição. O DEM escalou o senador Jayme Campos (MT) e os deputados Onyx Lorenzoni (RS) e Mendonça Prado (SE). O PSDB terá os deputados Delegado Francischini (PR) e Carlos Sampaio (SP) e é esperado que o senador Randolfe Rodrigues (AP), do PSOL, ocupe uma vaga destinada aos tucanos.

No PMDB, a deputada Dona Íris (GO) quer participar para investigar o grupo político do governador Marconi Perillo (PSDB), adversário político dela e do marido, o ex-governador Íris Rezende (PMDB). Como mostrou o Congresso em Foco, a CPI deve atingir alvos também no PT, no PP e em outros estados.

Quem serão os alvos principais da CPI
e o que já se sabe sobre eles

Foto: Aílton de Freitas/O Globo

Senador Demóstenes Torres e o seu comparsa Carlinhos Cachoeira, os principais investigados.

Fonte: Congresso em Foco

Carlinhos Cachoeira
O bicheiro é o principal alvo das operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal. As investigações deslindaram o esquema ilegal de exploração de jogo por parte do empresário. Por conta delas, Cachoeira foi preso, inicialmente na penitenciária de Mossoró (RN), e agora na penitenciária da Papuda (DF). As operações da PF mostram que Cachoeira montou uma vasta rede de apoio político, que tinham no senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) seu nome mais notório. Além das ações irregulares, Cachoeira ainda montou um amplo esquema de espionagem, usando arapongas de sua confiança. Assim, ele teria vídeos e gravações comprometedoras de várias pessoas do mundo político.

Delta Construções

O mundo do jogo não é a única área de interesse de Cachoeira, pelo que mostram as investigações. Ele tinha contatos com a maior empreiteira do PAC do governo federal. A Delta Construções atua em estados como Goiás, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Tocantins. Há várias menções à construtora nas investigações. De acordo com grampos incluídos nos inquéritos das Operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal, o presidente da empresa, Fernando Cavendish, amigo do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), diz que, com R$ 30 milhões, pode obter com políticos o contrato que quiser para sua empresa. Movimentações financeiras mostram que a Delta pagou a duas empresas de fachada e um irmão de Carlinhos Cachoeira. Só de uma conta de empresa de fachada, o contador de Cachoeira sacou R$ 8,5 milhões. A suspeita é que o dinheiro tenha abastecido o caixa dois de campanhas eleitorais em 2010. Uma dessas empresas comprou uma fazenda no Distrito Federal em uma área irregular. Há uma troca de telefonemas entre os investigados revelando a intenção de subornar servidores do Governo de Distrito Federal para legalizar a área.

Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), senador

Demóstenes foi o primeiro nome a surgir depois da prisão de Cachoeira. As investigações mostram uma íntima ligação entre o bicheiro e o senador, e seus indícios apontam para a hipótese de Demóstenes ter atuado mesmo como uma espécie de lobista do bicheiro e de seus interesses no Congresso. As investigações incialmente mostraram que havia uma intensa troca de telefonemas entre Demóstenes e Cachoeira. Depois, descobriu-se que Cachoeira comprara em Miami rádios-telefones do tipo Nextel para falar com Demóstenes com risco menor de ser grampeado. Nas conversas, Demóstenes é tratado por Cachoeira como “doutor”, e trata o bicheiro pelo apelido de “professor”. Há várias e graves menções a Demóstenes. Os dois são flagrados negociando mudanças em projeto de lei para regulamentar jogos. Demóstenes ainda negocia uma obra do PAC a ser tocada pela Delta, afirmando ter convencido o prefeito de Anápolis, Antônio Gomide, a dar preferência para a empreiteira. Cachoeira pede a Demóstenes que impeça a convocação de Fernando Cavendish, da Delta, em uma comissão do Congresso. Em outra conversa, o senador pede ao bicheiro dinheiro para pagar o aluguel de um táxi aéreo. Cachoeira pede a interferência do senador em decisões de magistrados. As áreas de interesse mostradas nas conversas são variadas: Demóstenes tem interesse em licitações de informática para Infraero; ele também pede a Cachoeira uma forma de obter contratos de publicidade para a organização da Copa do Mundo em Mato Grosso; conversam sobre a demissão de uma funcionária apadrinhada de Cachoeira na cota do gabinete de Demóstenes, para evitar que se descubram servidores fantasmas. Demóstenes ainda defende os interesses da empresa farmacêutica Vitapan, de Cachoeira, perante a Anvisa.

Marconi Perillo (PSDB), governador de Goiás(foto)

A chefe de gabinete do governador de Goiás foi demitida depois de flagrada vazando informações de investigações da Polícia Federal ao prefeito de Águas Lindas (GO). Grampos telefônicos mostram que Cachoeira conseguia nomear apadrinhados políticos no governo de Perillo. O governador diz que só conversou com o bicheiro para falar de assuntos da indústria farmacêutica. A Delta tem contrato de locação de veículos no estado.

Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito Federal

Escutas telefônicas mostram interlocutores dizendo que Agnelo pediu um encontro com Cachoeira. Os grampos ainda revelam a tentativa do grupo de emplacar apadrinhados no Governo do Distrito Federal, que mantém contratos com a Delta na área de coleta de lixo. Diálogos sugerem que o grupo de Cachoeira pagou a servidores do governo de Brasília para que a Delta recebesse pelos serviços prestados. Também há indícios de que o governo do Distrito Federal acessou dados sigilosos de adversários. Da Casa Militar do GDF, por exemplo, policiais acessaram dados do deputado Francisco Francischini (PSDB-PR), logo depois de ele fazer um pedido de prisão do governador Agnelo Queiroz.

Rubens Otoni (PT-GO), deputado federal

Presidente do PT goiano, o deputado federal Rubens Otoni, é flagrado em vídeo numa conversa com Cachoeira. O bicheiro lembra de uma doação de campanha feita a ele, e oferece mais R$ 100 mil, desde que isso não seja declarado. Na conversa, Otoni concorda com as condições propostas por Cachoeira.

Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), deputado federal

Grampos mostram Leréia cobrando do vereador Wladimir Garcez, ligado a Cachoeira e a Marconi Perillo, o depósito de dinheiro em uma conta corrente. Amigo de Cachoeira, Leréia diz que tem sociedade em um avião com o irmão do bicheiro.

Jovair Arantes (PTB-GO), deputado federal

Pediu doação a Cachoeira à sua pré-campanha para prefeito de Goiânia. “Não tenho relação comercial com ele”, afirmou Jovair. “Sabia que ele lidava com jogo legal.”

Sandes Júnior (PP-GO), deputado federal

Teve o nome citado nas investigações, em conversas que falavam de valores em dinheiro. Segundo o deputado, era um pagamento referente à rescisão de um contrato que tinha com a uma rádio de Goiânia, Rádio Positiva.

Stepan Necerssian (PPS-RJ), deputado federal (foto)
Tomou emprestados R$ 175 mil de Cachoeira, segundo ele para comprar um apartamento e ingresso para o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Diz que já devolveu o dinheiro.

Idalberto Matias, ex-sargento, e Joaquim Thomé, ex-policial federal


Arapongas a serviço de Cachoeira. Idalberto Matias, o Dadá, é ex-sargento da Aeronáutica e presta serviços de arapongagem para policiais, promotores e procuradores do Ministério Público e outros investigadores. É fonte de alguns jornalistas em Brasília. Colaborou com a Operação Satiagraha, coordenada pelo Delegado Protógenes (PCdoB-SP). De acordo com a Operação “Monte Carlo, ele fez escutas e interceptações ilegais de mensagens eletrônicas para Carlinhos Cachoeira, em parceria com o ex-agente da Polícia Federal Joaquim Gomes Thomé Neto.

Jornalistas

Membros do PT esforçam-se para comprometer na investigação a revista Veja, a publicação impressa de maior circulação do país. Há trechos nos inquéritos das operações Vegas e Monte Carlo que mostram uma relação entre o chefe da sucursal da revista em Brasília, Policarpo Júnior, e Carlinhos Cachoeira. Tudo indica que se tratou apenas de uma relação profissional entre jornalista e fonte. Mas os petistas dizem suspeitar que vídeos e gravações usadas em reportagens da revista, a começar pela denúncia de corrupção nos Correios em 2005 (que desembocou no caso do mensalão), tinham como origem os arapongas de Cachoeira, e poderiam servir aos seus propósitos. Há outros jornalistas citados nos inquéritos.

Existe potencial para também serem envolvidos na CPI…

Governos e governadores de Mato Grosso, do Tocantins, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, prefeituras de Belo Horizonte e de outros municípios, além de integrantes do Ministério Público – sem falar do grande número de políticos de atuação meramente local ou regional já citados nas investigações da Polícia Federal.


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