ESPANHA – CUBA
Mesmo libertos os presos políticos não podem falar O regime cubano usa o expediente da chantagem, para mantê-los discretos e cautelosos. Embora estejam com seus familiares, sabem que se falarem mal do regime, de forma agressiva, os seus antigos companheiros de cárcere, ainda preso na Ilha poderão ter suspensa a liberdade prometida
Foto: GettyImages
Os sete primeiros libertados- Julio César Gálvez, Léster González, Omar Ruiz, Antonio Villareal, José Luis Garcia Paneque, Pablo Pacheco e Ricardo González - todos membros do chamado Grupo dos 75, o grupo de dissidentes detidos pelo regime cubano na primavera de 2003 e condenados a penas de até 28 anos de prisão
Toinho de Passira Fontes: Blog do Noblat , Euronews, El Pais
Os jornalistas pouco puderam ouvir dos primeiros sete presos políticos, que junto com alguns familiares foram libertados pelo governo cubano, como resultado de acordo entre a Igreja Católica cubana e o governo espanhol.
No aeroporto de Barajas na Espanha, quando apresentados a imprensa pareciam ainda assustados e receosos, nada que pudesse lembrar homens livres, num país livre.
A jornalista Priscila Guilayn do O Globo, reporta que o Ministério das Relações Exteriores da Espanha montou uma espécie de cordão de isolamento para dificultar o acesso de qualquer pessoa, incluindo aí jornalistas, com os cubanos libertados e seus familiares.
Tudo aconteceu absolutamente sobre controle. Os dissidentes só responderam a duas perguntas e Rodrigo González Alfonso, de 60 anos, posto como porta-voz do grupo, preferiu não entrar em detalhes sobre as condições nas quais eles teriam saído de Havana:
— Não nos consideramos manipulados. Em um processo de diálogo há quem cede de um lado e quem cede do outro. Somos a via de um caminho que pode ser o começo de uma mudança. Cada um tomou o caminho que achou mais conveniente. Uns ficaram na Ilha, outros emigraram. O exílio para nós é a prolongação da luta. Foto: Getty Images
Zoe Valdés, a escritora dissidente que vive em Paris e foi a Madrid para ver os companheiros e a Blanca Reyes, um representante das Damas de Branco, mulher do dissidente Raúl Rivero, falando com a imprensa em Madrid As palavras de González foram consideradas "um discurso" pela escritora cubana Zoe Valdéz, que mora em Paris há 15 anos. Ela viajou a Madri para recepcionar os dissidentes e, depois de muito argumentar que também era jornalista, conseguiu entrar na sala da entrevista. Não pôde, no entanto, como nenhum repórter, aproximar-se dos 26 familiares dos opositores, isolados em um canto do estacionamento do aeroporto.
— Isso não pode ser visto como uma liberação. Vieram presos em um avião e agora estão presos dentro de uma sala. Há sete anos não nos vemos e não me deixam sequer cumprimentá-los — diz Blanca Reyes, uma das fundadoras do movimento de mulheres pela liberação de presos políticos cubanos e esposa do poeta dissidente Raúl Rivera. Foto: Associated Press
Os prisioneiros cubanos libertados falando com a imprensa no aeroporto de Madrid
González, na sua curta fala, diz acreditar que o governo cubano deu "um passo, não foi o primeiro e não será o último", em direção a uma mudança:
— Uma palavra se dirige a Cuba e é a palavra mudança. Cada um vê mudança de uma maneira diferente e assim deve ser, porque quando há unanimidade de critérios é sinal de que não há critérios. Para nós a palavra mudança começa pela liberdade de todos os cidadãos cubanos, pensem como pensem. – encerrou
Os sete presos chegaram à Espanha na condição de imigrantes e não como exilados políticos. A Espanha lhes dará um estatuto de "residência protegida " e lhes concederá uma permissão de trabalho. O fato de que Cuba os defina como imigrantes supõe que na teoria possam voltar no futuro à ilha. Segundo o acordo que Raúl Castro se comprometeu em 7 de julho com o cardeal Jaime Ortega e o ministro espanhol das Relações Exteriores, Miguel Ángel Moratinos, os familiares dos presos poderão voltar a Cuba livremente enquanto os ex-detidos terão de pedir autorização.
Só daqui há algum tempo, quando Cuba tiver libertado todos os prisioneiros, vamos saber o que realmente aconteceu.
Devem estar temerosos que alguma atitude agressiva ou gesto político, possam complicar a libertação dos outros companheiros que ainda estão presos na ilha.
Foto: Associated Press
Afinal, enquanto eles eram libertados, na seção de migração do aeroporto Jose Marti, em Cuba, a funesta figura de Fidel Castro estava na TV, dando uma demonstração que ainda paira como uma nuvem negra sobre o futuro do país. |
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