Um dia na cooperativa que quer empregar os mensaleiros, de Marcela Mattos, par a VEJA.com:
BRASIL - Mensalão Um dia na cooperativa que quer empregar mensaleiros Site de VEJA visitou a Cooperativa Sonho de Liberdade, no Distrito Federal, que ofereceu emprego aos petistas José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino enquanto eles cumprem suas penas pelos crimes do mensalão Foto: Cristiano Mariz/Veja Postado por Toinho de Passira “Aqui nós não vamos discriminar ninguém. Vimos neles a situação de pessoas que cometeram erros e estamos aqui para lhes dar novas oportunidades. A nossa função é somar”. A declaração é de Fernando de Figueiredo, coordenador da Cooperativa Sonho de Liberdade, entidade que oferece trabalho para presidiários em regime semiaberto no Distrito Federal. Ex-detento, Figueiredo conhece bem a rotina que os condenados no julgamento do mensalão cumprem no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, mas reprova a tentativa do mais ilustre dos mensaleiros encarcerados, o ex-ministro José Dirceu, de ser contratado como gerente de hotel, com salário de 20 000 reais mensais: “Vinte mil reais é o que eu pago para vinte funcionários. Se forem para um emprego bom, fica difícil mudar de vida. Vão continuar na mesma situação de regalias. Aqui são todos iguais”. Criada em 2005, mesmo ano em que o Brasil descobriu o maior esquema de corrupção já arquitetado no coração de um governo, a cooperativa hoje emprega 80 trabalhadores, metade deles presos por crimes como tráfico de drogas, homicídio e roubo. Fica numa área de cinco hectares – 50 000 metros² – na Cidade Estrutural, vizinha a um lixão, numa região pobre do Distrito Federal – água encanada e energia elétrica são conquistas recentes. O espaço é dividido em núcleos de serviços: a marcenaria e a confecção de bolas de futebol fica em um espaço de madeira e chão de cimento queimado. Um lamaçal, repleto de cachorros, separa os galpões. Na última quinta-feira, a Sonho de Liberdade encaminhou à Justiça propostas de emprego para o trio petista formado por Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino – este provisoriamente em prisão domiciliar por problemas de saúde. Ao contrário do que pleiteavam Dirceu e Delúbio, que quer dar expediente na Central única dos Trabalhadores (CUT), com salário de 4 500 reais mensais, a cooperativa apresentou uma oferta de trabalho nos moldes daquela enfrentada pela grande maioria dos detentos do país que conseguiram autorização judicial para deixar o presídio durante o dia e retornar no período noturno. O salário é pago de acordo com a produtividade e corresponde a cerca de um salário mínimo. A cooperativa oferece café da manhã e um lanche à tarde – o almoço custa de 5 reais a 7 reais. O deslocamento, da Papuda até o local de trabalho, é feito por conta do detento, mas os agentes de segurança checam o comparecimento. A Lei de Execução Penal prevê a possibilidade de trabalho externo para condenados que cumprem pena no regime semiaberto, mas sair do presídio durante o dia não é direito automático, como a defesa de Dirceu, por exemplo, sustentou. O condenado tem de apresentar uma carta com a proposta de emprego e, na sequência, um grupo de assistentes sociais analisará o local de trabalho e a possibilidade de as atividades auxiliarem na ressocialização do condenado. Segundo o artigo 37 da Lei de Execução Penal, o trabalho externo só é autorizado quando o condenado tiver cumprido, no mínimo, um sexto da pena, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem jurisprudência que autoriza o trabalho independentemente deste tempo transcorrido. O Supremo Tribunal Federal (STF), por sua vez, tem decisões em sentido contrário, exigindo a comprovação de cumprimento prévio de parte da sentença. A cada três dias de trabalho, o preso tem direito a redução de um dia da pena. Na cooperativa Sonho de Liberdade, os trabalhadores mais antigos já conseguiram abater um ano de pena. Além dos petistas, a cooperativa também estendeu o convite aos demais detentos do mensalão. Uma empresa de engenharia enxergou no ex-tesoureiro do extinto PL (hoje PR), Jacinto Lamas, habilidade para trabalhar como gerente administrativo, para ganhar 1 200 reais. Já o ex-deputado Romeu Queiroz quer atuar em seu próprio empreendimento, a RQ Participações S/A.
Expertise *Acrescentamos foto e legenda à publicação original |
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