Pós-Marina, Campos sai em busca do discurso perdido, de Maria Lima, para O Globo
BRASIL - Opinião Pós-Marina, Campos sai em busca do discurso perdido Pré-candidato do PSB tenta se reaproximar do empresariado e aplacar o susto causado por sua união com Rede Foto: Nelson Antoine/Fotoarena/Estadão Conteúdo Postado por Toinho de Passira O fato novo do casamento de Eduardo Campos com Marina Silva passou e o pré-candidato do PSB a presidente da República não deslanchou como esperava. Analistas políticos identificam uma clara mudança no comportamento de Campos no período pós-Marina: ele tem aparecido mais inseguro nas entrevistas, está pisando em ovos para adequar o discurso ao da ex-senadora. Passados a lua de mel e o impacto inicial causado pela aliança entre PSB e Rede, Campos discute, no momento, estratégias para recuperar terreno nas articulações para 2014, tanto na área política como na empresarial, afetadas pelo perfil de militante ambiental de Marina. Mas os socialistas dizem que este é um casamento sem volta. Sem Marina, o governador de Pernambuco aparece nas pesquisas com cerca de 9% de intenções de voto. Sem Eduardo, Marina tem cerca de 15%. Mas os dois juntos alcançam 20%, e passam à frente do tucano Aécio Neves, segundo pesquisas internas. Cientista político da FGV/USP, o professor Fernando Abrucio avalia que, atualmente, Campos está em pior situação do que imaginaria estar quando ganhou a adesão de Marina. E diz que é preciso dar uma virada. — Há muitas incógnitas em relação ao resultado desta aliança daqui para frente. Eduardo precisa resolver a história dele com Marina; o lugar que ela vai ocupar na chapa precisa ser definido logo. E ainda tem a delicada questão da compatibilização programática. Ou seja, os dois precisam resolver esse casamento de uma vez por todas — diz Abrucio. Em busca do apoio perdido Tentando recuperar apoios perdidos com o chamado “susto Marina” em seu maior reduto, o empresarial, onde já vinha se consolidando, o pré-candidato do PSB tem pelo menos uma proposta já exposta aos representantes do setor, em conversas nas últimas semanas.Campos propôs que, no caso de parcerias público-privadas e das concessões, seu governo garantiria um retorno mínimo para o investidor. Após sete anos, se desse tudo errado, o governo daria uma compensação à iniciativa privada. Ele acredita que esse compromisso irá recuperar a credibilidade do governo e revolucionar os investimentos no país. — Eduardo ganhou uma fatia do eleitorado de Marina, mas perdeu o discurso. Está tenso, com medo de contrariar Marina e seus seguidores — diz um interlocutor de Campos, que trabalha para a campanha voltar a ter mais empolgação. Na última sexta-feira, Campos fez palestra para cinco mil produtores rurais do Paraná, em evento promovido pela Federação da Agricultura. Sobre Marina, ele procurou tranquilizar: — Nós temos clareza de importância social e econômica do campo para o Brasil. Queremos nos aproximar, para sermos entendidos e para entender. Casamento está ameaçado em quase todos os estados Em relação aos acertos políticos e aos obstáculos impostos por Marina Silva à costura de coligações com partidos tradicionais, a saída em discussão na equipe de Eduardo Campos é separar a Rede do PSB onde não houver consenso sobre as alianças. Ou seja, em quase todos os estados. Há algumas semanas, em um encontro na casa do deputado Walter Feldman (PSB-SP), em São Paulo, Campos teve uma conversa franca com Marina. — Para você me encontrar vivo como eu estava quando você chegou, algumas pessoas me trouxeram vivo até aqui. E não posso me desfazer dessas pessoas agora — disse, citando seus companheiros mais fiéis, os deputados Márcio França (SP) e Beto Albuquerque (RS) e o senador Rodrigo Rollemberg (DF), que estão articulando alianças regionais para o PSB. O problema mais visível é em São Paulo, onde França trabalha, avalizado por Campos, para ser vice do tucano Geraldo Alckmin — e Marina ainda não desistiu de lançar Feldman. — O casamento entre Rede e PSB vai até onde não atrapalhar a campanha de Eduardo. Na prática, é impossível só lançar e apoiar gente nova. Em São Paulo, uma candidatura sem Alckmin pouco acrescentaria ao projeto nacional do PSB. Como Marina não apoia Alckmin, deve ficar neutra lá, se fecharmos a aliança com o PSDB — diz França. O mesmo acontece no Rio Grande do Sul, onde o PSB tenta aliança com o PP da senadora Ana Amélia. Ela seria candidata ao governo; Beto Albuquerque, ao Senado. As primeiras duas semanas depois da adesão de Marina foram de festa e capitalização do voto de protesto da Rede. Na terceira semana, contam socialistas, começaram os problemas. Há relatos de que, numa reunião em São Paulo, empresários disseram taxativos a Campos: — No nosso campo, tudo o que você tinha, você perdeu. Como mudar o que você vem prometendo com Marina a seu lado? Por isso, Campos agora tem focado sua ação em SP: ao lado dos ex-ministros da Agricultura Roberto Rodrigues, Alisson Paulinelli e Francisco Turra, tem feito reuniões frequentes com líderes do agronegócio. *Acrescentamos foto e legenda à publicação original |
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